quarta-feira, 5 de setembro de 2012

21 Gramas





Desde que estourou no mundo do cinema em 2001 com o elogiado drama Amores Brutos, o diretor Alejandro González Iñarritu sempre tentou aliar com suas produções cinematográficas sentimentos como tristeza, dor e perda. Alguns críticos acusam o diretor de apenas se repetir em todos os seus filmes, mudando apenas a dimensão dos acontecimentos que estão no centro de suas produções, o que de certa forma é verdade, mas que não atrapalha em nada o desenvolvimento e a aclamação de seus projetos, como se pode ver facilmente em sua famosa trilogia, que começou com o já citado Amores Brutos, continuou com 21 Gramas, sua primeira produção americana, e terminou definitivamente com o trágico Babel.

21 Gramas é o que pode se chamar de filme cru, pelo menos na teoria. A história acontece em torno de três personagens centrais, vividos pelos atores Sean Penn, Naomi Watts e Benicio Del Toro.  Um acidente provoca a morte de um pai e suas duas filhas pequenas e os três personagens, vividos pelos respeitados atores de Hollywood, de mundos totalmente diferentes, irão ter suas vidas cruzadas para sempre. O enredo dá espaço para o diretor mostrar em tela cenas de verdadeiro abalo emocional para os telespectadores mais desavisados. Sem ter medo de ser ousado, o diretor constrói imagens fortes e acontecimentos chocantes em cena, com a intenção é claro, de demonstrar a profunda tristeza e culpa que cerca a vida de seus protagonistas.

Apesar de um começo um tanto quanto confuso, em que o diretor tenta mostrar fatos de forma solta e sem definir uma cronologia dos acontecimentos, logo o filme toma embalo e convence com um roteiro bem construído e bem amarrado, em que os detalhes mais ricos são mostrados em pequenos e preciosos momentos, principalmente naqueles mais íntimos, em que os personagens  se comportam de forma mais humana e longe dos estereótipos de filmes dramáticos/trágicos. Nesse campo, o mérito é todo dos três atores centrais, mostrando verdadeiros shows de atuações. É de se admirar e aplaudir a coragem e a entrega dos três intérpretes, sem se preocuparem com a glamourização da profissão do ator, demonstram falta de vaidade profissional e carimbam seus ricos currículos com atuações fortes, comoventes e convincentes.

21 Gramas talvez seja o melhor representante do currículo do diretor, uma produção pouca vista no cinema americano moderno, em que a força do roteiro por si só, impulsiona e inspira os outros envolvidos no projeto. É de lamentar, que depois de Babel, o diretor e o roteirista Guillermo Arriaga se separaram profissionalmente, mostrando que a parceria era extremamente rica para ambos os lados, já que nenhum dos dois conseguiu se destacar com seus filmes pós-separação.

Nota: 9,0

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Sem Destino




Fim da década de 60 do século passado, o cinema do mundo inteiro estava focando sua criatividade em uma visão mais ousada e rebelde, exemplos disso são as produções A Bela da Tarde e Blow Up. Nos Estados Unidos, os grandes campeões de bilheteria da década eram A Noviça Rebelde e Mary Poppins, ambos estrelados por Julie Andrews, que eram pontuados por temáticas imaginativas e até um pouco infantis. Com o surgimento da revolução sexual e do movimento hippie, o cinema americano foi começando a lançar suas primeiras produções mais modernas, entre elas estava A Primeira Noite de um Homem, mas o grande pontapé para a grande mudança do cinema americano aconteceu mesmo com Sem Destino, produção pequena e ousada que tinha como seus protagonistas dois motoqueiros livres vivendo em uma América careta e antiquada.

Peter Fonda e Dennis Hopper, que além de protagonistas também são roteiristas da produção, criaram uma história que representa com perfeição a geração anos 60, época em que os ideais de sociedade ficaram mais livres em relação ao modelo considerado correto. Os dois personagens do filme são modelos perfeitos para o que poderia se considerar contracultura, são rebeldes, livres e não andam nos trilhos. A viagem que começa através da venda de um pacote de cocaína, acaba ganhando ares revolucionários, quando os dois acabam cruzando com diversas figuras exóticas e que correspondem aos excluídos da sociedade.

