quinta-feira, 29 de março de 2012

Angels In America



O pensador e historiador Michel Foucault diz em uma de suas famosas teses, que a sexualidade do homem morreu na época do iluminismo. Antes desse movimento filosófico, a humanidade estava caminhando para uma liberação sexual, porém, devido a mudança de pensamento surgida no fim da "idade das trevas", as pessoas passaram a reprimir cada vez mais sua sexualidade, apontando sua energia para outras idéias, como se de alguma maneira, elas ao invés de exercererem sua sexualidade, passaram a exercer seu intelecto. Depois de anos de repressão, a famosa "revolução sexual" que ocorreu nos Estados Unidos no fim dos anos 50 e anos 60 do século XX, levou as pessoas a se permitirem a liberar um pouco sua libido, porém, no começo da década de 80 explodiu no mundo a AIDS. O primeiro foco desse vírus foi encontrado em São Francisco, uma das cidades que melhor aceitarem os gays. Lá que foi eleito o primeiro político assumidamente homossexual e a acontecer a primeira parada gay da história. Milhões de teorias existem sobre o que motivou o surgimento da AIDS, de teses um tanto quanto fantasiosas a outras bastante realista que acreditam que tudo não passou de uma tentativa do governo americano de barrar a liberação sexual.

Deixando um pouco de lado as teorias, sempre ocorreu um grande interesse sobre como as pessoas infectadas pelo vírus se compartam e como a AIDS age no corpo humano. Vários filmes, peças, livros e séries já tentaram mostrar para o público um portador do vírus. É conhecido que se tem uma coisa pior que a doença, é o preconceito e a falta de informação da maior parte da população. Dessa forma falar sobre portadores do vírus se torna algo delicado e complicado de ser feito.

Em 2003 o canal HBO transmitiu, em duas partes, a minissérie Angels in America, inspirada em uma peça de teatro do mesmo nome e que foi aclamado por parte do público e da crítica. Em 1985, quando Ronald Reagan era presidente dos Estados Unidos, a aids estava se espalhando e fazendo várias vítimas, uma delas era Prior, que no dia da morte da avó do seu namorado, Louis, resolve contar que está infectado. O parceiro não recebe a notícia muito bem e começa a sondar abandonar o namorado. Em um dia de trabalho, Louis conhece o advogado Joe, que se encontra em um casamento falido com a depressiva Harper, e os dois começam a ter um caso. Paralelamente, o roteiro apresenta a história do chefe de Joe, o advogado Roy Cohn, que é um gay enrustido e descobre que se encontra em estado terminal de aids, e passa a ser assombrado em seus últimos dias por uma ex cliente morta no corredor da morte.

Angels In America é um verdadeiro épico sobre a descrença que a humanidade se encontrava no fim do último milênio. A história conta de forma surrealista como a perca de fé e o sentimento de progresso dos seres humanos acabaram afetando a divindidade, que abandonou suas criações a todas as desgraças que aconteceram na cronologia do tempo.

Para encarnar um texto tão complexo e denso, o diretor Mike Nichols, que foi a mente por trás das obras de arte do cinema A Primeira Noite de um Homem e Quem Tem Medo de Virginia Woolf?, escolheu um elenco de primeira linha. Al Pacino, um dos maiores atores da história do cinema, dá vida ao inescrupuloso advogado Roy Cohn com tamanha vontade, que em em determinado momento é impossível separar criador e criatura, porém, o ator encontra uma rival de primeira linha no elenco, Meryl Streep, que dá vida a quatro personagens na história e chega ao ápice de sua carreira na última década na pele da fantasma Ethel Rosenberg. O resto do elenco é digno de aplausos, Justin Kirk e Ben Shekman, que vivem o casal gay que tem sua felicidade interrompida pelo vírus mostram sensibilidade e atuações emocionantes. Porém um dos pontos altos do elenco é o pouco conhecido Jeffrey Wright, que dá vida ao enfermeiro gay e ao Senhor Mentiras (que existe apenas na cabeça da personagem de Mary Louise Parker, também excelente), o ator mostra versatilidade acima da média ao viver os dois personagens com absurdo talento.

