quinta-feira, 5 de abril de 2012

Coriolanus



William Shakespeare foi um dos primeiros dramaturgos a colocar em frente as idéias que motivaram o movimento modernista, que durou de 1500 até 1800, onde surgiram o renascimento e seguidamente o iluminismo. Várias peças de Shakespeare colocam em pauta a idéia de um homem em conflito consigo mesmo e também com o universo que o cerca, exemplos disso é Hamlet, Rei Lear e Macbeth, protagonistas que passavam a entrar em conflito com os novos tempos a partir de seus próprios pensamentos internos. O pensamento, a ousadia, a audácia, enfim, a modernidade sempre estiveram presentes na obra de Shakespeare.

Uma de suas obras mais conhecidas é Coriolanus, escrita em 1608 e que representava a vida de Caio Márcio, conhecido posteriormente como Coriolano, devido a sua vitória sobre os volscos, considerados traidores e personas non gratas em Roma. Depois de tomar a cidade Corioli, Caio Márcio torna-se uma das figuras políticas mais odiadas de Roma, onde suas opiniões passam a não ser respeitadas, e a nobreza, cada vez com mais medo, resolve exilá-lo em território dos Volscos, onde planeja sua vingança com o auxílio do seu inimigo, Aufidius.

Tragédia, dor, fúria e medo. Esses quatro elementos estão presentes em todos os momentos do texto, e a versão cinematográfica lançada ano passado com Ralph Fiennes como protagonista não faz feio em comparação com o roteiro original. A versão cinematográfica, a exemplo de Romeu + Julieta, lançado em 1996, usa o texto de Shakespeare e o transporta para a era moderna, mesmo assim, mantendo os diálogos originais, pertencentes a Inglaterra da época da Rainha Elizabeth I. As cenas das batalhas fazem lembrar produções recentes como Guerra ao Terror, e apesar do erro inicial, onde deixa o filme um tanto quanto confuso, a produção retorna o ritmo exatamente na hora que Caius Martius (Caio Márcio na versão do texto em inglês) se confronta com o povo raivoso de Roma.

Para viver esse protagonista de personalidade formidável, foi escolhido Ralph Fiennes, um dos atores ingleses mais versáteis dos últimos 20 anos. Talvez por ser familiarizado com os textos de Shakespeare, Ralph se torna o ponto alto de toda a produção, com uma atuação pontuada por momentos de fúria e rancor, e se firma aqui, como um dos maiores atores em atividade. O elenco feminino, que conta com Vanessa Redgrave e Jessica Chastain, consegue chamar atenção mesmo com a atuação feroz de Fiennes. Vanessa, que faz a mãe de Caius Martius, mostra uma atuação assombrosa, se firmando como talvez, uma das maiores atrizes vivas, e Jessica Chastain, uma das maiores revelações da atualidade, não se intimida a frente dos dois monstros, mostrando emoção e raiva em níveis similares. Gerard Butler, que faz o papel de Aufidius, sai totalmente apagado e irrelevante para a produção, diminuindo até a importância de seu personagem para a história.

Apesar dessa produção ter se tornado um pouco apagada na temporada de premiações do ano passado, se mostra uma excelente produção. Que com um texto primiroso criado por um gênio, consegue parecer, ainda, muito atual e moderno.

                                          Fiennes: Domínio de cena

                                          Vanessa: Superioridade em talento

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