sexta-feira, 27 de abril de 2012

O Jardineiro Fiel



Continente dominado pela pobreza e pela AIDS, a África sempre foi vista como um foco pela indústria farmacêutica, que usa a população local como cobaia para testar medicamentos que em seguida serão lançados globalmente. Teoria de conspiração para alguns, essa situação crítica da África inspirou o escritor John le Carré a lançar o livro O Jardineiro Fiel, que chegou as patrileiras em 2001. Usando de uma crônica poderosa envolvendo um amor arrebatador e um suspense muito bem construído, o livro chamou a atenção dos críticos e foi muito bem vendido, Fernando Meirelles, que se lançou no mapa global do cinema com Cidade de Deus, usou o livro como adaptação para fazer seu primeiro filme produzido pelos Estados Unidos.

Tessa, idealista que luta contra a indústria farmacêutica e pelos direitos humanos dos africanos, conhece o diplomata inglês Justin em uma palestra, apesar de um início ruidoso, os dois acabam se apaixonando, dando vida a um romance que vai ser levado até as maiores consequências. Depois da morte da esposa em um suposto plano que envolve nomes poderosos da política inglesa e a milionária indústria de medicamentos, Justin passa a lutar implacavelmente por justiça, para limpar a imagem da esposa e para entender o que a motivou a ter chegado tão longe em busca dos seus ideais. O marido acaba se deparando com verdades que irão mudar totalmente sua forma de pensar e ver o mundo.

Fernando Meirelles usa de uma belíssima e sensível visão para construir um ótimo filme de amor, onde o sentido da palavra chega a dimensões nunca antes imaginadas. Justin, papel vivido por Ralph Fiennes, representa claramente a cegueira do mundo ocidental em relação aos problemas do mundo, atormentado pela perda da esposa, ele passa a seguir os seus passos e a enxergar o mundo com os olhos de Tesse. Tanto no livro como no filme, fica bem claro os sentimentos de culpa e remorso vivenciado pelos dois protagonistas, para dessa forma, chegarem a rendenção no belíssimo e bem construído final.

Rachel Weisz, que faz o papel de Tesse, brilha em uma das mais belas e sensíveis atuações da década passada, a atriz consegue transparecer perfeitamente bem a personalidade destemida e corajosa de sua personagem, chegando a perfeição em alguns momentos do filme, seu Oscar é um dos mais merecidos em sua categoria. Ralph Fiennes volta a mostrar ao mundo mais uma vez o grandioso e brilhante ator que é, criando um excelente retratato de um homem chocado com a morte cruel que a esposa passou, seus momentos em cena são prazerosos. Fernando Meirelles, assim como já tinha mostrado em Cidade de Deus, mostra ter facilidade gigante para dirigir seu elenco, arrancando atuações poderosos de todos os envolvidos.

O Jardineiro Fiel é um filme tocando e bem feito, nas mãos de outro diretor, teria caído no marasmo e no mais do mesmo, foi preciso um diretor de visão global e bem apurada para saber lidar com facilidade com um roteiro tão denso e rico em detalhes. Um dos melhores filmes lançados em 2005 e um dos melhores exemplares do cinema moderno.

9.0/10

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