Angels In America definitivamente se trata de um verdadeiro marco para a história da arte. Um roteiro rico e criado por uma sensibilidade acima da média. Poucas vezes a humanidade foi representada com tamanha realidade como nesse trabalho genial. Uma nota 10 para todos os envolvidos no projeto.

                                          Al Pacino e Meryl Streep em momento épico


                                          Emma Thompson como o anjo da américa

terça-feira, 27 de março de 2012

A Condenação



Laços familiares estiveram presentes em diversos clássicos que emocionaram o público e foram aclamados em premiações. É bem conhecido que os votantes acadêmicos tem um grande queda por filmes que retratam personagens reais em situações de luta, desespero e superação, diversas atrizes que tiveram a sorte de viver essas verdadeiras "heroínas" da vida real conseguiram ter ótimas atuações e subiram bons patamares em suas carreiras.

A Condenação, filme lançado em 2010, contém todos esses elementos que o público e as premiações adoram. O filme retrara a história real de Betty Anne Waters, que depois de ver seu irmão incriminado por um crime que ele, supostamente, não cometeu, entra no curso de direito e promove uma verdadeira luta por justiça nos tribunais para tirar seu irmão da cadeia e provar sua inocência. Olhando por esse lado, o filme pode ser bastante previsível, já que a história era bastante conhecida pelo público americano, mas mesmo assim, emociona e não faz feio perto de outras produções do gênero.

As boas intenções do elenco e do diretor funcionam para o gênero e o público desse estilo de produção. A história retrata de forma sensível a relação dos dois irmãos, sem apelar para tantos sentimentalismos, e a cronologia dos fatos são apresentadas de forma clara e direta. Hilary Swank, uma das atrizes favoritas da academia, não faz feio em sua atuação, carrega o filme em diversos momentos sozinha, e consegue uma atuação melhor e maior até do que sua obrigação de protagonista exigia. Os coadjuvantes são de luxo e se saem muito bem em suas atuações, Sam Rockwell, como o irmão preso injustamente mostra competência, Minnie Driver se destaca como a melhor amiga da protagonista e Juliette Lewis arrebenta em seus poucos minutos em tela com uma atuação destruidora, mais uma vez a atriz faz o que sabe de melhor, roubar a cena. Já Melissa Leo, uma das melhores atrizes descobertas pelo grande público nos últimos anos, não tem muito tempo de mostrar serviço e passa meio batida no meio do elenco.

Quem estiver atrás de um filme que contenha cenas propositalmente emocionantes e com uma história de superação vai gostar de A Condenação. O filme assim como vários outros do gênero, caso de The Blind Side, apresenta uma história feita na medida para agradar as grandes massas.

                                                     Betty Anne Waters e Hilary Swank

                                              Juliette Lewis: Poucos minutos que valem por muitos

segunda-feira, 26 de março de 2012

Notas Sobre um Escândalo



Os ingleses sempre tiveram uma forma bastante particular de filmar, em grande parte dos anos 80 e 90 eles investiram nas grandes produções de época, que agradava os acadêmicos e gerava prêmios e boa recepção da crítica, porém, depois de 1995, quando a comédia Quatro Casamentos e um Funeral virou um verdadeiro fenômeno, eles passaram a investir cada vez mais em roteiros contemporâneos e que se fixavam mais no diálogo do que na imagem. Dessa forma o cinema inglês saiu da UTI e começou a gerar bilheterias gordas mais uma vez e atrair os olhares do público e dos produtores americanos.

