segunda-feira, 21 de maio de 2012

Anticristo



Lars Von Trier nunca se preocupou muito em seguir a tendência cinematográfica moderna, criador das trilogias "golden heart" e "american", o diretor criou polêmica e controversia na indústria pelas linguagens nada comuns de seus filmes. Quando a grande maioria dos críticos acharam que ele tinha chegado ao limite do seu experimentalismo e de sua técnica com Dogville e Manderlay, o diretor supreendeu com a sua mais nova empreitada. Anticristo, lançado em 2009, conta por um viés totalmente masoquista e despudorado como a humanidade lida com o sentimento de perda existente desde que os seres vivos passaram a formar sua personalidade no paleolítico médio. Pelo que foi mostrado nessa produção e em seu filme seguinte, Melancholia, o diretor está investindo mais em efeitos especiais e tenta mostrar, em diversas profundidades, protagonistas vivendo situações limites de suas existências.

Um casal perde de maneira trágica o seu filho pequeno e a mulher passa a lidar com o seu luto de uma forma extrema e diferente. O marido, inicialmente assustado com o comportamento da esposa, tenta fazer um tratamento alternativo para tirá-la de sua situação crítica. Levando-a para locais que a interligam com a criança, os dois passam a viver momentos surreais e se punem sexualmente por arrependimentos passados.

O filme tem um ritmo meio lento, ao investir mais no diálogo do que nas imagens, o Anticristo passa a ser, em determinado momento, uma produção monótoma. Sem preça de contar sua história, o diretor, assim como já tinha feito em Melancholia, puxa ao extremo as atuações de seus dois protagonistas, e ambos chegam aos seus auges. Quando a produção ganha ritmo e Trier passa a se focar em mostrar belas cenas, o Anticristo realmente mostra a que veio e se torna um filme bastante acima da média do que os cineastas modernos andam criando. Se o filme tem um ponto alto, esse ponto é o roteiro. Carregado de simbolismos e de momentos lúdicos, o Anticristo causou polêmica pela sua história, mas o que poucos se prenderam a perceber, é que o filme é na verdade uma fortíssima história sobre a condenação dos instintos impostos pelo cristianismo em anos de existência aos seres humanos.

Charlotte Gainsbourg e William Deffoe chegam ao extremo de suas atuações e entram em um campo interpretativo que talvez nenhum ator "sério" teria coragem de entrar. Charlotte, que venceu a Palma de Ouro do Festival de Cannes, cria uma personalidade polêmica, forte e atormentada para sua personagem e se destaca de forma grandiosa, sua atuação é com certeza uma das melhores dos últimos anos e mereceu toda a atenção que teve. Quantas atrizes conseguiriam prender os críticos a sua intepretação mesmo fazendo cenas de sexo e mutiliação? Charlotte Gainsbour conseguiu, e com excelente competência.

O Anticristo não é, definitivamente, um filme para ser assistido e entendido pela grande massa. Sua história é abertamente "complicada" e derivada da cultura erudita, ou seja, sua classificação não corresponde aos filmes feitos para o grande público, mas mesmo assim, não deixa de ser uma produção potente e envolvente, assim como a grande maioria dos outros filmes do diretor. Talvez por sua coragem, Lars Von Trier nunca tenha sido reconhecido com um indicação ao Oscar de melhor diretor, mas sua genialidade é acima disso.

8.5/10

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