quarta-feira, 30 de maio de 2012

Coração Selvagem



Em seus mais de 30 anos de carreira, o diretor David Lynch registrou apenas dois filmes mais próximos do cinema comercial americano. Eles foram O Homem Elefante e Veludo Azul, essas duas produções continuaram mantendo a personalidade absurda do diretor, porém, ao mesmo tempo mostrava uma linguagem mais bem amarrada e explicativa. Em 1990, o diretor chegou ao seu auge, ao lançar no mesmo ano a série Twin Peaks e o filme Coração Selvagem, ambos foram sucessos de crítica e público e representaram para o diretor o fim da revisão de seus filmes pelos estúdios. Nesse ano, Lynch se tornou livre para fazer os filmes que queria e apresentar o final ideal que sua mente tinha criado.

Coração Selvagem conta a história do casal Sailor e Lula, os dois são jovens, bonitos, rebeldes e estão totalmente apaixonados um pelo outro. Depois de assassinar um rapaz negro que tentou assediar sua namorada, Sailor passa um período na cadeia, mas logo retorna contato com Lula, os dois passam a viajar e se distanciar na diabólica mãe de Lula, Marietta Fortune, que criou um grande plano para assassinar o namorado da filha. Porém, no decorrer da história, vários pontos escondidos na narrativa passam a surgir e tentam levar o espectador ao entendimento do filme, mas ao mesmo tempo, Coração Sevagem cai no surrealismo e no imaginário, principalmente quando a história passa a ser contata pela ótica de Lula, que imagina sua vida como se estivesse no filme O Mágico de Oz.

Engane-se quem pensa que Coração Selvagem e um filme fácil e feito para as massas, David Lynch guardou nessa produção a sua personalidade mais profunda e que posteriormente iria ser apresentada de forma bem mais aberta em Cidade dos Sonhos. O filme não se prende a uma narrativa comum e mostra diversos furos em tela, a história é mostrada pela visão que os personagens tem dos acontecimentos, dessa maneira, Coração Selvagem se torna um dos melhores e mais criativos filmes feitos nos anos 90. Lynch manteu sua parceria com o produtor musical Angelo Badalamanti, e o resultado é uma das trilhas mais alternativas de um filme do diretor. Sexo, violência e rock and roll, esses foram os três elementos principais que o diretor usou nessa produção.

Nicolas Cage e Laura Dern, ambos nos auges de suas carreiras, mostram química e conexão com seus personagens, porém, o filme é totalmente de Diane Ladd. Usando de uma linguagem que iria ser aprofundado em Cidade dos Sonhos, Lynch escolheu propositalmente a atriz para viver a vilã Marietta Fortune, para quem não sabe ela é mãe na vida real de Laura Dern, e voltou ao estrelato depois que sua filha estourou no mundo do cinema, dessa forma, a relação das duas fora e dentro da tela é de competitividade.

Coração Selvagem é um dos grandes clássicos do cinema moderno e com toda certeza mereceu toda a grande atenção que recebeu por parte da crítica e do público. O filme merece ser colocado facilmente na lista de produções que definiram e representaram uma geração, pois além de sua grande qualidade narrativa e visual, ditou moda com músicas, roupas e comportamentos, ou seja, um pequeno fenômeno da cultura pop, mas sem apelar para a massificação.

9.0/10

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Anticristo



Lars Von Trier nunca se preocupou muito em seguir a tendência cinematográfica moderna, criador das trilogias "golden heart" e "american", o diretor criou polêmica e controversia na indústria pelas linguagens nada comuns de seus filmes. Quando a grande maioria dos críticos acharam que ele tinha chegado ao limite do seu experimentalismo e de sua técnica com Dogville e Manderlay, o diretor supreendeu com a sua mais nova empreitada. Anticristo, lançado em 2009, conta por um viés totalmente masoquista e despudorado como a humanidade lida com o sentimento de perda existente desde que os seres vivos passaram a formar sua personalidade no paleolítico médio. Pelo que foi mostrado nessa produção e em seu filme seguinte, Melancholia, o diretor está investindo mais em efeitos especiais e tenta mostrar, em diversas profundidades, protagonistas vivendo situações limites de suas existências.

Um casal perde de maneira trágica o seu filho pequeno e a mulher passa a lidar com o seu luto de uma forma extrema e diferente. O marido, inicialmente assustado com o comportamento da esposa, tenta fazer um tratamento alternativo para tirá-la de sua situação crítica. Levando-a para locais que a interligam com a criança, os dois passam a viver momentos surreais e se punem sexualmente por arrependimentos passados.

O filme tem um ritmo meio lento, ao investir mais no diálogo do que nas imagens, o Anticristo passa a ser, em determinado momento, uma produção monótoma. Sem preça de contar sua história, o diretor, assim como já tinha feito em Melancholia, puxa ao extremo as atuações de seus dois protagonistas, e ambos chegam aos seus auges. Quando a produção ganha ritmo e Trier passa a se focar em mostrar belas cenas, o Anticristo realmente mostra a que veio e se torna um filme bastante acima da média do que os cineastas modernos andam criando. Se o filme tem um ponto alto, esse ponto é o roteiro. Carregado de simbolismos e de momentos lúdicos, o Anticristo causou polêmica pela sua história, mas o que poucos se prenderam a perceber, é que o filme é na verdade uma fortíssima história sobre a condenação dos instintos impostos pelo cristianismo em anos de existência aos seres humanos.

Charlotte Gainsbourg e William Deffoe chegam ao extremo de suas atuações e entram em um campo interpretativo que talvez nenhum ator "sério" teria coragem de entrar. Charlotte, que venceu a Palma de Ouro do Festival de Cannes, cria uma personalidade polêmica, forte e atormentada para sua personagem e se destaca de forma grandiosa, sua atuação é com certeza uma das melhores dos últimos anos e mereceu toda a atenção que teve. Quantas atrizes conseguiriam prender os críticos a sua intepretação mesmo fazendo cenas de sexo e mutiliação? Charlotte Gainsbour conseguiu, e com excelente competência.

O Anticristo não é, definitivamente, um filme para ser assistido e entendido pela grande massa. Sua história é abertamente "complicada" e derivada da cultura erudita, ou seja, sua classificação não corresponde aos filmes feitos para o grande público, mas mesmo assim, não deixa de ser uma produção potente e envolvente, assim como a grande maioria dos outros filmes do diretor. Talvez por sua coragem, Lars Von Trier nunca tenha sido reconhecido com um indicação ao Oscar de melhor diretor, mas sua genialidade é acima disso.