A direção do filme, apesar de um pouco caseira, é incrivelmente bem feita, as cenas mostradas durante a viagem dos dois protagonistas são de tirar o fôlego e mostra uma América pouco vista em outros filmes do gênero. Apesar dos diálogos não serem o forte da produção,  roteiro é um dos pontos altos, mostrando conversas desfocadas da realidade, mas que representam momentos de fuga em relação ao padrão correto. O elenco também está ótimo, além dos dois protagonistas, Jack Nicholson rouba a cena como um advogado alcoólatra que entra na viagem em busca de um pouco de diversão.

Sem Destino não é apenas um filme, é um retrato de uma geração, um dos filmes mais ousados do período e que conseguiu envelhecer bem e influenciar diversas outras produções. Um dos raros momentos do cinema americano em que sétima arte conseguiu representar com perfeição a geração correspondente ao seu período.

Nota: 9,0

terça-feira, 10 de julho de 2012

O Dia Em Que a Terra Parou



Em uma tarde de 1938, Orson Welles, um dos maiores diretores americanos de todos os tempos, anunciou em seu programa de rádio que naves espaciais estavam invadindo a Terra e matando todos os habitantes do planeta. Esse fato provocou um verdadeiro pânico dentro dos Estados Unidos e a partir daí diversas pessoas passaram a relatar contatos com seres de outros planetas e também descobertas de naves espaciais rondando a Terra. Apesar de diversas pesquisas científicas que mostram que é quase impossível a existência de seres em outros planetas, diversas pessoas ainda tem a crença nesses fatos, e o cinema sempre se aproveitou disso para criar filmes com essa temática, talvez o primeiro se data no começo da década de 50 com O Dia em Que a Terra Parou.

Em um belo dia, uma nave espacial para no meio de Washington e de dentro dela sai um extraterrestre com forma humana dizendo que veio em missão de paz para alertar os terráqueos sobre um fato importante que pode mudar para sempre os rumos do planeta. Os humanos acabam não dando muita bola e a fuga do extraterrestre acaba causando um grande alvoroço no mundo inteiro. 

O Dia em Que A Terra Parou ganhou um remake em 2008, mas é seu original que realmente vale a pena ser visto. O filme foi um dos primeiros exemplares sobre o cinema catástrofe, mas diferente de outros filmes feitos depois, usa mais da inteligência do que das imagens fortes e dos efeitos especiais. Toda a história é pontuada com momentos de tensão que apenas ajudam a história a ganhar pontos. A direção é bem feita e o elenco se mostra bastante competente em suas cenas, entre eles está a diva Patricia Neal, em um de seus primeiros grande papéis em Hollywood.

O Dia em que A Terra Parou tem alguns erros, principalmente no roteiro, que apela para diversos clichês de Hollywood, como o romance e a mensagem, mas esses erros são perdoáveis devido ao fato de serem absurdamente primários, na época em que o cinema estava virando uma indústria. Ver esses momentos em um filme antigo se torna um prazer, pois foi ali que o grande entretenimento cinematográfico realmente começou a acontecer.

8.0/10

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Grey Gardens




Filmes biografia existem desde que o cinema se entende por arte, e a televisão americana, que veio passando por um longo processo de melhora nos últimos anos, sempre teve como um dos seus motores principais o uso de figuras públicas para criar muitas de suas histórias. O canal HBO, o maior em relação a entretenimento nos Estados Unidos, sempre foi conhecido pela grande marca cinematográfica que sempre deu a suas produções, lançou em 2009 uma das melhores e mais memoráveis produções a sair de sua grade de programação, o filme Grey Gardens, filme biografia sobre Edith Beale e sua filha de mesmo nome, integrantes da alta sociedade americana nas décadas de 30 e 40 e também tia e sobrinha de Jackeline Kennedy.

