domingo, 30 de novembro de 2014

Antes de reclamar da vida...

...lembre-se que para Lola esteve bem pior nos idos de 1998. Corra Lola, Corra é um filme que definitivamente não me cansa, a mensagem da produção é tão envolvente, original e visionária que vai demorar alguns muitos bons anos até a produção tornar-se datada. O filme é definitivamente a cara da década de 90, a trilha sonora "clubber", os visuais, as referências a desenhos animados e a videogames (Lola tenta "passar de fase" em três tentativas, igual nos jogos de videogame que bombavam na época com a Nitendo e a Playstation), porém, foi além do estereotipo de "filme moderninho". Assim como outros clássicos do cinema alemão, usa e abusa de referências filosóficas. Seguindo os passos de Wim Wenders, Tom Tyker não deixa passar nenhuma dúvida, "de onde vimos", "para onde vamos", "o destino existe?" e "as coisas são premeditadas?". Por fugir de todas os lugares comuns existentes no mundo cinematográfico, Corra Lola, Corra já aparece na condição de clássico.

9,5/10

2014: O ano de Julianne Moore




Já se vão quinze anos desde que Julianne Moore foi indicada ao Oscar pela última vez, tal fato aconteceu na edição de 2003, quando a atriz conseguiu o feito de ter duas indicações por seus trabalhos em Longe do Paraíso e As Horas. Julianne surgiu na indústria do cinema como um frescor para os diretores, a atriz conseguia desenvolver qualquer tipo de papel durante a década de noventa. Trabalhou com Robert Altman em algumas produções, entre elas o clássico Short Cuts, e virou queridinha de Paul Thomas Anderson, com quem trabalhou nos impactantes Boggie Nights e Magnólia. Desenvolveu com Neil Jordan uma sensível atuação em Fim de Caso e chegou ao auge por seus trabalhos com Todd Haynes e Stephen Daldry em 2002. A partir daí Julianne parece não ter sido mais pressionada a nada dentro da indústria, trabalhou no brilhante Filhos da Esperança, no tocante A Single Man e no bom The Kids Are All Alright. Esses trabalhos renderam prestígio, mas não aclamação. Julianne era considerada uma das melhores de sua geração, porém, faltavam prêmios de gabarito em sua estante. Eles começaram a vim por seu trabalho no telefilme Game Change, onde viveu Sara Palin. Julianne surpreendeu tanto que se tornou uma hegemonia, não dando espaço para suas concorrentes vencerem qualquer estatueta. Foi o pontapé inicial para chegar em 2014 brilhando em Maps To The Stars e Still Alice.

MAPS TO THE STARS






A produção era aguardada pelos nomes envolvidos, principalmente o diretor David Cronenberg e a atriz Julianne Moore. O filme não responde às expectativas (pelo menos não as minhas), o diretor parece inspirar-se em filmes como Crepúsculo dos Deuses e O Jogador para criar uma crítica ao universo cinematográfico moderno e a indústria da fama. O roteiro intercala diversas histórias para chegar a um final que poucas pessoas devem ter entendido. Na história tem o roteirista que tenta chegar ao estrelato (Robert Pattison), o astro adolescente problema a lá Justin Bieber (Evan Bird) e a assistente prestativa (Mia Wasikowska, que parece estar em todas), mesmo com tantos personagens, o único que você se lembra no final da produção é o de Julianne Moore. A atriz interpreta uma atriz decadente que tenta encarnar uma personagem que no passado já foi de sua mãe, o papel lembra o de Gloria Swanson em Crepúsculo dos Deuses. Encarnando uma personalidade tão controversa, Julianne rouba a cena e faz valer às horas do espectador. Moore mostra coragem ao encarar cenas que atrizes que se encontram na mesma posição em que ela se encontra não teriam feito de jeito nenhum, caso da surreal cena onde a personagem evacua enquanto conversa com sua assistente. Pelo papel a atriz vendeu a inédita Palma de Ouro do Festival de Cannes, uma honra que poucas atrizes americanas já tiveram a chance de terem tido. Porém, o estúdio resolveu não bancar uma campanha para a atriz no Oscar.
6.0/10

                                               Julianne em cena surreal de "Map To The Stars"