8.5/10

domingo, 20 de maio de 2012

Elizabeth e Elizabeth - A Era de Ouro





A rainha Elizabeth I passou para a história como uma das maiores figuras políticas e religiosas de todos os tempos. Centrada no meio de uma família absurdamente desestruturada, Elizabeth era filha de Henrique, grande rei protestante e que tinha um grande apetite  casamenteiro, Henrique se uniu com oito mulheres diferentes em toda a sua vida, Elizabeth é fruto da segunda união, com Ana Bolena, morta anos depois a pedido do próprio Henrique. Elizabeth cresceu como filha bastarda e bastante distante do trono, devido a morte de um de seus irmãos e a problemas políticos e religiosos que impedira sua irmã, Maria, a permanecer no trono, Elizabeth virou rainha da Inglaterra ainda jovem e se deparou de cara com grandes problemas religiosos existentes. Elizabeth, assim como o pai, era protestante, e lutou contra a instauração da religião católica, fora que teve que lidar com as intrigas do trono.

Representar uma figura tão importante foi algo que o cinema sempre se prestou a fazer, e em 1998 essa ideia atingiu o seu ápice, com o filme Elizabeth, que trazia a até então desconhecida Cate Blanchett no papel principal vivendo a soberana inglesa. Ao contrário da minissérie da BBC de 1972 e o filme Mary, A Rainha da Escócia do mesmo ano, que trazia a rainha por uma ótica mais dura, o filme de 1998 se preocupou em tentar falar da rainha por um viés mais humano, tentando mostra-la como uma jovem despreparada para o trono e que teve que se adaptar a sua colocação. Passada para a história como rainha virgem, a Elizabeth do filme de 1998, tinha optado por essa ideia através de uma desilusão amorosa, ou seja, assim como em todos os filmes modernos, o romantismo estava presente também no filme, apesar desse estilo artístico ter surgido apenas no século XVIII. Esse Elizabeth de 1998 acabou sendo um dos responsáveis pela adoração que a Academia de cinema acabou depositando na história da monarquia inglesa e foi indicado a seis Oscars, fora isso, acabou gerando uma continuação lançado em 1997, e intitulado de A Era de Ouro.

A Era de Ouro pula alguns anos da história da rainha e representa um dos momentos mais críticos de seu reinado. Elizabeth vivia um bom período econômico e cultural em seu país, mas o catolicismo estava tomando conta do resto da Europa através da inquisição e não aceitavam os ideais protestantes impostos na Inglaterra. Elizabeth teve contra si o rei espanhol e ex cunhado, que queria derrubá-la do trono a todo o custo, no mesmo período, também chegou ao auge a rivalidade de Elizabeth com Mary Scoot, a rainha da escócia. Mary Scoot, da dinastia Tudor, acabou atentando contra a vida da rainha inglesa, foi condenada por traição e acabou tendo o pescoço cortado, esse fato acabou gerando a invasão da Espanha na Inglaterra, que acabou em derrota marítima em cima da Espanha e grande queda comercial. O segundo filme, assim como o primeiro, fala da rainha por uma ótica mais humana e também tenta concentrar a história em mais um romance mal sucedido da soberana. A fotografia, a montagem, a direção de arte e os figurinos do filme são excelentes e bastante fiéis a realidade da época, mas o roteiro apresenta diversos furos históricos e acabou desagradando cristãos e protestantes. Não se sabe se são verídicas as cenas do arrependimento de Elizabeth diante a morte de Mary Scoot e também as que mostram a rainha pedindo um beijo a um súdito. Esses momentos acabaram desagradando diversos críticos.  A Era de Ouro é mais uma representação comercial do cinema e que tenta criar a história da rainha por uma ótica mais comum.

Cate Blanchett, que vive a mesma Elizabeth nos dois filmes, tem uma competente e bem estruturada atuação  em ambas as produções, aproveitando que a era de Elizabeth acabou gerando o nascimento de diversos artistas, a atriz acabou pintando sua atuação com traços renascentistas. O resto do elenco está bastante competente nos dois filmes e se saem bem em suas representações.

Elizabeth e A Era de Ouro são duas das maiores super produções do cinema inglês a retratar a vida de sua família real, dois filmes impecáveis visualmente e que criam um grande sentimento expiatório na plateia, ao mostrar a rainha em momentos críticos de sua história política e pessoal. Mas que se pecam ao mostrar a história da rainha por um viés comum e as vezes até mentiroso, se apegando a criar momentos não verídicos para incrementar a história da soberana inglesa.

Elizabeth 7.5
Elizabeth - A Era de Ouro 7.0

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Melhores atuações femininas dos anos 50!

1- Gloria Swanson por Crepusculo dos Deuses



Gloria Swanson, grande estrela do cinema mudo, voltou ao centro da indústria em 1950 no papel da protagonista no filme Crepusculo dos Deuses, uma das maiores obras primas do diretor Billy Wilder. Vivendo um papel bastante semelhante a sua realidade na época, uma atriz esquecida, Gloria se mostra soberba, ao interligar acontecimentos de sua própria história com o surrealismo gritante do filme. Mesmo tendo uma atuação fortíssima e brilhante, a atriz perdeu o Oscar, em uma ação surreal da academia.

2- Bette Davis por A Malvada



Bette Davis, maior atriz de todos os tempos, conseguiu sua atuação definitiva como Margot, grande estrela teatral do filme A Malvada. Vivendo uma estrela que se vê ameaçada por uma oportunista atriz em ascensão, Bette brilha e reluz em cena com seu talento grandioso e carisma assustador. Protagonista de um dos maiores clássicos do cinema, Bette criou uma das melhores personagens femininas nesse filme e foi amada tanto pela crítica como pelo público. Mesmo estando em um filme recordista de indicações ao Oscar, a atriz não levou sua sonhada terceira estatueta, indo para casa de mãos vazias ao lado de Gloria Swanson, pelo menos Bette teve a sorte de vencer a Palma de Ouro do festival de Cannes.

3- Judy Garland por Nasce uma Estrela



Maior estrela juvenil que o cinema já teve, Judy Garland conseguiu a melhor atuação de sua carreira em Star Is Born, grande sucesso de crítica e público de 1954. Vivendo uma estrela que sobe na carreira enquanto seu interesse amoroso entra em decadência, Judy brilha nos números musicais e se mostra mais brilhante ainda nos momentos dramáticos. A atriz desde o começo foi a franca favorita para vencer o Oscar de melhor atriz, já que tinha sido seu grande retorno ao mundo cinematográfico, mas a academia preferiu o frescor jovem de Grace Kelly e a premiou, em um dos momentos mais injustos da história do prêmio.


4- Vivien Leigh por Uma Rua Chamada Pecado



Vivien Leigh, estrela do maior clássico da história do cinema (...E o Vento Levou), voltou a indústria em grande estilo como a protagonista do clássico Uma Rua Chamada Pecado. No papel de Blanche, Vivien arriscou sua paz mental e se dedicou de corpo e alma a sua personagem, o resultado é uma interpretação forte e soberba, digna de tirar o fôlego de qualquer cinéfilo. Blanche, que foi vivida oficialmente por Jessica Tandy no teatro, virou um personagem clássico do mundo do cinema na pele de Vivien Leigh, que se eternizou para sempre como uma das maiores atrizes de todos os tempos. A atriz venceu o Oscar, em uma das premiações mais justas da história da academia.

