sexta-feira, 13 de julho de 2012

Sem Destino




Fim da década de 60 do século passado, o cinema do mundo inteiro estava focando sua criatividade em uma visão mais ousada e rebelde, exemplos disso são as produções A Bela da Tarde e Blow Up. Nos Estados Unidos, os grandes campeões de bilheteria da década eram A Noviça Rebelde e Mary Poppins, ambos estrelados por Julie Andrews, que eram pontuados por temáticas imaginativas e até um pouco infantis. Com o surgimento da revolução sexual e do movimento hippie, o cinema americano foi começando a lançar suas primeiras produções mais modernas, entre elas estava A Primeira Noite de um Homem, mas o grande pontapé para a grande mudança do cinema americano aconteceu mesmo com Sem Destino, produção pequena e ousada que tinha como seus protagonistas dois motoqueiros livres vivendo em uma América careta e antiquada.

Peter Fonda e Dennis Hopper, que além de protagonistas também são roteiristas da produção, criaram uma história que representa com perfeição a geração anos 60, época em que os ideais de sociedade ficaram mais livres em relação ao modelo considerado correto. Os dois personagens do filme são modelos perfeitos para o que poderia se considerar contracultura, são rebeldes, livres e não andam nos trilhos. A viagem que começa através da venda de um pacote de cocaína, acaba ganhando ares revolucionários, quando os dois acabam cruzando com diversas figuras exóticas e que correspondem aos excluídos da sociedade.

A direção do filme, apesar de um pouco caseira, é incrivelmente bem feita, as cenas mostradas durante a viagem dos dois protagonistas são de tirar o fôlego e mostra uma América pouco vista em outros filmes do gênero. Apesar dos diálogos não serem o forte da produção,  roteiro é um dos pontos altos, mostrando conversas desfocadas da realidade, mas que representam momentos de fuga em relação ao padrão correto. O elenco também está ótimo, além dos dois protagonistas, Jack Nicholson rouba a cena como um advogado alcoólatra que entra na viagem em busca de um pouco de diversão.

Sem Destino não é apenas um filme, é um retrato de uma geração, um dos filmes mais ousados do período e que conseguiu envelhecer bem e influenciar diversas outras produções. Um dos raros momentos do cinema americano em que sétima arte conseguiu representar com perfeição a geração correspondente ao seu período.

Nota: 9,0

terça-feira, 10 de julho de 2012

O Dia Em Que a Terra Parou



Em uma tarde de 1938, Orson Welles, um dos maiores diretores americanos de todos os tempos, anunciou em seu programa de rádio que naves espaciais estavam invadindo a Terra e matando todos os habitantes do planeta. Esse fato provocou um verdadeiro pânico dentro dos Estados Unidos e a partir daí diversas pessoas passaram a relatar contatos com seres de outros planetas e também descobertas de naves espaciais rondando a Terra. Apesar de diversas pesquisas científicas que mostram que é quase impossível a existência de seres em outros planetas, diversas pessoas ainda tem a crença nesses fatos, e o cinema sempre se aproveitou disso para criar filmes com essa temática, talvez o primeiro se data no começo da década de 50 com O Dia em Que a Terra Parou.

Em um belo dia, uma nave espacial para no meio de Washington e de dentro dela sai um extraterrestre com forma humana dizendo que veio em missão de paz para alertar os terráqueos sobre um fato importante que pode mudar para sempre os rumos do planeta. Os humanos acabam não dando muita bola e a fuga do extraterrestre acaba causando um grande alvoroço no mundo inteiro. 

O Dia em Que A Terra Parou ganhou um remake em 2008, mas é seu original que realmente vale a pena ser visto. O filme foi um dos primeiros exemplares sobre o cinema catástrofe, mas diferente de outros filmes feitos depois, usa mais da inteligência do que das imagens fortes e dos efeitos especiais. Toda a história é pontuada com momentos de tensão que apenas ajudam a história a ganhar pontos. A direção é bem feita e o elenco se mostra bastante competente em suas cenas, entre eles está a diva Patricia Neal, em um de seus primeiros grande papéis em Hollywood.

