quinta-feira, 29 de março de 2012

Angels In America



O pensador e historiador Michel Foucault diz em uma de suas famosas teses, que a sexualidade do homem morreu na época do iluminismo. Antes desse movimento filosófico, a humanidade estava caminhando para uma liberação sexual, porém, devido a mudança de pensamento surgida no fim da "idade das trevas", as pessoas passaram a reprimir cada vez mais sua sexualidade, apontando sua energia para outras idéias, como se de alguma maneira, elas ao invés de exercererem sua sexualidade, passaram a exercer seu intelecto. Depois de anos de repressão, a famosa "revolução sexual" que ocorreu nos Estados Unidos no fim dos anos 50 e anos 60 do século XX, levou as pessoas a se permitirem a liberar um pouco sua libido, porém, no começo da década de 80 explodiu no mundo a AIDS. O primeiro foco desse vírus foi encontrado em São Francisco, uma das cidades que melhor aceitarem os gays. Lá que foi eleito o primeiro político assumidamente homossexual e a acontecer a primeira parada gay da história. Milhões de teorias existem sobre o que motivou o surgimento da AIDS, de teses um tanto quanto fantasiosas a outras bastante realista que acreditam que tudo não passou de uma tentativa do governo americano de barrar a liberação sexual.

Deixando um pouco de lado as teorias, sempre ocorreu um grande interesse sobre como as pessoas infectadas pelo vírus se compartam e como a AIDS age no corpo humano. Vários filmes, peças, livros e séries já tentaram mostrar para o público um portador do vírus. É conhecido que se tem uma coisa pior que a doença, é o preconceito e a falta de informação da maior parte da população. Dessa forma falar sobre portadores do vírus se torna algo delicado e complicado de ser feito.

Em 2003 o canal HBO transmitiu, em duas partes, a minissérie Angels in America, inspirada em uma peça de teatro do mesmo nome e que foi aclamado por parte do público e da crítica. Em 1985, quando Ronald Reagan era presidente dos Estados Unidos, a aids estava se espalhando e fazendo várias vítimas, uma delas era Prior, que no dia da morte da avó do seu namorado, Louis, resolve contar que está infectado. O parceiro não recebe a notícia muito bem e começa a sondar abandonar o namorado. Em um dia de trabalho, Louis conhece o advogado Joe, que se encontra em um casamento falido com a depressiva Harper, e os dois começam a ter um caso. Paralelamente, o roteiro apresenta a história do chefe de Joe, o advogado Roy Cohn, que é um gay enrustido e descobre que se encontra em estado terminal de aids, e passa a ser assombrado em seus últimos dias por uma ex cliente morta no corredor da morte.

Angels In America é um verdadeiro épico sobre a descrença que a humanidade se encontrava no fim do último milênio. A história conta de forma surrealista como a perca de fé e o sentimento de progresso dos seres humanos acabaram afetando a divindidade, que abandonou suas criações a todas as desgraças que aconteceram na cronologia do tempo.

Para encarnar um texto tão complexo e denso, o diretor Mike Nichols, que foi a mente por trás das obras de arte do cinema A Primeira Noite de um Homem e Quem Tem Medo de Virginia Woolf?, escolheu um elenco de primeira linha. Al Pacino, um dos maiores atores da história do cinema, dá vida ao inescrupuloso advogado Roy Cohn com tamanha vontade, que em em determinado momento é impossível separar criador e criatura, porém, o ator encontra uma rival de primeira linha no elenco, Meryl Streep, que dá vida a quatro personagens na história e chega ao ápice de sua carreira na última década na pele da fantasma Ethel Rosenberg. O resto do elenco é digno de aplausos, Justin Kirk e Ben Shekman, que vivem o casal gay que tem sua felicidade interrompida pelo vírus mostram sensibilidade e atuações emocionantes. Porém um dos pontos altos do elenco é o pouco conhecido Jeffrey Wright, que dá vida ao enfermeiro gay e ao Senhor Mentiras (que existe apenas na cabeça da personagem de Mary Louise Parker, também excelente), o ator mostra versatilidade acima da média ao viver os dois personagens com absurdo talento.

Angels In America definitivamente se trata de um verdadeiro marco para a história da arte. Um roteiro rico e criado por uma sensibilidade acima da média. Poucas vezes a humanidade foi representada com tamanha realidade como nesse trabalho genial. Uma nota 10 para todos os envolvidos no projeto.

                                          Al Pacino e Meryl Streep em momento épico


                                          Emma Thompson como o anjo da américa

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