quarta-feira, 4 de abril de 2012

Clube da Luta (por Carlos Pedroso de Morais)



Clube da Luta - Infelizmente, terei de quebrar algumas regras, começando pela primeira, para falar de "Clube da Luta" - um dos melhores filmes e mais cultuados de todos os tempos e que, ainda hoje, define bem quem somos. A obra prima de David Fincher é uma crítica a sociedade de massa e o sádico diretor utiliza da luta como uma válvula de escape numa narrativa brilhante e com atuações sublimes. Para explicar melhor a obra irei separá-la em 5 partes.

DIREÇÃO: David Fincher é um cara de meias palavras. Perfeccionista e objetivo, o diretor não leva desaforos para casa. Fincher, que já foi aclamado por artistas do meio musical, não vela nada em "Clube da Luta", tudo que ele deseja expressar está incluso em sua narrativa subjetiva para fazer o público pensar. Foram mais de 1,5 mil rolos de filme até o resultado final. O conteúdo é polêmico, principalmente pela violência (não gratuíta) e por ser uma obra realmente crua e difícil de engolir. Obviamente, a produção foi comprometida pelas exigências da Fox. O fracasso era um fato para os executivos. E estes não erraram. Demorou um bom tempo para aceitarem o longa de Fincher, mais precisamente, foi só com o lançamento do DVD que o filme e diretor ganharam público e crítica. Mas voltando para o foco deste tópico, David Fincher pode ser considerado um dos grandes diretores de sua geração. Sempre com um olhar atento para suas obras e para personagens que possuem alguma característica melancólica. Seu maior objetivo em fazer filmes está em deixar sua audiência desconfortável e nisso não há ninguém melhor no ramo do que ele.

ROTEIRO: O filme é baseado no romance homônimo do mecânico Chuck Palahniuk e o extraordinário Edward Norton interpreta "O NARRADOR" ou, se preferirem, "Jack", um investigador de uma empresa de seguros que possui uma vida, digamos, tranquila em termos financeiros. Mas tanto conforto ocultou sua alma que agora vaga por reuniões de autoajuda para pacientes terminais tentando curar sua insônia crônica. Tudo vai bem até o momento que encontra o seu carma e a mulher da sua vida: Marla Singer (interpretada pela excêntrica Helena Bonham Carter) - moça que define suas visitas as reuniões como sendo "mais barato que cinema e tem café de graça". Mas. entretanto, é quando conhece Tyler Durden (no papel da vida de Brad Pitt) que as coisas começam a mudar. Tyler é exatamente o oposto da persona de Jack e, também, tudo que ele desejava ser. Descolado, bonito e desmaterializado, Tyler logo ganha espaço em sua vida. Como retribuição de um favor, Tyler pede apenas uma coisa para "Jack": "Eu quero que você me bata o mais forte que puder!" e emenda um "quanto você conhece de si mesmo se nunca esteve numa briga?". Pronto, é ai que começa o 'Clube da Luta' e que, mais tarde, evolui para um projeto chamado "Caos" (uma organização terrorista com fins de pregar o antimaterialismo e a destruição da sociedade de consumo). Para Tyler "somos subprodutos da obsessão por um estilo de vida". Agora me diga, já viu tanta originalidade para abordar um conteúdo assim? É, ai está o grande trunfo desta maravilhosa obra.

ELENCO: Quem diria que os primeiros nomes para a produção teriam sido Courtney Love, Winona Ryder e - pasmem - Reese Whiterspoon (que foi descartada por Fincher por ser muito nova) para interpretar Marla Singer? Ou Russel Crowe como Tyler Durden? E Matt Damon para interpretar "O Narrador"? Sorte (ou não) que eles deram lugar para Edward Norton, Brad Pitt e Helena Bonham Carter que mostraram uma química explosiva e que tem grande mérito na produção como um todo por suas interpretações impecáveis. Edward Norton foi surgir no cinema com seus 27 anos e, ainda assim, é um dos melhores atores de sua geração. Trabalhar com Robert DeNiro, Marlon Brando e ter 2 indicações ao Oscar em 3 anos é para poucos. Brad Pitt, apesar do estrelismo a sua volta, encontra o papel da sua vida. O ator já havia trabalhado com Fincher no excelente 'S7ven' e futuramente encontrou-se novamente com o diretor em 'O Curioso Caso de Benjamin Button'. Pitt e Norton formaram uma dupla e tanto, seria um presente vê-los novamente em cena. E também, mas não menos importante, temos a ilustre presença de Helena Bonham Carter que deixou de lado os personagens de época e se entregou a sinistra e com tendências suicidas, Marla Singer. Os diálogos entre Marla e 'Jack' dão um gás a mais para o filme e, acima de tudo, são hilariantes.

CRIATIVIDADE: Clube da Luta não é um filme fácil. E também não é um filme para ser visto apenas uma vez. A genialidade em volta do projeto é fascinante. Se você ver o filme seguidamente várias vezes irá notar que Fincher dá todas as dicas durante o longa para você descobrir o que irá acontecer na próxima cena, ou o que explica a cena anterior. Um exemplo seria o de Tyler Durden aparecer em cena diversas vezes antes de seu encontro com "Jack". Primeiro: no xerox do trabalho do Jack. Segundo: no consultório quando Jack está aprendendo sobre câncer nos testículos. Terceiro: num encontro de autoajuda. Quarto: quando Jack vê Marla indo embora mas não a segue. São coisas pequenas, mas que influenciam toda a obra do diretor. Além disso durante o filme vemos vários elementos pessoais e da carreira de cada ator, por exemplo, quando "Jack" pede para Marla sumir e entrar no ônibus há anúncios de 'Sete Anos No Tibet' (Pitt), 'O Povo Contra Larry Flint' (Norton) e 'Asas do Amor' (Carter). Brilhante, não? E também devo mencionar a trilha sonora e os efeitos especiais e sonoros (indicados ao Oscar) que fazem do filme ainda mais espetacular. A trilha assinada pelos Dust Brothers é fantástica e consegue captar muito bem o clima do filme. Já o que dizer sobre os efeitos? É só assistindo as incríveis cenas explosivas do filme para se ter noção do quão extraordinário é o trabalho técnico de 'Fight Club'.

Devo dizer que Clube da Luta não é um filme impecável. Tem seus erros. Mas é impossível imaginá-lo sem eles.
"Bem vindos ao clube da luta e se está é sua primeira noite, você tem que lutar!" 10/10

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