O Dia em que A Terra Parou tem alguns erros, principalmente no roteiro, que apela para diversos clichês de Hollywood, como o romance e a mensagem, mas esses erros são perdoáveis devido ao fato de serem absurdamente primários, na época em que o cinema estava virando uma indústria. Ver esses momentos em um filme antigo se torna um prazer, pois foi ali que o grande entretenimento cinematográfico realmente começou a acontecer.

8.0/10

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Grey Gardens




Filmes biografia existem desde que o cinema se entende por arte, e a televisão americana, que veio passando por um longo processo de melhora nos últimos anos, sempre teve como um dos seus motores principais o uso de figuras públicas para criar muitas de suas histórias. O canal HBO, o maior em relação a entretenimento nos Estados Unidos, sempre foi conhecido pela grande marca cinematográfica que sempre deu a suas produções, lançou em 2009 uma das melhores e mais memoráveis produções a sair de sua grade de programação, o filme Grey Gardens, filme biografia sobre Edith Beale e sua filha de mesmo nome, integrantes da alta sociedade americana nas décadas de 30 e 40 e também tia e sobrinha de Jackeline Kennedy.

Tanto a Edith mãe como a filha viviam dentro do mais famoso sonho de vida americana perfeita, eram ricas, frequentavam os melhores ambientes, conheciam as pessoas com os melhores sobrenomes e moravam em uma propriedade grandiosa e perfeita, chamada Grey Gardens. Com o passar dos anos, com a separação de Edith e de seu marido e mais o sonho frustrado da filha em virar uma estrela de cinema, acabam tornando suas vidas perfeitas e cheias de festas em um pesadelo, ambas viram os maiores e mais perfeitos retratos da decadência da alta sociedade americana pós guerra.

A história sobre Grey Gardens é bastante curiosa, primeiramente foi feito um documentário sobre as duas Ediths e suas vidas fracassadas, logo em seguida foi feito uma peça de teatro baseada no documentário e depois que chegou a ser feito o filme, que usa tanto o documentário quanto a retratação do auge da vida das duas. O filme realmente é uma excelente produção, o uso da fotografia é usado com perfeição tanto para mostrar o auge como a ruína das duas, os figurinos são impecáveis e as locações totalmente fiéis. O diretor Michel Sucsy, apesar de usar bastante do uso de flashbacks e ficar sempre oscilando entre a juventude e a velhice das duas protagonistas, não se perde em nenhum momento, consegue construir uma história de narrativa perfeita e que emociona e diverte.

Jessica Lange e Drew Barrymore, que fazem as duas personagens principais, conseguem talvez, os melhores picos de suas excelentes carreiras. Drew surpreende com uma despojada e bem trabalhada atuação, apesar de usar e abusar de seu conhecido carisma, a atriz vai além do que costuma ir e brinda o público com uma entrega maravilhosa a seu papel. Apesar de Drew chamar a atenção, quem rouba a cena e o filme é Jessica Lange, a grande atriz voltou com tudo as grandes atuações depois de longos anos vivendo papéis insignificantes no cinema, a atriz mostra ao público porque é uma das melhores de sua geração mostrando uma atuação fora do comum e emocionante, é impossível não se comover com os momentos finais que Jessica aparece em cena,por essa atuação a atriz venceu o EMMY. No resto do elenco, se destacam Ken Howard como o marido de Edith e Jeanne Tripplehorn como Jackeline Kennedy.

Grey Gardens é um filme impecável em todos os sentidos, um raro momento em que direção, roteiro, produção e elenco se mostram perfeitos em todos os sentidos. Uma das melhores e mais competentes produções feitas para a televisão e duas das melhores atuações femininas dos últimos anos.
Nota: 9.5