domingo, 8 de abril de 2012

Shame



Bonito, bem sucedido e desejado pelas mulheres, Brandon Sullivan, protagonista de Shame, filme lançado no festival de Veneza em 2011, era o que poderia se chamar de cara de sorte. Brandon vive uma vida solitária em Nova York, vai todo dia ao trabalho onde é admirado por seu chefe e tem um ótimo dom para conquistar as mulheres que deseja, porém, ao contrário do que as aparências mostram, Brandon é um homem envolvido em uma situação complexa e complicada de se lidar.

Todo dia o personagem se envolve sexualmente com diversas pessoas e é viciado em pornografia. Olhando por essa ótica, a vida do personagem não poderia se vista de maneira negativa, afinal o sexo é algo comum na sociedade, isso até o dia que o HD do computador do seu trabalho quebra devido a diversos vírus derivados de fotos e vídeos e sua irmã vai a seu encontro atrás de uma figura masculina presente. Dessa forma, o personagem tem sua vida virada do avesso e o leva a um espiral de situações alto destrutivas que levarão sua vida a verdadeiros extremos. O personagem, é viciado em sexo e consegue lidar cada dia menos com sua situação incomum. E é sobre esse tema que Shame, brilhantemente, se propõe a explicar.

O sexo, principalmente na década de 90, foi bastante glamourizado por diversos filmes de Hollywood como Instinto Selvagem e Assédio Sexual, em que as aventuras sexuais de Michael Douglas com Sharon Stone e Demi Moore eram retribuídas com mais prazer do que culpa. Shame é o total inverso desse estilo de produção, retrata com tons trágicos até que ponto um viciado em sexo pode chegar para satisfazer o seu prazer. Uma pergunta que Michael Fassbender, ator que dá vida a Brandon Sullivan, se fez, foi a seguinte, "como o sexo pode ser visto como um problema?". E Shame mostra, começando pelo título, as razões psicológicas que levam alguem a se condenar por ser viciado nessas práticas. O protagonista é um homem que aparentemente não tem muitas motivações na vida e não aparenta ser muito feliz, sua vida se resume a transar com o maior número de mulheres para tirar dali, aparentemente, o único prazer real que pode sentir. Totalmente mergulhado nos seus instintos sexuais, o personagem se sente invadido pela irmã, que quebra totalmente o seu estilo secreto de vida.

Nunca o sexo foi retratado de forma tão crua e realista no cinema como em Shame. O vício em sexo pode ser considerado um tabu e suas características sempre tenderam ao imaginário erótico para sua representação, talvez por isso, Shame pode se considerar um verdadeiro marco. Os níveis de decadência que Brandon e sua irmã chegam levam os dois atores que os interpretam, Michael Fassbender e Carey Mulligan, a atuações sublimes e tocantes. Fassbender, que levou o Leão de Ouro por sua atuação nesse filme, cria uma das atuações masculinas mais bem trabalhadas e bem desenvolvidas dos últimos anos, já Mulligan, prova que sua ótima atuação em Educação não foi mera sorte de iniciante e se mostra como uma das mais promissoras atrizes da nova geração. Steven McQueen, que dirigiu a produção, cria uma Nova York melancolica e com tons depressivos. Seu filme é baseado nos pequenos detalhes, nas palavras que não precisam ser ditas, na trilha sonora primorosa e na fotografia belíssima que apenas acentua os momentos que os personagens vivem.

Que um filme com um tema tão complexo e fora do comum tenha passado pelas portas de um estúdio como a FOX, já trona aplaudivel a garra e a entrega dos envolvidos no projeto.

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