5- Shelley Winters por Um Lugar ao Sol



Shelley Winters subiu ao estrelato e virou uma das atrizes mais requisitadas dos anos 50 depois de sua atuação brilhante em Um Lugar ao Sol. Vivendo uma jovem que tem sua morte planejada pelo amante, Shelley rouba a cena dos dois protagonistas do filme, Elizabeth Taylor e Montgomery Clift,  e acabou sendo indicada ao Oscar da categoria de protagonista e quase levou a estatueta para casa. A atuação de Shelley é forte, emotiva e desesperadora na mesma medida, mesmo não levando a estatueta, acabou sendo premiada duas vezes posteriormente na categoria de coadjuvante.

6- Anna Magnani por A Rosa Tatuada



No papel de uma viúva que se vê envolvida com um caminhoneiro, Anna Magnani ganhou o Oscar e o respeito de todos os críticos. Bastante intensa e carregada em sua atuação, Anna chama a atenção devido a fortíssima carga emocional que leva em sua atuação.

7- Elizabeth Taylor por Gata em Teto de Zinco Quente



Elizabeth Taylor, uma das maiores estrelas da história do cinema, passou a ser realmente vista e respeitada como atriz na sua atuação forte no filme Gata em Teto de Zinco Quente. Devastadoramente sensual, Liz cria um excelente retratado de uma mulher acuada pelo distanciamento do marido, brilhando em cena e desaparecendo de sua persona pública. Elizabeth Taylor se tornou a maior estrela de Hollywood não apenas por sua beleza, mas também porque sabia atuar... e como!

8- Deborah Kerr por A Um Passo da Eternidade



Deborah Kerr conseguiu o papel de sua vida vivendo uma das maiores e mais inesquecíveis protagonistas femininas de um filme americano. Ousada, intocável, sensual e intensa, Deborah se tornou uma das estrelas maiores de Hollywood e uma das atrizes mais respeitadas do mundo cinematográfico. No papel da esposa de um militar na época da segunda guerra mundial, Deborah não se prende ao papel de diva e acaba partindo para um lado mais humano e natural, o que a torna ainda mais incrível ao olhos do público.

9- Shirley Booth por A Cruz da Minha Vida



Shirley Booth, atriz desconhecida do grande público, roubou a cena nos anos 50 com sua atuação emocionante no drama A Cruz da Minha Vida, pelo qual ganhou o Oscar de melhor atriz. No papel de uma mulher devastada pela perda da sua filha, Shirley se mostra forte e destemida, principalmente nos momentos mais densos do roteiro, onde ela consegue lidar com maestria com sua personagem. Uma atuação grande e que merecia ser mais lembrada pelos cinéfilos.

10- Anna Magnani por A Fúria da Carne


Anna Magnani conseguiu seu segundo pico nos anos 50 como a protagonista do filme A Fúria da Carne, de George Cukor. Como uma italiana levada aos Estados Unidos para se casar com o marido viúvo de sua irmã, Anna constrói uma atuação surreal, indo totalmente ao oposto de sua centrada atuação em A Rosa Tatuada.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

A Professora de Piano



Corre uma lenda no meio cinematográfico, que uma vez, o ator Laurence Olivier viu Dustin Hoffman usando de milhões de artifícios para incorporar seu personagem. Vendo o ator americano se torturando, Olivier disse "Dustin, porque você simplesmente não atua?". Essa frase de um dos maiores atores ingleses, cabe perfeitamente bem para descrever o trabalho de Isabelle Huppert no filme A Professora de Piano, sua primeira e potente parceria com o diretor Michel Haneke. Isabelle não tem a elegância de Catherine Deneuve, não tem a intensidade de Isabelle Adjani e nem o star quality de Juliette Binoche, mas mesmo assim, Isabelle é hoje a maior atriz francesa viva, e uma das maiores do mundo, A Professora de Piano foi o filme chave para a divulgação do seu nome para públicos mais diversos, já que antes ela fazia sucesso apenas entre cinéfilos e fãs de filmes cabeça.

A Professora de Piano conta a história de Erika. Mulher recalcada e presa em uma infância grotesca, Erika vive com sua mãe uma relação surreal, as duas dividem a mesma cama e as vezes chegam até a se agredir, fora de casa, Erika é uma professora respeitadíssima de piano, mas também é bastante famosa por destruir carreiras e sonhos alheios. Fora do mundo familiar e das artes, ninguem sabe que Erika é uma mulher reprimida e acabou criando hábitos sexuais bizarros, que vão da violência física até o voyeurismo. Quando se apaixona por um de seus alunos, Erika passa a se sentir atraida e ao mesmo tempo enojada, criando entre ela e o parceiro uma grande barreira que só irá ser quebrada com as revelações de seus instintos mais escondidos.

A Professora de Piano pode ser colocado facilmente ao lado de Repulsa de Sexo como um dos filmes mais crus a falarem sobre a sexualidade humana nos seus instintos mais baixos. Michael Haneke se mostrou gênio ao pegar como personagem principal de seu filme uma figura que passaria despercebida na sociedade e considerada normal. Fora isso, também mostra grande competência ao criar diálogos pouco vistos e que se ligam entre as duas vertences do filme. Sem usar trilha sonora ou jogo de imagens ousados, o diretor consegue criar tensão e sentimento expiatório na platéia.

Isabelle Huppert, com seu estilo mignon e sardento, cresce de forma grandiosa em sua atuação. A atriz se mostrou corajosa ao topar viver uma personagem que talvez suas colegas de profissão não topariam. Mesmo contando com a ajuda de um personagem carregado de simbolismos e emoções, Isabelle vai além e cria uma personalidade complexa e polêmica para Erika, criando uma das melhores intepretações da década passada e também um dos melhores retratos psicológicos já mostrados no cinema.

A Professora de Piano é um filme interessante e ousado, sua genialidade está em seu roteiro criativo e pelo fato de pegar uma grande atriz, e levá-la até o limite mais baixo da humilhação. Um momento rico e que merece ser sempre lembrado do cinema, uma das grandes obras da década passada.

9.5/10

terça-feira, 15 de maio de 2012

As Invasões Bárbaras



Na parte franco canadense do continente americano, um professor universitário vive seus últimos momentos de vida devido a um câncer. Mulherengo e com um longo histórico de traições, ele se depara com o filho crescido e yuppie, que se desloca de Londres para tentar ajudar o pai. A relação dos dois, que nunca foi um mar de rosas, se mostra estremecida e o jovem tenta conectar o pai com os velhos amigos acadêmicos. Reunidos depois de um longo período, a ex turma passa a relembrar de momentos mágicos de suas vidas, usando e abusando de diálogos intelectuais para tentar decifrar o declínio do império americano, tendo como pano de fundo o ataque terrorista de 11 de Setembro.

