terça-feira, 1 de maio de 2012

Albert Nobbs



Protagonista de uma peça de teatro em 1982 baseado no conto do romancista irlandês George Moore, Glenn Close, uma das maiores atrizes americanas, esperou mais de 15 anos para levar para o cinema a história da mulher desesperada para sobreviver no meio de uma Irlanda dominada pela pobreza e pelo machismo e que se veste de homem para trabalhar em hotéis. Albert Nobbs não é um texto de muita genialidade e uma adaptação para o cinema poderia render um dramalhão, o que em determinado ponto até acontece, mas estão dentro dele todas as características que fizeram a moda do cinema inglês nos anos 80 e 90. Se a intenção da atriz e do diretor Rodrigo García era criar uma história acadêmica e feita para emocionar os votantes, eles conseguiram.

Albert Nobbs, como já tinha sido falado anteriormente, é uma mulher fantasiada de homem para tentar trabalhar e sobreviver. Tentando esconder qualquer suspeita, Albert se torna o funcionário modelo, prestativo, discreto e eficiente, um dia ele divide o quarto com um pintor e sua real identidade é revelada, mas ao invés de medo, a revelação se tranforma em alívio, já que o tal pintor também é uma mulher se passando por homem, mas ao contrário de Albert, que não tem sexualidade definida, Mr. Page, o pintor, vive em uma relação homossexual com outra mulher a anos. Ambicionando uma vida estável e um futuro profissional, Albert passa a cortejar Helen Dawes, empregada do hotel onde trabalha, porém esse sentimento irá se tranformar em decepção e tristeza.

Albert Nobbs em diversos momentos lembra outros filmes, caso de Vestígios do Dia de James Ivory, Assassinato em Gosford Park de Robert Altman e YENTL de Barba Streisand, até aí, nada de mau, já que a intenção do filme é realmente se vender como um ótimo produto de etiqueta acadêmica e oscarizável. Albert Nobbs inicialmente perde e muito no quesito ritmo, sem ter nenhum pouco de pressa, o diretor Rodrigo Garcia constrói seu filme aos poucos e mostra os personagens de forma lenta, primeiramente como pessoas comuns e até com tom de humor, mas logo em seguida, quando mergulha em seus interiores, se revelavam figuras desesperadas, infelizes e carentes de afeto. Albert Nobbs, vivido brilhantemente por Glenn Close, representa toda a carga emocional do filme, o personagem é sozinho em todos os sentidos e suas cenas onde procura qualquer figura que possa se apoiar e depositar carinho são de cortar o coração. O filme é bonito fotograficamente e suas locações são muito bem utilizadas, mostra um Reino Unido sujo e deplorável, onde os cidadãos ambicionam partir para "fazer a américa" na era pós Revolução Industrial.

Glenn Close mostra que o seu apego e afinidade com o roteiro realmente faziam sentido. A atriz se mostra conectada com sua personagem em todos os momentos, sua atuação começa com pequenos gestos e pequenas palavras, mas com o decorrer da projeção se mostra rica em detalhes e em emoções, a atriz brilha de forma grandiosa e particularmente foi um prazer vê-la novamente apresentar uma atuação tão bem construída e emocionante, mais uma das milhares provas de seu talento assombroso. Com uma atuação tão maravilhosa no centro do filme, seria de se espantar que teriam outras ótimas intepretações no elenco, mas é justamente isso que ocorre, Mia Wasikowska e Janet McTeer brilham em todas suas cenas, chegando juntas ao final de maneira soberba.

Albert Nobbs é um filme que incrivelmente foi mal visto pelos críticos especializados, a rejeição é incrivelmente uma supresa, já que o filme passa longe de ser ruim ou apenas mais um filme para figurar entre os votantes do Oscar. Albert Nobbs é um filme que mostra um real retrato da população inglesa pobre, a parte marginal e menos favorecida. Mostrando esse lado em cima de uma figura carismática e incomum como Albert Nobbs, o filme ganha pontos e se torna melhor que muitas produções carregadas de lobby e divulgação.

8.5/10

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