Still Alice


A indústria do cinema parece estar criando uma sub-indústria cinematográfica sob a doença do Alzheimer. Em 2004 foi lançado Diário de uma Paixão, produção romântica que tinha como pano de fundo a doença que vitimou a protagonista em sua velhice. O seu marido lia o diário dela todos os dias para desta forma ela voltar a sua consciência por apenas alguns minutos. Em 2007 foi lançado Longe Dela, produção melancólica que mostra todos os estágios pelos quais uma vítima do Alzheimer passa até desaparecer no esquecimento mental. Julie Christie arrasa no papel principal e venceu o Golden Globe e o SAG Awards, sendo indicada ao Oscar e perdendo para Marion Cotillard. Agora é lançado Still Alice, a terceira produção grandiosa sobre a doença. Depois de Gena Rowlands e Julie Christie, agora é a vez de Julianne Moore, que se encontra em uma idade inferior ao das atrizes anteriores. Este fato tem a ver com o roteiro da produção, já que a Alice do título é uma vítima precoce da doença. Alice era uma respeitada e conceituada professora de linguística, até começar á esquecer coisas básicas, como palavras. Uma das belezas do roteiro criado por Lisa Genova está nesta metáfora, uma especialista em línguas começa á esquecer algumas palavras que ajudam no formar e no desenvolver de uma língua como a inglesa. A partir daí sua decadência mental acentua-se, esquecendo-se do lugar onde trabalhou, onde o banheiro de sua casa de praia se encontra, do nome da filha mais velha e por alguns minutos esquece que está falando com sua filha caçula, em uma das cenas mais brilhantes da produção. O filme dirigido por Richard Glatzer não é tão sensível quanto Longe Dela, mas não posso afirmar se isso vem do fato de Still Alice ser dirigido por um homem, enquanto Longe Dela foi dirigido por uma mulher. Still Alice é uma produção mais melodramática do que o filme de 2007, em alguns momentos lembra inclusive o clássico Laços de Ternura, principalmente nas cenas onde a mãe e a filha caçula (interpretada pela “ex-Crepúsculo” Kristen Stewart, em um raro momento de sinceridade) dialogam sobre a doença. Apesar de ser um belo filme, Still Alice ainda vale mesmo pelo prazer de ver mais uma brilhante atuação de Julianne Moore. A atriz está mais sensível, comovente e emocionante que nunca, consegue desaparecer totalmente de sua personalidade pública e cria um retrato real de uma vítima do Alzheimar. Alguns sinais apontam que a atriz irá vencer o Oscar, durante o filme tem até uma daquelas cenas de discursos que a academia ama premiar, e o críticos amaram sua atuação desde as primeiras exibições em festivais. Porém, se a academia premiar atuações por suas qualidades e não por políticas, Julianne Moore realmente surge como uma favorita absoluta, sua atuação é belíssima.
7,5/10
 



sexta-feira, 28 de novembro de 2014

A cena que define "Crash - Estranhos Prazeres".

Apenas os fortes entenderão o contexto desta cena, a produção pode ser tratada como uma metáfora da fetichização das máquinas representada pela práticas sexuais incomuns de seus personagens. Membros da classe média juntam-se com figuras exóticas e marginalizadas e passam a praticar suas fantasias sexuais, geralmente envolvendo carros, batidas e cicatrizes físicas causadas por acidentes automobilísticos. O filme dirigido por David Cronenberg e lançado em 1996 tornou-se um clássico cultuado pelo cinéfilos do mundo inteiro e não lembra nem de longe o confuso Maps To The Stars, filme lançado por Cronenberg em 2014.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Atuações de telefilmes que poderiam terem sido indicadas ao Oscar. (Parte 1)

Julianne Moore - Game Change





Julianne Moore deu a volta por cima dentro da indústria por ter interpretado Sarah Palin nesta produção da HBO. Venceu EMMY, Golden Globe e SAG, além do respeito dos críticos. Um dos pontos de sua atuação é o fato de não apelar para a caricatura, criando uma personalidade real para a controversa política. Julianne consegue ser tão ou mais boa que Jennifer Lawrence por O Lado Bom da Vida.

Claire Danes por Temple Grandin

Antes de alcançar o estrelato com a série Revenge, Claire Danes causou impacto por sua inacreditável atuação em Temple Grandin. A atriz interpreta de maneira sublime a personagem principal, autista que conseguiu atravessar todas as dificuldades de sua situação e virou mestre por Harvard.

Jessica Lange por Grey Gardens.

Jessica Lange hoje brilha no seriado American Horror Story, antes disso, brilhou ainda mais no papel da matriarca do telefilme Grey Gardens. Jessica canta, dança, emociona-se, sofre e triunfa, venceu o EMMY e o respeito dos críticos. Em um ano em que Sandra Bullock venceu o Oscar, Jessica teria desequilibrado as concorrentes com sua atuação.

Drew Barrymore por Grey Gardens.


 Drew Barrymore conseguiu a melhor atuação de sua carreira no mesmo telefilme onde Jessica Lange brilha. Conseguindo brilhar tanto na juventude como na velhice de sua personagem, Drew provou que também pode ser uma grande atriz. Por sua atuação venceu o Golden Globe e o SAG.