Seja no cinema americano ou inglês, a velha história de uma turma reunida depois de longos anos devido a doença ou a morte de um membro do grupo, já foi usada por anos a fio. O exemplo mais vivo na memória coletiva é O Reecontro, de 1983, que contava de forma bem característica do cinema americano a história de uma turma de amigos vivenciando a pós morte de um elo principal na amizade de todos, e também Para o Resto de Nossas Vidas de Kenneth Branagh, que contava a moda inglesa retratos de ex jovens prodígios depois de anos de distância. As Invasões Bárbaras não faz bem parte desse segmento cinematográfica, é na verdade uma continuação de O Declínio do Império Americano de 1986, que mostrava de forma bastante "cabeça" a conversa de quatro professores universitários em relação a política, sexo e relacionamentos no geral.

As Invasões Bárbaras mantém intacta sua personalidade original, apesar de contar uma história emocionante e feita para ser acessível para o grande público, em nenhum momento parte para o lado comum do cinema e também não tenta ser sentimental ou piegas, muito pelo contrário, continua a mostrar uma visão dura em relação ao surgimentos das sociedades como um todo. O diretor Denys Arcand não usa de grandes acontecimentos para dar o tom de seu filme, cria em todo seu projeto um ar de simplicidade bastante convicente, sem perder em nenhum momento o seu foco principal, o diretor filme como se fosse um escritor criando um livro.

O elenco corresponde a altura o ótimo roteiro. Os nomes de As Invasões Bárbaras são os mesmos do filme anterior, com excessão de Stephane Rousseau e da excelente Marie Josée Croze, que rouba a cena no filme vivendo a filha viciada de uma das membras da turma de amigos, pelo seu papel nesse filme, ganhou o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes.

Um filme inteligente, forte e comovente, sua cronologia não é muito comum no cinema americano e guarda mais similaridades com o cinema francês, mas mesmo assim vale a conferida.

7.5/10

domingo, 13 de maio de 2012

Melhores atuações femininas dos anos 60!

1- Elizabeth Taylor por Quem Tem Medo de Virginia Woolf?


Maior estrela do cinema nas décadas de 50 e 60, Elizabeth Taylor conseguiu o pico maior de sua carreira na pele da protagonista do filme Quem Tem Medo de Virginia Woolf?, no qual vivia uma mulher vulgar lidando com o seu casamento falido e problemático. Além de passar por uma transformação física muito grande, a atriz também construiu a personalidade de sua personagem com traços complexos e soberbos. Uma atuação forte, atemporal e fora dos parâmetros, uma aula de intepretação.

2- Vanessa Redgrave por Isadora


Maior atriz viva de língua inglesa, Vanessa Redgrave conseguiu uma atuação sem limites no filme Isadora, cinebiografia da bailarina Isadora Duncan, que com suas danças ousadas, provocou uma grande revolução nas artes. Além de mostrar bastante competência nas cenas de dança, Vanessa também conseguiu brindar o público com uma carga dramática densa e pesada, chegando ao ápice da sua até então, curta carreira. Premiada no festival de Cannes por sua atuação, Vanessa não necessita de prêmios para comprovar seu brilhantismo em Isadora.

3- Bette Davis por O Que Terá Acontecido a Baby Jane?


Maior atriz da história do cinema, Bette Davis conseguiu sua última indicação ao Oscar pela vilã do filme O Que Terá Acontecido a Baby Jane?. Atriz experiente em viver mulheres de má índole, Bette brilhou por construir uma personalidade densa e complexa para sua personagem, indo totalmente ao oposto das vilãs comuns do cinema. A atriz infelizmente não venceu o Oscar, mas sua atuação se tornou cada vez mais lembrada com o passar dos anos.

4-Audrey Hepburn por Um Clarão nas Trevas



Audrey Hepburn ficou eternizada na história do cinema por sua elegância e seu refinamento, mas poucos sabem que em sua carreira, a atriz conseguiu uma atuação poderosíssima em Um Clarão nas Trevas. Vivendo uma cega passando por um assalto, Audrey brinda o público com a melhor atuação de sua carreira e uma das melhores de todos os tempos, chegando ao máximo do desespero. Seria lindo vê-la vencer seu segundo Oscar por essa atuação, o que acabou não acontecendo.

5- Anne Bancroft por A Primeira Noite de Um Homem


Atriz respeitada e dona de um Oscar e um Palma de Ouro, Anne Bancroft chegou ao auge de sua carreira vivendo Mrs. Robinson do filme A Primeira Noite de um Homem. Mostrando sensualidade, carisma e talento, Anne conseguiu construir uma personagem icônica, que marcou para sempre o mundo do cinema. Mostrando todos os traços melancôlicos de sua personagem, Anne conseguiu ser soberba e atemporal, uma atuação que não envelhece.

6- Faye Dunaway por Bonnie & Clyde


Faye Dunaway conseguiu chegar definitivamente ao estrelato pelo filme Bonnie & Clyde, no qual vive o papel de Clyde, uma criminosa que existou nos EUA durante a época da grande depressão. Bela e carismática, a atriz não se acomodou ao posto de diva do cinema e criou uma forte e grandiosa atuação para sua personagem. Outro belo exemplo de atuação atemporal e fora dos padrões.

7- Jane Fonda por A Noite dos Desesperados


Maior estrela de Hollywood da década de 70, Jane Fonda começou a ser realmente respeitada como atriz por causa de sua atuação grandiosa no filme A Noite dos Desesperados. Nos Estados Unidos da década de 30, quando muitas pessoas ficaram na probreza, uma mulher desesperada passa a participar de concursos de dança que premiam quem sair por último. É através desse roteiro que Jane brinda o público com uma das melhores atuações da década de 60, emotiva e forte ao mesmo tempo.

8- Sophia Loren por Duas Mulheres


Maior estrela do cinema italiano, Sophia Loren conseguiu se tornar uma das primeiras atrizes extrangeiras a serem premiadas no Oscar. Para entender o porque, basta apenas assistir o filme Duas Mulheres, onde ela brinda o público com uma atuação brilhante como uma mulher desesperada vivendo em um mundo injusto. Grandiosa e intensa, Sophia está soberba em Duas Mulheres.

9- Julie Andrews por A Noviça Rebelde


Julie Andrews se tornou a atriz mais rentável do cinema americano na década de 60, por Mary Poppins e principalmente por A Noviça Rebelde. No papel da noviça Maria, Julie dá uma das maiores e melhores amostras de talento e carisma na história do cinema. Leve, espontânea e graciosa, assim pode ser caracterizada a atuação de Julie nesse clássico, uma atuação que marcou para sempre várias gerações.