Notas Sobre um Escândalo é um belo representante do cinema inglês pós Quatro Casamentos e um Funeral, se trata de um ótimo drama com grandes pitadas de suspense e do cinema noir. Tem como personagem principal a professora de História Barbara, mandona e amargurada, ela também é uma lésbica reprimida. Com a chegada de uma nova professora, chamada Sheeba, a escola na qual Barbara leciona passa a ganhar novos ares. Sheeba chama a atenção de todos, inclusive de Barbara, que entende de forma errada um gesto de bondade e passa a nutrir cada dia mais uma obsessão pela sua nova colega de trabalho. Se tornando amiga e confidente da jovem e bela professora, Barbara entra na vida da amiga, e dessa forma começa a fantasiar, como uma adolescente, que um dia terá Sheeba só para si, principalmente depois que a companheira de trabalho passa a menter um caso com um aluno de 15 anos.

O filme se torna ótimo devido ao fato de ser narrado inteiramente por Barbara, que em suas noites solitárias, destila veneno em um diário sobre colegas de profissão e sobre a família de sua nova paixão. A personagem é uma das melhores criações femininas do meio cinematográfico da última década, uma pessoa de personalidade complexa e diferenciada da sociedade, poucas vezes a solidão e a velhice foi retratada de forma tão pesada como nesse filme. Para viver essa personagem de personalidade formidável, foi escalada uma das maiores atrizes da Inglaterra, a grande Judi Dench, que consegue com Barbara, a sua melhor interpretação cinematográfica até agora, a atriz consegue criar com maestria um jeito que torna a personagem ainda mais densa e sedutora. Para viver Sheeba, a professora loira e sonsa, a atriz Australiana Cate Blanchett deixou de lado, pela primeira vez, suas armas técnicas e se jogou de corpo e alma de forma espontânea em uma personagem. As duas atrizes, a maneira inglesa, criam um verdadeiro combate de personagens que torna o filme imperdível.

                                          Combate de atrizes

domingo, 25 de março de 2012

Servindo em Silêncio



Milhões de filmes já foram feitos sobre o mundo homossexual, uns muito bons e outros que nem merecem ser dignos de serem citados. Grande maioria dos filmes que falam sobre o mundo GLS constuma seguir ou para o lado do drama ou da comédia escrachada, em alguns casos, parte para o lado pseudo intelectual e fala do universo como um mundo paralelo. Aliar esse mundo já muito explorado com uma figura real e que lutou pelo "movimento" sempre é resultado de sucesso e prêmios, caso desse filme lançado para a tv em 1995 e produzido por ninguém menos que Barbra Streisand, que aparece nos créditos ao lado de Glenn Close, que além de produtora é protagonista da história.

O filme fala sobre Margarethe Cammermeyer, oficial do exército americano que lutou na guerra do Vietnã. Quando deseja subir de cargo, Margarethe acaba assumindo sua homossexualidade e simplesmente é dispensada, devido a uma absurda lei que proibe a presença de homossexuais no exército. Margarethe então, resolve processar o exército e enfrentar o preconceito da sociedade, além de assumir sua opção sexual para sua família.

O filme poderia cair facilmente no melodrama televisivo, mas não é isso que acontece. A produção é uma boa bandeira para o movimento GLS, mostrando uma luta por uma causa justa, e não por uma bandeira inútil que não faria diferença para ninguém. Usando a história de Margarethe, a produção mostra de forma saudável que os homossexuais são pessoas tão capacitadas como qualquer outra, e por essa razão merecem respeito pelo que verdadeiramente são. Glenn Close, incrível como sempre, consegue uma atuação excelente e dramática na medida, pode-se dizer facilmente que se trata de um dos seus melhores trabalhos, sua caracterização como Margarethe é perfeita, a atriz não fica apenas no campo da imitação e tenta entender a cabeça e a alma de sua personagem, as suas cenas são emocionantes e por si só valem o filme. Para viver a companheira de Margarethe foi escolhida a eclética e competente Judy Davis, que se sai maravilhosamente bem em uma atuação espontânea e sem grandes motivações. As duas conseguem mostrar naturalidade com suas personagens e passam com perfeição o sentimento que nasce entre as duas. Pelos papéis ambas ganharam o EMMY e Globo de Ouro de melhor atriz (Glenn Close) e melhor atriz coadjuvante (Judy Davis) na categoria destinada a telefilmes. Um ótimo projeto, com um grande elenco e com uma grande história de luta e vitória.