Tanto a Edith mãe como a filha viviam dentro do mais famoso sonho de vida americana perfeita, eram ricas, frequentavam os melhores ambientes, conheciam as pessoas com os melhores sobrenomes e moravam em uma propriedade grandiosa e perfeita, chamada Grey Gardens. Com o passar dos anos, com a separação de Edith e de seu marido e mais o sonho frustrado da filha em virar uma estrela de cinema, acabam tornando suas vidas perfeitas e cheias de festas em um pesadelo, ambas viram os maiores e mais perfeitos retratos da decadência da alta sociedade americana pós guerra.

A história sobre Grey Gardens é bastante curiosa, primeiramente foi feito um documentário sobre as duas Ediths e suas vidas fracassadas, logo em seguida foi feito uma peça de teatro baseada no documentário e depois que chegou a ser feito o filme, que usa tanto o documentário quanto a retratação do auge da vida das duas. O filme realmente é uma excelente produção, o uso da fotografia é usado com perfeição tanto para mostrar o auge como a ruína das duas, os figurinos são impecáveis e as locações totalmente fiéis. O diretor Michel Sucsy, apesar de usar bastante do uso de flashbacks e ficar sempre oscilando entre a juventude e a velhice das duas protagonistas, não se perde em nenhum momento, consegue construir uma história de narrativa perfeita e que emociona e diverte.

Jessica Lange e Drew Barrymore, que fazem as duas personagens principais, conseguem talvez, os melhores picos de suas excelentes carreiras. Drew surpreende com uma despojada e bem trabalhada atuação, apesar de usar e abusar de seu conhecido carisma, a atriz vai além do que costuma ir e brinda o público com uma entrega maravilhosa a seu papel. Apesar de Drew chamar a atenção, quem rouba a cena e o filme é Jessica Lange, a grande atriz voltou com tudo as grandes atuações depois de longos anos vivendo papéis insignificantes no cinema, a atriz mostra ao público porque é uma das melhores de sua geração mostrando uma atuação fora do comum e emocionante, é impossível não se comover com os momentos finais que Jessica aparece em cena,por essa atuação a atriz venceu o EMMY. No resto do elenco, se destacam Ken Howard como o marido de Edith e Jeanne Tripplehorn como Jackeline Kennedy.

Grey Gardens é um filme impecável em todos os sentidos, um raro momento em que direção, roteiro, produção e elenco se mostram perfeitos em todos os sentidos. Uma das melhores e mais competentes produções feitas para a televisão e duas das melhores atuações femininas dos últimos anos.
Nota: 9.5

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Cabo do Medo


O que fazer para se superar quando se torna um dos diretores americanos mais importantes de todos os tempos em menos de 20 anos de carreira e criador se clássicos do cinema como Taxi Driver e Touro Indomável? Martin Scorsese, um dos cineastas mais importantes que já passaram pela história da sétima arte com toda certeza não se preocupou com essa questão ao ter a ideia de lançar o remake do suspense Círculo do Medo, intitulado por ele de Cabo do Medo. Quando todos esperavam do diretor mais uma obra impactante e revolucionário, o gênio brindou o público com um típico filme pipoca, talvez o mais comercial de sua longa carreira.
Max Cady acaba de sair da prisão depois de 14 anos preso devido a um estupro cometido contra uma jovem de 16 anos. O que poderia ser um recomeço, acaba se tornando uma obcessão em relação ao seu ex advogado, que acabou escondendo um fato que poderia inocentar o acusado e mudar os rumos de sua vida. Rancoroso e vingativo, Max passa a perseguir seu ex defensor e sua família, aterrorizando e fazendo de tudo para terminar o seu plano sangrento, tentando pagar com a mesma moeda o homem que segundo ele, foi o grande culpado por sua ruína.
Martin Scorsese, ao pegar um filme já clássico do cinema, deu sua própria visão sobre a história utilizando a linguagem mais clássica do suspense americano, o noir. Utilizando diversas imagens desfocadas e até psicodélicas, o diretor consegue surpreender e aterrorizar o espectador com uma história impactante. Apesar de ser um ótimo filme com a marca Scorsese, Cabo de Medo não se torna uma obra de arte, é um típico filme de suspense americano, em que o final é previamente esperado.
No elenco se destaca Robert DeNiro como o vilão Max Cady e Juliette Lewis como a filha adolescente do advogado vivido por Nick Noite, que estava no auge de sua carreira. Jessica Lange, bela e talentosa como sempre, consegue roubar algumas cenas, mas apenas cumpre apenas  o seu papel de diva em filme de grande diretor.
Cabo de Medo é um filme excelente para se passar o tempo e é recomendado para quem procura boa diversão, apesar de contar com grandes e clássicos nomes nos seus créditos, passa longe de ser uma obra de arte e é um dos filmes menos lembrados na carreira do diretor. Para uma carreira como a de Martin Scorsese, isso pode até significar pouca coisa, mas se comparado com filmes de outros cineastas, acaba se tornando um filme melhor até do que se imagina.