10- Katharine Hepburn por Longa Jornada Noite Adentro


Uma das atrizes mais versáteis da história do cinema americano, Katharine Hepburn conseguiu o pico maior de sua longa carreira no filme Longa Jornada Noite Adentro. Criando o melhor retrato sobre o alcoolismo no cinema, Katharine mostra uma carga dramática acima da média e prova por A + B o respeito gigante que recebeu dos críticos e votantes do Oscar.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

If These Walls Could Talk 2



Aproveitando o sucesso do telefilme If These Walls Could Talk, lançado em 1996, o canal HBO criou uma continuação, só que dessa vez usando outro tema polêmico, se no primeiro o assunto central era o aborto, agora o lesbianismo dava o tom na história. Da mesma forma que aconteceu no filme anterior, o filme foi dividido entre três histórias que se ligam por um ponto em comum, e dirigidos por Jane Anderson, Martha Collige e Anne Heche.

A primeira parte do filme, retratado no ano de 1961, fala sobre um casal de lésbicas idosas, aparentemente felizes e juntas a um bom tempo, a alegria acaba quando Abby morre e deixa sua companheira Edith sozinha, a senhora se depara com a família mesquinha da ex companheira e tenta enfrentar a solidão. A segunda parte se centra no ano de 1972, no auge da revolução sexual, Linda, uma jovem ligada ao movimento feminista, conhece Amy em um bar e provoca a raiva de suas amigas, já que Amy tem um estilo de vestir masculizado e vai contra os ideais o "movimento". A terceira parte adota um tom mais leve e conta a história do casal Fran e Kal, envolvidas em um processo de gravidez.

If These Walls Could Talk 2 é um excelente filme sobre o mundo gay e não se mostra apelativo em nenhum momento. As três diretoras em questão conseguem se sair bem em um mundo que elas próprias são próximas, e conseguem sincronia entre si, já que todas as três partes do filme mantem a qualidade. No fim das contas as três histórias podem ser usadas facilmente como bandeira pelo fim do preconceito, tratando de forma limpa e tocante três momentos da sociedade, e como elas viam um único comportamento humano de maneiras diferentes.

O elenco inteiro está excelente, na primeira parte, Vanessa Redgrave rouba a cena e brinda o público com uma atuação belíssima e emocionante. Na segunda parte Michelle Williams e Chloe Sevigny vivem de maneira natural um casal jovem lutando contra os preconceitos do próprio mundo gay. E para terminar o filme com chave de ouro, Sharon Stone e Ellen DeGeneres brincam em cena com química e humor.

Um belo e essencial filme. A forma respeitosa com que o tema é tratado é belíssimo e merece os aplausos do público.

8.0/10

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Maldito Coração



Atriz de personalidade forte e temperamento explosivo, Asia Argento nunca pertenceu a linguagem comum do cinema. Seus papéis sempre foram escolhidos a dedo, enquanto suas companheiras de profissão iam para o lugar comum, Asia partia para o caminho oposto, escolhia as personagens fortes, controversos e obscuros. Filha do diretor Dario Argento, Asia carrega no sangue a profissão e dirigiu seu primeiro longa em 2003, era de se esperar que a então diretora escolhesse uma história a altura de sua personalidade, mas Asia foi além e resolveu dirigir um filme que até os diretores mais renomados teriam dificuldade de filmar. Usando de um livro do escritor JT LeRoy´s (segundo alguns, uma autobiografia), Asia arrebentou a porta do cinema mainstream e apresentou uma obra forte e excêntrica.

Jeremiah, é tirado da casa de seus pais adotivos e volta a morar com a mãe, se no começo os dois chegam a ter uma relação complicada, logo em seguida eles se apegam de forma forte e emotiva. O garoto, que era comportado e correto, passa a sugar a personalidade da mãe e passa a ter experiências absurdas para sua idade, vivendo no meio de criaturas do underground e tidas como escória da sociedade, o jovem Jeremiah chega ao ápice de um curto período de vida.

Asia Argento, sem se preocupar com cronologia ou linguagem cinematográfica, usa e abusa de momentos absurdos para dar o tom de seu trabalho. Ao invés de atrapalhar, esses efeitos apenas ajudam a elevar o filme, se nas mãos de outro diretor a produção viraria um dramalhão, nas mãos de Asia vira um filme moderno, inovador e belo. Não bastando apenas sua boa direção, Argento ainda brinda o pública com uma das suas contumeiras atuações incríveis, tanto ela como os garotos que dão vida a Jeremiah brilham em cena, os atores mirins são um melhor que o outro.

Maldito Coração é um filme incrível e que merecia bem mais atenção do que recebeu. Uma pequena e forte amostra do que cineastas ousados podem criar.

 9.0/10

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Cidade dos Sonhos



No Oscar 2002, Whoopi Goldberg, mestre de cerimônia do evento, começou a premiação com a seguinte frase "está noite vai ser longa, mas não tão longa o suficiente para entender o novo filme de David Lynch", a piada faz sentido, o diretor estava indicado na categoria máxima de sua profissão na noite, e também explica a grande comoção que o filme Cidade dos Sonhos criou entre os cinéfilos. Fosse ele o mais antenado ou intelectual, saia do cinema com um grande acento de interrogação em cima da cabeça. Jornais e sites especializados criaram até promoções entre leitores para tentar desvendar o grande segredo por trás da história mostrada no filme, até o próprio diretor embarcou na onda e escreveu um artigo mostrando 10 dicas que supostamente facilitariam o entendimento da produção, elas eram...

  1. No começo do filme, antes dos créditos, duas pistas são reveladas.
  2. Fique atento quando aparece o abajur vermelho.
  3. Qual o título do filme, para qual o personagem Adam Kesher está realizando teste de elenco? Ele será mencionado mais uma vez durante o filme?
  4. O acidente é um importante acontecimento no filme. Onde ele acontece?
  5. Quem entrega a chave e porquê?
  6. Fique atento para o roupão, o cinzeiro e a caneca de café.
  7. Qual mistério é revelado no palco do "Club Silencio"?
  8. Somente o talento de Camilla pode ajudá-la?
  9. Fique atento para o objeto que está nas mãos do estranho homem que vive perto da lanchonete "Winkie"!
  10. Onde está tia Ruth?