                                           Glenn Close: Diva versátil

Judy Davis e Glenn Close dando vida a suas personagens

                                                  A verdadeira Margarethe ao lado de Barbra Streisand

Desaparecido, Um Grande Mistério




A passagem do estilo colonial para a república nos países do continente americano foram motivadas por lutas e alianças políticas de vários países que comandavam o jogo econômico nos idos no século XIX. Porém existe um ditado entre historiados e pesquisadoras que coloca em pauta a dificuldade e o atraso de uma organização política na América Latina "se o mundo inteiro existe problemas políticos, na América Latina é pior". Golpes promovidos por militares pipocaram em todo o continente no século XX e atrasou o desenvolvimento do continente em bons anos, gerou muitas mortes e criou um modelo de comportamente onde qualquer pessoa que tivesse uma linha de pensamento mais libertário era logo tirado de cena para não influenciar outras pessoas.

O diretor Costa Gravas sempre colocou em pauta em seus filmes denúncias políticas e sociais e para realizar o seu primeiro filme nos Estados Unidos, ele escolheu o regime militar do América Latina como ponto central. Mas como pauta do filme, não está o impacto do regime sobre os próprios moradores da América Latina, mas sim a experiência que norte americanos vivenciaram sobre o período e o suposto envolvimento que o governo dos Estados Unidos tiveram em todos os regimes do continente do terceiro mundo.

O filme fala sobre Charles Horman, jornalista de matérias menores que vive no Chile ao lado de sua esposa Beth. Em uma temporada no litoral do país ao lado de uma amiga, Charles toma conhecimento sobre um segredo de estado e uma das razões para o golpe militar que tinha acabado de acontecer no país. Ao voltar a capital, Charles some misteriosamente, o que leva a sua esposa Beth e o seu pai Ed, a começarem uma busca desenfreada ao seu paradeiro, esteja ele vivo ou morto.

O filme tem um tema polêmico e o diretor consegue se sair bem retratando uma passagem política na qual ele não fez parte, já que Costa Gravas é Grego. Apesar de ser fiel a acontecimentos, talvez o diretor peque ao tentar romantizar algumas passagens, o que torna em determinado momento o seu trabalho um tanto quanto fantasioso, porém esse fato é logo perdoado devido ao ritmo do filme, que é rápido na medida. Sissy Spacek já era uma atriz conhecida e já tinha um Oscar, por esse filme a atriz foi indicada pela terceira vez e mostrou coragem ao topar entrar em um projeto ousado e pouco recomendável para a carreira de uma atriz em ascenção, sua atuação é dramática na medida, sem muitos exageros. Jack Lemmon que faz Ed mostra um show de atuação, provando que além de grande comediante, também é um excelente ator dramático, suas cenas são o ponto alto do filme.

                                           Sissy Spacek e Jack Lemmon: Luta pela Justiça


                                         Sissy: Atuação na medida

sábado, 24 de março de 2012

Millenium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres



Hollywood sempre adorou fazer remakes de filmes de sucesso de outros países, porém, a incompatibilidade de idéias entre os cineastas de países que não vivem em uma indústria cinematográfica e os que tem a seu favor grandes orçamentos por parte dos estúdios sempre renderam grandes fracassos de bilheteria e crítica. Para muitos especialistas a diferença principal entre o cinema europeu e o americano, é que os cineastas do "velho continente" adoram um problema, enquanto os do "novo mundo" só querem saber de solução. Se a Europa gosta de deixar algumas pontas soltas na história, os americanos fazem questão de amarrar todas essas pontas, e se em um filme europeu existe apenas uma pequena suposição sobre um romance, em um filme americano ele vira ponto central na trama.

