terça-feira, 10 de abril de 2012

Minhas Mães e Meu Pai




 Família é um assunto que de forma recorrente é retratado no cinema. E o cinema independente, que é um craque em transportar para as telas problemas familiares, caso dos bens sucedidos Litte Miss Sunshine, Junebug, A Família Savage e Juno, adoram tratar com humor e mordacidade as relações de rancores e culpas presentes entre parentes próximos. Muitas dessas produções foram bem recebidas pelos críticos e criaram uma nova forma de fazer cinema, seja pela trilha sonora moderna, pelo roteiro cheio de dialógos rápidos e inteligentes ou também pela tendêndia a não se levar a sério, o cinema independente acabou virando uma indústria dentro da indústria e teve que repetir as velhas formas para se manter na ativa, assim como o cinema comercial. Depois da grande abertura do grandes estúdios dada ao cinema independente, criar uma história que pareça convicente e original virou uma tarefa de fogo para diretores e roteiristas "indies". Alguns filmes acabam caindo no clichê e outros conseguem superar a expectativa, caso de Minhas Mães e Meu Pai, filme lançado em 2010 que retrata de forma divertida a relação de um casal de lésbicas chegando a meia idade.

Nic e Jules, interpretadas brilhantemente por Annette Bening e Julianne Moore, são um casal de lésbicas que vivem juntas a muitos anos. Apesar de aparentarem ainda ser bastante felizes, a relação de ambas passa a esfriar e a cair na mesmice, a situação só piora quando os filhos de ambas vai a procura do doador de esperma que os gerou. Esperando encontrar um homem maduro, os jovens se deparam com um homem descolado e livre, e passam a viver cada vez mais momentos juntos com ele. Nic, a mãe mais madura e bem resolvida, cria uma campanha contra o novo "membro" da família, mas Jules, a mãe mais avoada, acaba olhando o pai de seus filhos com outros olhos, e em um momento de carência, passa a se relacionar sexualmente com ele, colocando em risco seu longo casamento e a estabilidade de seus filhos.

Representando essa verdadeira situação incomum, o filme foge do "lugar comum" do cinema independente e passa a pincelar seu roteiro com tons dramáticos e apresentar um retrato realmente realista não apenas de um casamento gay, mas de todas as famílias "normais". Seja pela carência provocada pela distância de um membro do casal, pela cobrança na hora de pagar as contas, pela forma de criar os filhos e também pela relação sexual que costuma dar uma esfriada com a chegada da menopausa. O filme convence pela sua visão realista sobre as relações familiares, mesmo pegando um exemplo "diferente" de família.

A diretora Lisa Cholodenko, que dirigiu um dos filmes mais aclamados pela crítica em 1998, o drama High Art, mostra sensibilidade e visão apurada ao retratar de uma forma nada apelativa ou afetada um casamento homossexual. Apesar de em determinados momentos apelar para mecanismos já conhecidos do cinema, a diretora consegue se esquivar e se sobressair ao "mais do mesmo". Outro defeito da produção talvez seja os diálogos que em alguns momentos não chegam a lugar nenhum. Mas mesmo com esses pequenos defeitos, o filme brinda o público com atuações perfeitas de todo o elenco. Julianne Moore está convicente como a sonsa Jules e apresenta bons momentos dramáticos, Mark Ruffalo consegue viver com espontaneidade o pai biológico dos filhos do casal de lésbicas, vividos pelos excelentes e promissores Mia Wasikowska e Josh Hutcherson. Já Annette Bening, que dá vida a racional Nic, brinda o público com uma atuação brilhante, com naturalismo verdadeiro e inteligência, a atriz cria com detalhismo apurado o retrato de uma mulher desesperada pelo medo de perder sua família.

Minhas Mães e Meu Pai pode não ser o filme brilhante que alguns críticos anunciaram, mas devido ao seu elenco brilhante e alguns momentos de deleite, se torna uma boa opção em relação a outras produções, sejam independentes ou comerciais. No fim das contas, todas as famílias são iguais.

7.5/10

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