Cidade dos Sonhos conta primeiro a história de duas mulheres, Betty e Rita, a primeira é uma aspirante a atriz que vai a Los Angeles atrás do seu sonho de virar uma estrela famosa e reconhecida pelo seu talento, já a segunda, Rita, é uma morena estonteante que parece ser o alvo central de um plano que envolve a indústria cinematográfica. Desmemoriada e acuada, a morena entra na casa de uma senhora e acaba conhecendo Betty, as duas passam a nutrir um apego gigante uma pela outra e tentam desvendar todo o mistério por trás dos acontecimentos da vida de Rita, enquanto a história se envolve por uma nuvem de mistério e surrealismo. Quando o espectador acha que a história está próxima de ser explicada, ocorre uma verdadeira mudança de roteiro e os personagens acabam se revelando em outras personalidades, mostrando que o mistério envolvendo o filme está longe de ser desvendado.

David Lynch, que tem no seu currículo obras de arte como O Homem Elefante, Veludo Azul, Coração Selvagem e a série Twin Peaks, chegou ao auge de seu experimentalismo e excêntricidade com Cidade dos Sonhos. O filme que foi inicialmente um projeto para a televisão, acabou sendo considerado difícil pelos produtores da rede ABC, o diretor guardou o projeto e o lançou em 2001 no festival de Cannes, vencendo o prêmio de melhor diretor. Lynch parece querer em Cidade dos Sonhos, criar uma obra impactante e bebe da fonte do diretor Billy Wilder no filme Crepúsculo dos Deuses, assim como o grande mestre do cinema americano, David usa da metalinguagem do mundo do cinema se aproveita de coincidências que apenas ajudam a apimentar o seu roteiro. Naomi Watts, depois de diversas tentativas frustradas de estourar em Hollywood, foi descoberta pelo diretor através de um curta metragem criado pela própria e lançado no festival de Sundance, na história mostrada, Naomi vivia o papel de uma atriz lutando para ser descoberta por diretores consagrados. O próprio diretor se inspirou em fatos vivenciados por ele, ao narrar a história de um diretor que é forçado a escolher a atriz favorita do estúdio para seu filme. Esses pequenos detalhes ajudam a entender ainda mais a história por uma ótica não apenas externa, mas também interna.

Naomi Watts, que dá vida a praticamente dois personagens no filme, mostra sua ambição grandiosa em se transformar não apenas em uma estrela de Hollywood, mas também em uma grande atriz, assim como sua personagem, ela consegue transparecer todos os momentos de tensão na tela com maestria e originalidade. Sua companheira de tela, Laura Harring, uma morena que parece ter sido tirada de um filme noir dos anos 40, consegue ir além do posto de beldade do filme e brilha em cena com uma personagem controversa.

Cidade dos Sonhos é um filme rico em detalhes, a atenção do espectador é necessária para seu entendimento. Cada frase, cena, objeto ou expressão representam uma coisa distinta. Uma obra forte, ousada e atemporal.

10/10

terça-feira, 8 de maio de 2012

Dançando no Escuro



Mentor e criador do movimento Dogma 95, Lars Von Trier lançou seu único filme seguindo todas as regras idealizadas por si em 1998, com Os Idiotas, no mesmo ano que seu companheiro de idealismo, Thomas Vinterberg, lançou o polêmico e cru Festa de Família. Mesmo tendo lançado um filme de grande circulação em 1996 com Ondas do Destino, foi com Os Idiotas que o diretor apresentou ao público as suas reais motivações cinematográficas, esse filme faz ponte entre sua produção de 1996 e também com Dançando no Escuro, terceira e ultima parte da sua trilogia "Golden Heart". Essa idéia do diretor colocava em pauta nos três filmes as reações humanas em relação aos sentimentos mais diversos do mundo, estão presentes no três, tristeza, alegria, dor, solidão e o pior de todos, esperança, que leva as pessoas a irem até os lugares mais surreais atrás de sua vontade.

Dançando no Escuro conta a história de Selma. Imigrante fã de musicais americanos, mas interessada nos ideais socialistas. Selma não tem manifestações políticas e nem sonhos ambiciosos para si, sua grande motivação de vida é o filho e tentar salvá-lo de um destino cruel e pelo qual ela se sente totalmente culpada. Contando com a ajuda de pessoas bondosas, Selma também será o centro de uma amostra impactante de até onde pode chegar a maldade humana. Imaginando sua vida como um grande musical, Selma usa de sua imagem fantasiosa para tentar enfrentar sua sofrida vida com mais alegria, som e cores.

Lars Von Trier criou sua obra definitiva em Dançando no Escuro, criando um roteiro imaginativo, vivo e interesantíssimo, o diretor usa de todas as linguagens mais conhecidas do cinema moderno para criar um filme real, emocionante e absolutamente brilhante. Mestre em fazer cinema com poucos recursos, Trier se mostra próximo do movimento que o lançou para o grande público em todos os momentos do filme, inclusive nas ótimas e criativas cenas em que Selma se imagina como protagonista de um grande musical. Mas Dançando no Escuro passa longe de ser um musical clássico, está mais para um anti representante do gênero, já que para criar sua história, o diretor virou seu filme do avesso.

Björk, que era famosa na cena alternativa da música, conseguiu supreender como a muito tempo uma atriz não conseguia. Era de se esperar de uma atriz competente uma atuação do mesmo nível, mas foi totalmente impactante ver uma figura tão distante do mundo do cinema mostrando uma intepretação tão densa, profunda e conectada. Björk fez uma atuação melhor e maior até do que suas obrigações pediam, e mereceu levar a Palma de Ouro do festival de Cannes, pena que o Oscar não mostrou a mesma afinidade com a personagem e não a indicou na categoria de melhor atriz, seria um verdadeiro presente para a categoria.

Dançando no Escuro é um dos poucos filmes modernos que podem ser chamados sem medo de obra de arte. Sua criação é fruto de duas mentes imaginativas, criativas e destemidas, sua realização é um feito grandioso para a história do cinema.

10/10

domingo, 6 de maio de 2012

Revisão Oscar 2011: Melhor atriz

5 - Rooney Mara por Millennium - Os Homens que não amavam as mulheres

A novata Rooney Mara conseguiu chamar a atenção dos votantes da academia por sua atuação como Lisbeth, protagonista da adaptação de David Fincher para o best seller Millennium. Rooney mostra ser uma atriz destemida ao criar uma personalidade mais humana e heroica para sua protagonista, indo totalmente ao oposto de Noomi Rapace na primeira filmagem do filme sueco de mesmo nome, que criou uma Listbeth mais fria e distante. A jovem atriz americana fica um pouco atrás de sua rival sueca, e talvez por isso sua atuação perde um pouco de brilho, o que não diminui sua qualidade. Rooney entrou na categoria do Oscar por último, muitos não apostam na sua indicação, pois não tinha entrado em muitos prêmios da crítica, na verdade, Rooney apareceu apenas no Globo de Ouro de importante. A favorita para ocupar a vaga era Tilda Swinton por Precisamos Falar Sobre o Kevin, talvez por isso a atriz deva ter ficado em último lugar na votação final.