Sigourney Weaver por Prayers For Bobby.

Sigourney Weaver criou uma das atuações mais emocionantes, comoventes e sinceras dos últimos anos por este dramático telefilme. Vivendo uma mãe religiosa de um homossexual que se suicida por decepções emotivas, Sigourney brilha em cena.

Catherine Keener por An American Crime


Catharine Keener criou um dos seus melhores papéis dramáticos por esse telefilme polêmico de 2008. Interpretando uma mulher instável emocionalmente que tortura e mata uma adolescente, a atriz consegue criar no espectador um misto de sentimentos que vão do medo até o ódio.

Susan Sarandon por Bernard And Doris






No papel de uma milionária solitária que cria uma relação de amor e ódio com seu mordomo homossexual e alcoólatra, Susan conseguiu criar mais uma atuação marcante e forte.






Queen Latifah por Life Suport




A atriz, rapper e apresentadora conseguiu sua melhor atuação depois de Chicago (pelo qual foi indicada ao Oscar) por este telefilme da HBO de 2007. Interpretando uma aidética, Queen consegue fugir dos clichês, desenvolve uma atuação verdadeira e diversificada dos filmes comerciais que fez para o cinema na década passada.

Anna Paquin por Bury My Heart at Would Knee.

 Antes de dar a volta por cima com o seriado True Blood, Anna Paquin já tinha conseguido chamar a atenção um ano antes, em 2007, com este telefilme da HBO. Interpretando a esposa de um nativo que tenta inserir-se na sociedade, Anna demonstra requisitos perfeitos de um típico papel indicado na categoria para coadjuvantes do Oscar.



Samantha Morton por Longford

Samantha Morton brilha intensamente nesta produção de 2006 como uma mulher condenada a prisão perpétua por ter assassinado duas crianças junto com seu namorado. Interpretando uma personagem com todas as qualidades que o Oscar gosta de premiar, Samantha provavelmente teria conseguido indicação se o filme tivesse sido feito exclusivamente para o cinema.


Kelly Macdonald por The Girl In The Cafe

A desconhecida Kelly Macdonald conseguiu chamar tanta atenção por essa produção televisa de 2005 que até foi indicada a algumas premiações cinematográficas. A atriz conseguiu trabalhar depois desta produção no filme "Onde Os Fracos Não Têm Vez" como coadjuvante, porém, ao assistir a atuação de Macdonald em The Girl In The Cafe, fica clara a ideia de o lugar da atriz é como protagonista em produções cinematográficas.



quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Boyhood


Várias pessoas do sexo masculino já passaram pela situação, ás vezes até traumática, de ser obrigado á cortar o cabelo na infância. E logo em seguida ser obrigado a encarar o “bullying” dos colegas na escola, mesmo antes deste termo ter virado moda. Essas sensações, que envolvem memórias pessoais, definem o filme Boyhood. A grande graça da produção dirigida por Richard Linklater está justamente na criatividade de filmar o passar dos anos dos seus personagens através da evolução física de seus atores (Ellar Coltrane, Ethan Hawke, Patricia Arquette e Lorelei Linklater), no decorrer de doze anos de gravações. Esta maneira engenhosa permite ao espectador identificar-se com diversas situações e personagens retratados em cena. Quem não consegue enxergar na personagem de Patricia Arquette suas próprias mães? A atriz consegue destacar-se por criar um retrato quase real de uma mulher comum, mas não sei dizer se a atriz consegue realmente brilhar em cena, quem gosta de atuações “overacting” com toda certeza não irá achar a atuação de Patrícia Arquette grande coisa. A atriz destaca-se por sua transformação física, mas quem chama a atenção mesmo é Ethan Hawke, criando uma personalidade assustadoramente carismática para seu personagem. Os dois atores mirins que crescem em cena e permitem no espectador uma grande identificação, mostram coragem por terem topado registrar suas dores de crescimento de forma tão superexposta. Qualquer pessoa tem dificuldade de imaginar as gravações das situações mais constrangedoras das suas vidas, e é justamente este sentido que Boyhood tenta passar. O ponto negativo do filme, apesar dele ser necessário para o desenvolver da história, está em sua duração que chega até duas horas e quarenta minutos. Enquanto o roteiro retrata o personagem principal até a sua pré-adolescência o filme é uma delícia, porém, quando entra no período da adolescência torna-se enfadonho e arrastado. Impossível não se sentir entediado nos últimos dez minutos, mas para quem está sem nada o que fazer, até que é um bom passatempo. 

7,0/10