Nota:8,0

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Coração Selvagem



Em seus mais de 30 anos de carreira, o diretor David Lynch registrou apenas dois filmes mais próximos do cinema comercial americano. Eles foram O Homem Elefante e Veludo Azul, essas duas produções continuaram mantendo a personalidade absurda do diretor, porém, ao mesmo tempo mostrava uma linguagem mais bem amarrada e explicativa. Em 1990, o diretor chegou ao seu auge, ao lançar no mesmo ano a série Twin Peaks e o filme Coração Selvagem, ambos foram sucessos de crítica e público e representaram para o diretor o fim da revisão de seus filmes pelos estúdios. Nesse ano, Lynch se tornou livre para fazer os filmes que queria e apresentar o final ideal que sua mente tinha criado.

Coração Selvagem conta a história do casal Sailor e Lula, os dois são jovens, bonitos, rebeldes e estão totalmente apaixonados um pelo outro. Depois de assassinar um rapaz negro que tentou assediar sua namorada, Sailor passa um período na cadeia, mas logo retorna contato com Lula, os dois passam a viajar e se distanciar na diabólica mãe de Lula, Marietta Fortune, que criou um grande plano para assassinar o namorado da filha. Porém, no decorrer da história, vários pontos escondidos na narrativa passam a surgir e tentam levar o espectador ao entendimento do filme, mas ao mesmo tempo, Coração Sevagem cai no surrealismo e no imaginário, principalmente quando a história passa a ser contata pela ótica de Lula, que imagina sua vida como se estivesse no filme O Mágico de Oz.

Engane-se quem pensa que Coração Selvagem e um filme fácil e feito para as massas, David Lynch guardou nessa produção a sua personalidade mais profunda e que posteriormente iria ser apresentada de forma bem mais aberta em Cidade dos Sonhos. O filme não se prende a uma narrativa comum e mostra diversos furos em tela, a história é mostrada pela visão que os personagens tem dos acontecimentos, dessa maneira, Coração Selvagem se torna um dos melhores e mais criativos filmes feitos nos anos 90. Lynch manteu sua parceria com o produtor musical Angelo Badalamanti, e o resultado é uma das trilhas mais alternativas de um filme do diretor. Sexo, violência e rock and roll, esses foram os três elementos principais que o diretor usou nessa produção.

Nicolas Cage e Laura Dern, ambos nos auges de suas carreiras, mostram química e conexão com seus personagens, porém, o filme é totalmente de Diane Ladd. Usando de uma linguagem que iria ser aprofundado em Cidade dos Sonhos, Lynch escolheu propositalmente a atriz para viver a vilã Marietta Fortune, para quem não sabe ela é mãe na vida real de Laura Dern, e voltou ao estrelato depois que sua filha estourou no mundo do cinema, dessa forma, a relação das duas fora e dentro da tela é de competitividade.

Coração Selvagem é um dos grandes clássicos do cinema moderno e com toda certeza mereceu toda a grande atenção que recebeu por parte da crítica e do público. O filme merece ser colocado facilmente na lista de produções que definiram e representaram uma geração, pois além de sua grande qualidade narrativa e visual, ditou moda com músicas, roupas e comportamentos, ou seja, um pequeno fenômeno da cultura pop, mas sem apelar para a massificação.

