Gilbert Grape é um jovem que parece carregar todas as obrigações do mundo em cima dos seus ombros. Seu pai se suicidou a cerca de 20 anos e deixou no mundo sua mãe, que virou obesa e não sai de casa a cerca de 7 anos, duas irmãs excêntricas e um irmão que sofre de deficiência mental e por quem Gilbert se sente, e é, totalmente responsável. Para não ser consumido pelo tédio de sua pequena cidade, Gilbert se envolve com uma mulher casada que faz compras no supermercado onde trabalha. A maior diversão do lugar onde o protagonista mora é esperar uma vez por ano a passagem de turistas com seus carros, e é nesse pequeno evento que ele conhece Becky, jovem esperituosa e livre com quem acaba se envolvendo.
Olhando pelo lado óbvio, Gilbert Grape não parece ser um filme que ofereça grandes emoções e nem bons momentos cinematográficos, mas poucos esquecem que existe um pequeno nincho que se concentra em contar pequenas histórias de personagens comuns e que não se envolvem em grandes acontecimentos, mas que guardam grande valor emocional em sua essência. Lasse Hallstrom, diretor do clássico Minha Vida de Cachorro, é um especialista em criar bons filmes sobre a ótica dos pequenos acontecimentos, seus filmes geralmente refletem as histórias de pequenos personagens que passam despercebidos do grande público, mas que se mostram totalmente interessantes sobre um olhar mais atento. Gilbert Grape é um ótimo exemplo disso, o protagonista tem apenas a ambição de sair de sua cidade e se sentir menos responsável, mas com o decorrer da história, se mostra mais interessante do que aparenta a primeira vista.
O diretor pontua seu filme com uma boa fotografia e um excelente roteiro, mostra afinidade com seu elenco e se mostra a vontade com a história que está contando, esse talvez seja, ao lado de Minha Vida de Cachorro, um dos seus melhores filmes e onde o diretor conseguiu mostrar mais proximidade com a genialidade. O elenco conta com dois nomes que logo depois iriam se tornar grandes, Johnny Deep, que mostra sensibilidade como o protagonista e Leonardo Dicaprio, roubando a cena como Arnie, o irmão deficiente de Gilbert. Juliette Lewis, no auge da carreira, mostra porquê é considerada até hoje uma das melhores atrizes jovens a surgir em Hollywood, sua atuação é construída nos pequenos detalhes e baseado no seu talento natural, em alguns momentos parece que a atriz deixa o filme rolar e entra no seu personagem sem ao menos ensaiar, e por isso se torna ainda mais irresistível.
Gilbert Grape se torna tocante e emocionante com o decorrer do tempo. São lindas as cenas finais que oferecem momentos de verdadeiro valor simbólico para os sentidos de amor, morte e saudade. Sem a necessidade de diálogos densos entre seus personagens, o filme toca pelas belas imagens e pelas atuações de seu ótimo elenco.
8.5/10
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