domingo, 15 de abril de 2012

Forrest Gump



De tempos em tempos surge no cinema personagens destinados a se tornarem clássicos. Foi assim com Maria e Mary Poppins, ambas interpretadas por Julie Andrews na década de 60 e que marcaram uma geração inteira de espectadores, por retratarem na tela, uma figura que todos desejariam proximidade em suas vidas. The Sound Of Music e Mary Poppins foram dois sucessos estrondosos nos Estados Unidos e Julie Andrews se tornou ícone de uma geração, o mesmo aconteceu com Tom Hanks nos anos 90. Em 1993 ele protagonizou o primeiro filme que retratava uma vítima de HIV, graças a sua atuação nesse filme, Hanks foi carimbado como ator dramático e ganhou o Oscar, porém, foi apenas no ano seguinte que ele encontrou o papel que o iria colocar no panteão de grandes do cinema. Se Hanks já tinha conseguido grande projeção em 1988 com Quero Ser Grande, foi com Forrest Gump que ele saiu da categoria de apenas mais um ator de sucesso e virou o grande astro de sua geração, capaz de sempre aliar records de bilheteria com sucesso de crítica.

Forrest Gump retrata em tela um personagem destinado ao sucesso. Na infância Forrest Gump sofria de paralisia nas pernas e tinha retardamento psicológico, sua mãe faz de tudo para colocar Forrest ao lado de pessoas "normais", transa com o diretor da escola para ver o filho estudar ao lado de outras crianças e o aconselha todos os dias para não dar ouvidos a todos que dizem que ele "não pode fazer o que quiser". Quando cresce, Forrest entra na faculdade devido a suas habilidades na corrida, luta na guerra do Vietnã, vira representante do exército em um acordo de paz na China, vira milionário com a pesca de camarões e se torna em um herói nacional. Apesar de participar de diversos acontecimentos marcantes do seu país e conhecer diversos tipos de pessoa, Forrest sempre retorna seus pensamentos para Jenny, sua maior amiga de infância, que depois de ser estuprada pela pai quando criança, vai crescendo e representando todos os estereótipos americanos, cantora folk, hippie politizada, drogada da era disco e na fase final do filme, vítima da aids. No decorrer de um período de 30 anos que têm acontecimentos marcantes da história dos Estados Unidos como pano de fundo, Forrest e Jenny encontram-se e separam-se e tem suas vidas ligadas pelos lados opostos, enquanto ele representa o "orgulho americano" mesmo sendo considerado um idiota, ela se torna uma figura "fracassada" em sua fase adulta mesmo sendo uma pessoa intelectualmente perfeita. E é nesse ponto de vista controverso, que Robert Zemeckis encontrou sua maneira de criticar a sociedade americana com seus ideais de "perfeição" e "dignidade".

Forrest Gump se tornou um verdadeiro sucesso de bilheteria desde sua estréia. O filme retrata de forma tocante e em tom de fábula, um anti herói que vai contra todas as pequenas expectativas que a "sociedade patriarcal" tinham dado para ele. Apesar de em grande parte de sua projeção, Forrest Gump ser um filme "família" e um pouco moralista, no seu interior, guarda mais seriedade do que aparenta. Forrest é um personagem que vê o mundo sempre com beleza e inocência, e como o filme é narrado e feito sobre a visão que ele tem das coisas que se passam a seu redor, naturalmente, o filme leva em seu favor essa "pureza" infantil do personagem, dessa forma, Forrest Gump acaba agradando todos os tipos de público.

Robert Zemeckis, que tinha dirigido a trilogia De Volta Para o Futuro, faz ótimo uso de efeitos especiais em favor de se filme. No lançamento de Forrest Gump ele deu uma entrevista falando que o diretor David Lean, de Lawrence da Arábia, ficaria chocado ao perceber que nos anos 90 não teria mais obrigação de ficar uma semana no deserto a procura do melhor pór do sol para colocar em seu filme. Muitos não entenderam a declaração do diretor, mas basta assistir Forrest Gump para perceber a razão de suas palavras. Em vários momentos Forrest se encontra em situações históricas, e com o uso do computador, o diretor conseguiu criar com perfeição imagens que vão do encontro do protagonista com John Lennon até suas batalhas na guerra do Vietnã. Em Forrest Gump, Zemeckis se firma como o melhor diretor do cinema "fliperama" e em dirigir histórias com apelo global.


Tom Hanks, que dá vida ao inocente Forrest, está brilhante. Sua atuação é pontuada com delicadeza e inteligência. Ao construir um personagem que tinha tudo para cair na caricatura, Hanks brilha e triunfa, criando um herói épico e digno de figurar em diversas listas sobre os melhores protagonistas do cinema. Hanks carrega nas costas uma produção gigante auxiliado por um excelente elenco coadjuvante, Robin Wrigh que dá vida a Jenny, cumpre seu papel com dignidade e versatilidade e Gary Sinise ameaça roubar a cena como o Tenente Dan, que é salvo por Forrest na guerra e protagoniza uma das mais belas e simbólicas cenas do filme, onde ele nada e se purifica fazendo suas pazes com "Deus".


Um filme que representa os anos 90 perfeitamente bem. Independente de existirem filmes melhores e mais ousados ou criativos, Forrest Gump se torna um marco do cinema moderno, sua direção serviu de base e influência para diversos outros filmes feitos depois dele, caso de O Curioso Caso de Benjamin Button e sua narrativa, construída de maneira pura e sentimental, não desagrada o espectador e não se mostra forçado em nenhum momento. Ao contrário de filmes que fazem milhões de esforços para emocionar o público e não conseguem, Forrest Gump é um belo exemplo, de que com uma história simples de um herói nada comum, pode-se levar as lágrimas milhões de pessoas.

                                                     Forrest: Épico moderno



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