9.0/10

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Anticristo



Lars Von Trier nunca se preocupou muito em seguir a tendência cinematográfica moderna, criador das trilogias "golden heart" e "american", o diretor criou polêmica e controversia na indústria pelas linguagens nada comuns de seus filmes. Quando a grande maioria dos críticos acharam que ele tinha chegado ao limite do seu experimentalismo e de sua técnica com Dogville e Manderlay, o diretor supreendeu com a sua mais nova empreitada. Anticristo, lançado em 2009, conta por um viés totalmente masoquista e despudorado como a humanidade lida com o sentimento de perda existente desde que os seres vivos passaram a formar sua personalidade no paleolítico médio. Pelo que foi mostrado nessa produção e em seu filme seguinte, Melancholia, o diretor está investindo mais em efeitos especiais e tenta mostrar, em diversas profundidades, protagonistas vivendo situações limites de suas existências.

Um casal perde de maneira trágica o seu filho pequeno e a mulher passa a lidar com o seu luto de uma forma extrema e diferente. O marido, inicialmente assustado com o comportamento da esposa, tenta fazer um tratamento alternativo para tirá-la de sua situação crítica. Levando-a para locais que a interligam com a criança, os dois passam a viver momentos surreais e se punem sexualmente por arrependimentos passados.

O filme tem um ritmo meio lento, ao investir mais no diálogo do que nas imagens, o Anticristo passa a ser, em determinado momento, uma produção monótoma. Sem preça de contar sua história, o diretor, assim como já tinha feito em Melancholia, puxa ao extremo as atuações de seus dois protagonistas, e ambos chegam aos seus auges. Quando a produção ganha ritmo e Trier passa a se focar em mostrar belas cenas, o Anticristo realmente mostra a que veio e se torna um filme bastante acima da média do que os cineastas modernos andam criando. Se o filme tem um ponto alto, esse ponto é o roteiro. Carregado de simbolismos e de momentos lúdicos, o Anticristo causou polêmica pela sua história, mas o que poucos se prenderam a perceber, é que o filme é na verdade uma fortíssima história sobre a condenação dos instintos impostos pelo cristianismo em anos de existência aos seres humanos.

Charlotte Gainsbourg e William Deffoe chegam ao extremo de suas atuações e entram em um campo interpretativo que talvez nenhum ator "sério" teria coragem de entrar. Charlotte, que venceu a Palma de Ouro do Festival de Cannes, cria uma personalidade polêmica, forte e atormentada para sua personagem e se destaca de forma grandiosa, sua atuação é com certeza uma das melhores dos últimos anos e mereceu toda a atenção que teve. Quantas atrizes conseguiriam prender os críticos a sua intepretação mesmo fazendo cenas de sexo e mutiliação? Charlotte Gainsbour conseguiu, e com excelente competência.

O Anticristo não é, definitivamente, um filme para ser assistido e entendido pela grande massa. Sua história é abertamente "complicada" e derivada da cultura erudita, ou seja, sua classificação não corresponde aos filmes feitos para o grande público, mas mesmo assim, não deixa de ser uma produção potente e envolvente, assim como a grande maioria dos outros filmes do diretor. Talvez por sua coragem, Lars Von Trier nunca tenha sido reconhecido com um indicação ao Oscar de melhor diretor, mas sua genialidade é acima disso.

8.5/10

domingo, 20 de maio de 2012

Elizabeth e Elizabeth - A Era de Ouro





A rainha Elizabeth I passou para a história como uma das maiores figuras políticas e religiosas de todos os tempos. Centrada no meio de uma família absurdamente desestruturada, Elizabeth era filha de Henrique, grande rei protestante e que tinha um grande apetite  casamenteiro, Henrique se uniu com oito mulheres diferentes em toda a sua vida, Elizabeth é fruto da segunda união, com Ana Bolena, morta anos depois a pedido do próprio Henrique. Elizabeth cresceu como filha bastarda e bastante distante do trono, devido a morte de um de seus irmãos e a problemas políticos e religiosos que impedira sua irmã, Maria, a permanecer no trono, Elizabeth virou rainha da Inglaterra ainda jovem e se deparou de cara com grandes problemas religiosos existentes. Elizabeth, assim como o pai, era protestante, e lutou contra a instauração da religião católica, fora que teve que lidar com as intrigas do trono.

