domingo, 22 de abril de 2012

Dogville



Em 1995 o diretor Lars Von Trier liderou um movimento cinematográfico que tinha ideais revolucionários, o Dogma 95, que com uma câmera na mão, dirigia seus filmes de maneira crua e colocava em pauta as reações humanas de diversas formas. Sabe-se que Lars Von Trier supostamente adora os conhecidos "filmes de mulheres" dos anos 40 e 50, pois em suas produções sempre coloca uma protagonista comendo o pão que o diabo amassou, assim como as produções da antiga hollywood, que lançavam filmes com mulheres que tinham o sofrimento como razão para suas vidas. Usando de elementos do passado e supostamente modernos, o diretor chegou ao seu ápice experimental em 2003, quando lançou o teatral, denso, difícil e inteligente Dogville.

Dogville, uma cidadizinha perdida no meio dos Estados Unidos, tem moradores que vivem em uma comunidade harmoniosa e onde todos se respeitam, porém nada de muito interessante acontece em suas vidas. Em uma noite, Tom, que coloca em si a responsabilidade de liderar da pequena cidade, ouve tiros e logo em seguida conhece uma forasteira fugitiva chamada Grace. Fugindo de gangsters por uma razão desconhecida, Grace acaba encontrando em Tom um protetor, o bondoso e atencioso rapaz acaba mentindo para os gangsters e promove uma reunião entre os moradores, onde fica combinado que todos irão ajudar a esconder Grace, tanto dos bandidos como da polícia. As primeiras duas semanas da moça são bastante proveitosas e ela acaba adquirindo o respeito e a amizade de todos os moradores, até que sua presença começa a virar um risco, e os habitantes de Dogville passam a cobrar mais pela proteção, chegando ao limite que separa o correto do incorreto.

Dogville é o maior exemplo que o diretor Lars Von Trier mostrou até agora, de até onde pode chegar as reações humanas quando as pessoas se vêem em situações de perigo. Os moradores de Dogville de início se mostram pessoas bondosas e corretas, mas quando se colocam sobre a posse da vida de Grace, se revelam pessoas frias, mesquinhas e intoleráveis. Poucas vezes no cinema a maldade humana esteve tão presente como nesse filme.

O diretor usa de nove prólogos para contar sua história. Os seis primeiros, que mostram a rotina de Grace com os moradores se torna um pouco chata e entediante, com diálogos meio arrastados e um estilo de filmar anti-cinematográfico, porém, do sétimo ao nono prólogo, o filme pega fogo e se torna em uma forte narrativa sobre a covardia diante de um acontecimento maior, e faz até os seus primeiros prólogos, que antes não faziam sentido nenhum, se tornarem essencias para o entedimento da história como um todo. Sem uso de cenários ou de trilha sonora, Lars Von Trier dirige seu elenco com severa rigidez e arranca excelentes resultados de todos eles, principalmente de Nicole Kidman, em sua melhor atuação até hoje. No elenco ainda tem a diva Lauren Bacall e estrelas do cinema independente como Patricia Clarkson e Chloe Sevigny, todas brilhantes e convicentes em suas atuações.

Apesar de já ter feito outros trabalhos com a mesma temática narrativa, como aconteceu em Dançando no Escuro, Lars Von Trier chegou aos seu extremo de personalidade em Dogville. Nunca o diretor foi tão experimental, tão convicente e tão realista em criar uma história impactante. Dogville é um ótimo exemplo de como um diretor pode construir um ótimo filme mesmo sem recursos, apesar de inicialmente o seu tom teatral se tornar um pouco irritante e sonolento, com o decorrer dos fatos, esse mesmo tom se torna necessário para se entender o vazio das almas dos personagens, onde todas representam a própria cidade onde moram, um lugar pequeno, sem sentido e absurdamente triste.

8.5/10

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