quinta-feira, 3 de maio de 2012

Namorados Para Sempre



Movimento que mudou para sempre o comportamento das sociedades globais do século XVIII até hoje em dia, o romantismo colocou em pauta a beleza, as ilusões amorosas e sentimentalismo. Sendo totalmente responsável por uma revolução artística que mudou a música e o teatro, o cinema, surgido no século XIX, já nasceu no meio dessa nova visão de mundo, e teve romances como seu grande motor. Grandes produções como Casablanca e Além da Eternidade, fizeram sucessos estrondos e levaram casais ao redor do mundo a suspirar, porém, data-se em 1977, o surgimento de uma visão contrário ao romantismo, os filmes anti-romanticos, no caso, Annie Hall, dirigido por Woody Allen e com Diane Keaton no elenco, onde um judeu se apaixonava perdidamente por uma garota moderna e não era correspondido, tendo ambos, finais felizes, porém, separados. Apesar do humor presente em Annie Hall, esse filme foi responsável pela influência em diversas outras produções, que vão de Brilho Eterno sem Lembranças e passam até por 500 Dias com Ela. Namorados Para Sempre, é filho direto de Annie Hall, porém, ao contrário de seu inspirador, tem uma visão bem mais triste, sádica e voyeur, levando seus dois protagonistas ao limite da convivência.

Namorados Para Sempre pode ser dividido facilmente em dois filmes, o primeiro, mostra os jovens Cindy e Dean começando a se apaixonador um pelo outro, os dois se conhecem por acaso em um asilo e de cara se atraem fisicamente. Charmoso e galanteador, Dean se interessa por Cindy e passa a cortejá-la, a jovem, que estuda para medicina e anda enrolada com o namorado mauricinho, cede aos desejos do rapaz e passa a viver com ele momentos livres e prazerosos. Cindy acaba engravidando e os dois se casam, dando vida a um final "feliz" e perfeito para agradar qualquer fã de romance. Apenas por essa parte o filme já é especial, mas ganha muito mais vida e corpo a partir da segunda parte, onde mostra Cindy e Dean infelizes em seu casamento, o rapaz, que antes era divertido e encantador, se mostra um homem rude e pouco sociável. Se antes ele entragava flores, agora ele chama a esposa para passar uma noite em um hotel barato e vulgar, já Cindy, que era vivaz no fim da adolescência, se torna uma mulher deprimida, apagada e obscura. Convivendo de maneira degradante, os dois se tornam o símbolo maior da ruina do romantismo e na crença em um "final feliz" que o cinema americano tanto pregou.

Derek Cianfrance, que teve com Namorados Para Sempre o seu primeiro filme, mostra competência e excelente bom gosto na sua produção. As cenas que mostram Cindy e Dean na juventude usam cenários abertos, coloridos, vivos e joviais, já na fase madura, o diretor usa e abusa da fotografia dark e de lugares fechados e apertados, mostrando uma bela e eficaz simbologia para as almas dos dois protagonistas. Não se prendendo a cronologia, o diretor cria duas versões da história, indo e voltando sem parar no tempo, os dois lados se completam no final e ajudam a entender qual a razão para um casal tão jovem e belo ter se tranformado em duas criaturas tão infelizes. A trilha sonora produzida Grizzly Bear é linda e recebe atenção merecida nos melhores momentos do filme.

Michelle Williams e Ryan Gosling, estão perfeitos em suas atuações. Mostrando química acima da média no cinema atual, os dois se destacam também em suas cargas dramáticas. Michelle é um caso a parte, a atriz começa de forma simples e crua, para depois crescer bastante durante a projeção e terminar de forma linda e sútil o seu trabalho, mereceu sua indicação ao Oscar e com uma divulgação maior teria tido mais chances.

Quem for assistir Namorados Para Sempre tem que deixar para lá o seu título nacional, o filme ganha vida com seu nome original, Blue Valentine, que significa Namoro Triste. Embarcando nessa característica do roteiro, o espectador pode se supreender e se deparar com um excelente e belíssimo filme.

8.5/10

                                          Gosling e Williams: Final nada feliz

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