Representar uma figura tão importante foi algo que o cinema sempre se prestou a fazer, e em 1998 essa ideia atingiu o seu ápice, com o filme Elizabeth, que trazia a até então desconhecida Cate Blanchett no papel principal vivendo a soberana inglesa. Ao contrário da minissérie da BBC de 1972 e o filme Mary, A Rainha da Escócia do mesmo ano, que trazia a rainha por uma ótica mais dura, o filme de 1998 se preocupou em tentar falar da rainha por um viés mais humano, tentando mostra-la como uma jovem despreparada para o trono e que teve que se adaptar a sua colocação. Passada para a história como rainha virgem, a Elizabeth do filme de 1998, tinha optado por essa ideia através de uma desilusão amorosa, ou seja, assim como em todos os filmes modernos, o romantismo estava presente também no filme, apesar desse estilo artístico ter surgido apenas no século XVIII. Esse Elizabeth de 1998 acabou sendo um dos responsáveis pela adoração que a Academia de cinema acabou depositando na história da monarquia inglesa e foi indicado a seis Oscars, fora isso, acabou gerando uma continuação lançado em 1997, e intitulado de A Era de Ouro.

A Era de Ouro pula alguns anos da história da rainha e representa um dos momentos mais críticos de seu reinado. Elizabeth vivia um bom período econômico e cultural em seu país, mas o catolicismo estava tomando conta do resto da Europa através da inquisição e não aceitavam os ideais protestantes impostos na Inglaterra. Elizabeth teve contra si o rei espanhol e ex cunhado, que queria derrubá-la do trono a todo o custo, no mesmo período, também chegou ao auge a rivalidade de Elizabeth com Mary Scoot, a rainha da escócia. Mary Scoot, da dinastia Tudor, acabou atentando contra a vida da rainha inglesa, foi condenada por traição e acabou tendo o pescoço cortado, esse fato acabou gerando a invasão da Espanha na Inglaterra, que acabou em derrota marítima em cima da Espanha e grande queda comercial. O segundo filme, assim como o primeiro, fala da rainha por uma ótica mais humana e também tenta concentrar a história em mais um romance mal sucedido da soberana. A fotografia, a montagem, a direção de arte e os figurinos do filme são excelentes e bastante fiéis a realidade da época, mas o roteiro apresenta diversos furos históricos e acabou desagradando cristãos e protestantes. Não se sabe se são verídicas as cenas do arrependimento de Elizabeth diante a morte de Mary Scoot e também as que mostram a rainha pedindo um beijo a um súdito. Esses momentos acabaram desagradando diversos críticos.  A Era de Ouro é mais uma representação comercial do cinema e que tenta criar a história da rainha por uma ótica mais comum.

Cate Blanchett, que vive a mesma Elizabeth nos dois filmes, tem uma competente e bem estruturada atuação  em ambas as produções, aproveitando que a era de Elizabeth acabou gerando o nascimento de diversos artistas, a atriz acabou pintando sua atuação com traços renascentistas. O resto do elenco está bastante competente nos dois filmes e se saem bem em suas representações.

Elizabeth e A Era de Ouro são duas das maiores super produções do cinema inglês a retratar a vida de sua família real, dois filmes impecáveis visualmente e que criam um grande sentimento expiatório na plateia, ao mostrar a rainha em momentos críticos de sua história política e pessoal. Mas que se pecam ao mostrar a história da rainha por um viés comum e as vezes até mentiroso, se apegando a criar momentos não verídicos para incrementar a história da soberana inglesa.

Elizabeth 7.5
Elizabeth - A Era de Ouro 7.0