4-Meryl Streep por A Dama de Ferro

A atriz Meryl Streep conseguiu vencer seu terceiro Oscar da carreira ao interpretar a ex primeira ministra da Inglaterra, Margaret Thatcher. Protagonista de um filme ruim e meia boca, Meryl consegue se destacar ao criar um retrato convicente da subida e da queda de uma das mulheres mais importantes do século passado. Atriz mais querida da academia, Meryl Streep já era favorita ao prêmio um ano antes do filme entrar no circuito comercial, a sensação que existe, é que a atriz escolheu o papel da ex primeira ministra apenas para vencer sua tão sonhada terceira estatueta. Depois de diversas indicações derrotadas, a atriz devia se sentir no direito de lutar por uma nova vitória, e encontrou na protagonista de A Dama de Ferro, a concretização de seu sonho. Por esse motivo, sua atuação perde muito da espontaneidade  e do brilho que deveria ter. Em determinados momentos a atuação da atriz perde brilho devido a falta de qualidade do filme. Apesar de todos esses defeitos, Meryl tem seus bons momentos, e são apenas por eles que A Dama de Ferro vale, mas é uma pena que depois de tantas atuações boas e mais merecedoras, a atriz tenha ganhado o seu terceiro Oscar por essa atuação.

3-Michelle Williams por Sete Dias com Marilyn

Michelle Williams conseguiu sua terceira indicação ao Oscar pelo papel da ex estrela do cinema Marilyn Monroe. Depois de diversos filmes indies, Michelle encontrou nesse filme sua chance de se destacar em uma produção maior, talvez por essa razão, a atriz recebeu uma ótima resposta da indústria e conseguiu facilmente sua indicação, ao contrário do ano anterior, que os produtores tiveram que lutar pela sua indicação por Namorados para Sempre. Michelle conseguiu a proeza de reiventar a diva americana e mostrou uma atuação totalmente inovadora da figura pública de Marilyn. Vencedora do Golden Globe e recebendo apoio de Harvey Weinsten, Michelle provavelmente conseguiu ficar em terceiro lugar na votação final, suas chances de vencer não eram muito grandes, pois o filme não fez uma excelente bilheteria e atriz ainda não conseguiu provar sua capacidade de estrela em Hollywood. Ótima atriz, Michelle provavelmente ainda vai ganhar o seu Oscar futuramente, mas o momento atual ainda é muito cedo.

2- Viola Davis por Histórias Cruzadas

Viola Davis não era aposta de nenhum crítico a um ano atrás, lançado o filme em setembro, a atuação da atriz conseguiu chamar a atenção de todos e acabou se destacando em premiações de sindicatos, beneficiada pelo sucesso do longa nas bilheterias. Roubando a cena no meio de um elenco feminino enorme, Viola faz uma atuação emocionante e desesperadora como uma empregada doméstica revelando sua convivência com patroas brancas. No papel de Aibeleen, Viola se torna o símbolo maior da figura negra americana, a atriz lutou por sua vitória até o final e acabou vencendo o SAG e o Critics Choice Awards, suas chances de levar o Oscar eram grandes e ela com certeza ficou em segundo lugar na votação final, se tornando na única rival próxima de Meryl Streep. Viola mostra em Histórias Cruzadas ser uma atriz complexa e que tem facilidade de lidar com sentimentos profundos, tomara que seu Oscar esteja guardado para um futuro próximo.

1- Glenn Close por Albert Nobbs

Uma das maiores atrizes de fala inglesa, Glenn Close foi indicada cinco vezes ao Oscar nos anos 80 e nunca conseguiu levar o prêmio para casa, suas chances pareciam altas a um ano atrás, quando saiu as primeiras imagens de sua personagem em Albert Nobbs. Quando o filme foi lançado para avaliação, muitos elogiaram a atuação da atriz, mas o filme acabou não agradando, esquecida em todos os prêmios importantes dos críticos, Glenn conseguiu sua indicação ao Oscar com uma grande campanha com a ajuda de seu forte nome, mas mesmo assim deve ter ficado em quarto lugar na votação final. Uma das atrizes mais queridas do meio artistico, Glenn brilha em cena com uma atuação maravilhosa como uma figura controversa e diferente da sociedade, em Albert Nobbs, a grande atriz mostra com toda certeza um de seus momentos definitivos em tela. Sua vitória teria sido mais que justa, já que a atriz chegou ao limite máximo da idade e de indicações da academia (seis ao todo), fora que também brinda o público com uma atuação bela e bem construída. Glenn Close sem Oscar deixa o mundo do cinema manchado.

Vanilla Sky/Abre Los Ojos



Em 1997 foi lançado na espanha um pequeno filme chamado Abre Los Ojos, com uma história surreal, obscura e aterrorizante, essa produção pode ser considerada facilmente um dos melhores suspenses dos últimos 20 anos. Não contentes em apenas chupar as idéias do Alejandro Aménebar em produções como Matrix e A Origem, os americanos também resolveram também fazer sua própria versão do filme espanhol, lançado em 2001 com grande estardalhaço. Primeira regra básica para um remake, ao invés de um grande ator, é escolhido um astro para viver o papel principal, segunda regra, o romance que era apenas sugerido no filme original vira o centro da trama na refilmagem, e terceira regra, para adaptar a história ao gosto dos americanos, é feita uma versão onde estão presentes todas as características estéticas e sonoras que fizeram a fama do cinema da terra do tio Sam.

Tanto na versão espanhola como na americana, o filme conta a história de um jovem narcisista e bem de vida que está no auge de sua existência. Na versão original ele se chama César e na versão americana ele ganha o nome de David. No remake, David se relaciona sexualmente com uma amiga, porém, no dia da festa de seu aniversário ele conhece uma jovem chamada Sofia, que logo de cara se interessa, esse fato provoca o ódio da ex amante, que preterida pelo galã da história, passa a nutir cada vez mais um desejo de vingança. Na mesma noite ela persegue David e oferece uma carona, o rapaz aceita e no meio do caminho descobre que a moça quer se suicidar e leva-lo junto com ela. O carro acaba caindo de cima de uma ponte, a ex amante morre, mas David sobrevive, mas seu rosto, antes impecável, acaba ganhando diversas cicatrizes. Passando por diversas plásticas até conseguir novamente o seu rosto, David passa a adquirir um comportamente cada vez mais estranho, não sabe mais separar a realidade da imaginação e sofre de fortes sentimentos de culpa.

