terça-feira, 8 de maio de 2012

Dançando no Escuro



Mentor e criador do movimento Dogma 95, Lars Von Trier lançou seu único filme seguindo todas as regras idealizadas por si em 1998, com Os Idiotas, no mesmo ano que seu companheiro de idealismo, Thomas Vinterberg, lançou o polêmico e cru Festa de Família. Mesmo tendo lançado um filme de grande circulação em 1996 com Ondas do Destino, foi com Os Idiotas que o diretor apresentou ao público as suas reais motivações cinematográficas, esse filme faz ponte entre sua produção de 1996 e também com Dançando no Escuro, terceira e ultima parte da sua trilogia "Golden Heart". Essa idéia do diretor colocava em pauta nos três filmes as reações humanas em relação aos sentimentos mais diversos do mundo, estão presentes no três, tristeza, alegria, dor, solidão e o pior de todos, esperança, que leva as pessoas a irem até os lugares mais surreais atrás de sua vontade.

Dançando no Escuro conta a história de Selma. Imigrante fã de musicais americanos, mas interessada nos ideais socialistas. Selma não tem manifestações políticas e nem sonhos ambiciosos para si, sua grande motivação de vida é o filho e tentar salvá-lo de um destino cruel e pelo qual ela se sente totalmente culpada. Contando com a ajuda de pessoas bondosas, Selma também será o centro de uma amostra impactante de até onde pode chegar a maldade humana. Imaginando sua vida como um grande musical, Selma usa de sua imagem fantasiosa para tentar enfrentar sua sofrida vida com mais alegria, som e cores.

Lars Von Trier criou sua obra definitiva em Dançando no Escuro, criando um roteiro imaginativo, vivo e interesantíssimo, o diretor usa de todas as linguagens mais conhecidas do cinema moderno para criar um filme real, emocionante e absolutamente brilhante. Mestre em fazer cinema com poucos recursos, Trier se mostra próximo do movimento que o lançou para o grande público em todos os momentos do filme, inclusive nas ótimas e criativas cenas em que Selma se imagina como protagonista de um grande musical. Mas Dançando no Escuro passa longe de ser um musical clássico, está mais para um anti representante do gênero, já que para criar sua história, o diretor virou seu filme do avesso.

Björk, que era famosa na cena alternativa da música, conseguiu supreender como a muito tempo uma atriz não conseguia. Era de se esperar de uma atriz competente uma atuação do mesmo nível, mas foi totalmente impactante ver uma figura tão distante do mundo do cinema mostrando uma intepretação tão densa, profunda e conectada. Björk fez uma atuação melhor e maior até do que suas obrigações pediam, e mereceu levar a Palma de Ouro do festival de Cannes, pena que o Oscar não mostrou a mesma afinidade com a personagem e não a indicou na categoria de melhor atriz, seria um verdadeiro presente para a categoria.

Dançando no Escuro é um dos poucos filmes modernos que podem ser chamados sem medo de obra de arte. Sua criação é fruto de duas mentes imaginativas, criativas e destemidas, sua realização é um feito grandioso para a história do cinema.

10/10

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