Vanilla Sky é até uma versão simpática do filme espanhol, mas perde muito nos quesitos genialidade e supresa. O tom obscuro da versão espanhola é substituido por uma fotografia colorida e leve na versão americana, a trilha sonora que era um dos pontos altos do filme original, é substituída por bandas modernas de rock. Como o diretor da produção é Cameron Crowe, de Quase Famosos, fica claro que o diretor quis deixar a sua marca na produção e não apenas imitar os mecanismos de Alejandro Aménebar, mas ao se deparar com um roteiro denso e quase impossibilitado de receber mudanças, o diretor americano acaba se prendendo a situações clichês e vendendo o filme como supostamente o público deseja. Os acontecimentos do filme original, que são apresentados em forma de flashs, são mostradas de forma mastigada no remake, e o final, que era um dos pontos altos de Abre Los Ojos, acaba sendo apenas bom em Vanilla Sky, justamente por tentar juntar todas as pontas soltas do filme.

Penelope Cruz conseguiu um feito raro e inédito, acabou interpretando a mesma personagem nos dois filmes em questão, na versão original a jovem arrasa e cria uma atuação surreal e desesperadora, já na versão americana a atriz se concentra em apenas criar uma personalidade inocente para sua personagem, acaba sendo totalmente eclipsada pela coadjuvante do filme, Cameron Diaz. A atriz americana é um dos pontos altos do filme e cria uma ótima atuação para a psicótica e lunática mulher que destrói a vida de David, vivido por Tom Cruise, em uma boa atuação.

Vanilla Sky é uma das diversas versões americanas para filmes estrangeiros. Ao tentar adaptar realidades de outras nacionalidades para seu país, o cinema americano acaba destruíndo diversas histórias, apesar de Vanilla Sky não ser um verdadeiro desastre, assim como os outros, não consegue superar sua versão original.

Abre Los Ojos: 9.0/10
Vanilla Sky: 7.0/10

sexta-feira, 4 de maio de 2012

A Dama de Ferro



A academia americana de cinema deposita muita atenção e paixão em cima da história política britânica, nos últimos 15 anos, não se tornou raro ver pelo menos um filme sobre a terra da rainha figurando entre os indicados ao Oscar de melhor filme e outras categorias lustres. Nos últimos anos A Rainha e O Discurso do Rei reavivaram ainda mais esse fato e levaram os produtores a apostarem ainda mais nessa vertence, o que acabou dando espaço para produções caça níqueis como A Dama de Ferro, que retrata a tragetória política de Margaret Thatcher de forma vaga e inútil.

Uma das figuras políticas mais polêmicas, controversas e admiradas do século XX, Margaret Tatcher mudou para sempre os rumos políticos do mundo. Foi responsável por tomar as ilhas malvinas da Argentina, fez diversos cortes de juros, colocou em pauta as empresas estatais e se tornou uma das responsáveis pelo fim da guerra fria, tudo isso rendeu a Thatcher o apelido de dama de ferro, como é conhecida até hoje.

O filme, dirigido por Phyllida Lloyd é um verdadeiro desastre, ao invés de fazer igual a Stephen Frears em A Rainha, que pegou um período de tempo para ser retratado, a diretora resolveu falar sobre basicamente toda a vida da ex primeira ministra em um filme de uma hora e quarenta minutos. Com um começo confuso que não sabe se fica na juventude ou na velhice de Thatcher, a diretora se perde e afunda sua produção antes da meia hora inicial, tratando o alzheimer de sua retratada de forma desrespeitosa, a diretora cria situações absurdas para dar o tom de seu filme. Quando o filme já não sabe mais para onde atirar, a única coisa que resta é a atuação de Meryl Streep, que nada com todas as suas forças para não ser levada pelo naufrágio que é A Dama de Ferro, mas mesmo com seu grande esforço, a atriz acaba se afetando em determinado momento e passa a apresentar uma atuação um tanto quanto over, sua unica utilidade no filme é narrar discursos que representam mais a imagem política  do que a pessoal de Thatcher. É triste perceber que Meryl Streep deixou de ser uma atriz ousada e hoje em dia se acomodou ao posto de diva do cinema em papéis feitos para agradar os votantes da academia.

A Dama de Ferro é com certeza um dos piores filmes políticos já feitos pelo cinema, a diretora que pretendia fazer um filme sério, acaba apresentando uma produção com um pé no pastelão. Nem Meryl Streep e muito menos Margaret Thatcher mereciam esse filme.

5.0/10

                                           Meryl: comodismo cinematográfico

Sete Dias com Marilyn



O cinema em 2011 se dedicou a fazer homenagens as produções clássicas do gênero e o Oscar correspondeu a essa tendência. O Artista e a Invensão de Hugo Cabret se consagravam na premiação desse ano com histórias que utilizavam da linguagem antiga de se fazer cinema e se tornaram em dois grandes sucessos. Outro filme, só que menor, também chamou a atenção dos críticos e rendeu merecidas indicações para seus dois atores principais, Michelle Williams e Kenneth Branagh, o filme em questão é Sete Dias com Marilyn, filme inspirado em um diário do assistente Colin Clark, que durante uma semana manteu um relacionamento próximo com a estrela Marilyn Monroe.

No auge de sua fama, Marilyn Monroe partiu para a Inglaterra para filmar O Príncipe Encantado com um dos maiores atores de todos os tempos, Laurence Olivier. Querendo ser vista como uma grande atriz, Marilyn se mostra totalmente insegura nas gravações e acaba atrasando o trabalho da equipe e do resto do elenco. Se aproximando do assistente Colin Clark, Marilyn passa a lidar com seus dramas e infelicidades com mais leveza, acompanhanda por um jovem sonhador, a estrela se sente mais segura para ser quem realmente é, se afastando totalmente da fama de mulher espivitada.

O diretor Simon Curtis se mostra competente filmando uma produção diferente e difícil. Usando da metalinguagem em todos os momentos, Sete Semanas com Marilyn, além de uma homenagem a grande diva do cinema, também se torna um excelente filme para se entender o que se passa nos bastidores das filmagens de grandes produções. O filme é delicioso e ótimo de se ver, a direção é eficiente, a fotografia é belíssima e as locações são excelentes.

Michelle Williams, tentando reiventar a sua Marilyn Monroe, tenta se distanciar o máximo que pode da personalidade vulnerável da estrela, o problema, é que quanto mais ela tenta se mostrar diferente de Marilyn, mais ela se torna parecida. Seus momentos em cena são prazerosos e o seu despojamento é totalmente visível. Kenneth Branagh da verdadeiro show na pele de seu maior ídolo Laurence Olivier, mostrando proximidade absurda com a personalidade do grande ator, Kenneth se torna uma potência em cena. O resto do elenco conta com a presença da diva britânica Judi Dench, encarnando Sybil Thorndike e Julia Ormond dando vida a Vivien Leigh.

Sete Dias com Marilyn vale seus momentos de projeção, um excelente e econômico filme que conta de forma eficiente o que se passa por trás da grande fábrica de ilusões que é o cinema. Com atores competentes em seu elenco e um ótimo estudo de época, sua realização se torna obrigatoria.

7.5/10