Olhando por esse caso, o Filme Millennium- Os Homens Que Não Amavam as Mulheres não se trata propriamente de um remake, já que o diretor David Fincher deixou bem claro desde o começo que o seu filme era uma adaptação do best seller de mesmo nome, e não do filme sueco lançado em 2009. Ele pode até ter razão olhando por essa ótica, mas é inegável que dirigir esse projeto foi um grande desafio para ele, pois o filme Europeu já tinha status de cult e era considerado uma boa e fiel adaptação pelos fãs do livro.

Como Fincher tem a seu favor um grande orçamento, o seu Millennium é uma produção bem mais grandiosa que o filme original, ele usa de locações, câmeras, efeitos e fotografia muito mais avançadas, e dessa forma pode explorar o mundo bizarro e obscuro com muita mais facilidade que o diretor Niels Arden Oplev. Olhando por esse lado o filme americano poderia ser sim, considerado um melhor filme, já que em questão de diversão se sai melhor que a versão sueca, porém perde diversos pontos no fator supresa e no mistério.

O filme tem como ponto central Mikael Blomkvist, um jornalista derrotado em um processo movido por um empresário corrupto. Mikael está com a moral baixa, mas devido a sua boa capacidade investigativa, é contratado pelo empresário Henrik Vanger para tentar desvendar o sumiço de sua sobrinha, que em uma comemoração familiar acaba desaparecendo sem deixar pistas. Porém, ano após ano Henrik recebe um presente que apenas sua sobrinha mandava, dessa forma, a história se envolve no suspense e ganha pontos altos com a presença de uma personagem especial, Lisbeth Salander, hacker e anti social, mas de inteligência acima da média, que vira assistente de Mikael para desvendar o caso.

A versão americana tem tom moderno e fotografia dark, se trata de uma boa versão do livro, mas perde pontos no mistério que envolve a história. Enquanto a versão sueca prende o público ao concentrar toda sua história no caso da jovem desaparecida, usando o estilo de filmagem clássico do cinema europeu, o filme americano coloca em pauta o relacionamento afetivo que surge entre Mikael e Lisbeth, o que acaba deixando o tom de suspense um pouco de lado, e o final, que poderia ser épico, se torna um tanto quanto óbvio na versão americana, enquanto na sueca, o desenrolar da história promove um final mais criativo e sem afetações. Os filmes em determinados momentos se tornam absolutamente diferentes, já que fatos são usados em diferentes espaços de tempo.

Rooney Mara, escalada para viver Lisbeth na versão americana, tinha como maior desafio superar a elogiada atuação da atriz Noomi Rapace, que tinha feito uma Lisbeth quase impecável na versão sueca. A jovem americana mostrou inteligência em seguir as idéias do livro, dessa forma cria sua própria Lisbeth. Enquanto a protagonista de Noomi é forte, destemida, distante e fria a de Rooney é mais humana e sentimental, talvez por isso o público tenha preferido a atuação de Rooney, porém é com Noomi que Lisbeth ganha ares de heroína épica e se mostra mais fiel ao livro.

Dessa forma a versão Sueca se mostra muito mais fiel e original que a versão americana, não apenas por ter vindo primeiro, mas por ter captado melhor a essência da história.

                                           Rooney e Noomi: A cola cola e o vinho

sexta-feira, 23 de março de 2012

Ligações Perigosas



A aristocracia sempre foi alvo de curiosidade por parte dos "mortais", que sempre se sentiram fascinados com o mundo distante e grandioso levado por aqueles seres humanos com sorte, que com sua elegância e poder,  ditavam moda e comportamentos em séculos passados. A vida particular desses aristocratas sempre foi encoberto, e escândalos e fofocas geralmente só tinha repercussão dentro do próprio grupo. Talvez por esse motivo que a peça Ligações Perigosas, baseado no clássico da literatura francesa de mesmo nome, tenha feito tanto sucesso enquanto esteve em cartaz nos palcos ingleses. Poucas vezes a vida desses tais aristocrátas foi representado com uma visão tão ousada e mordaz.

O filme tem como ponto central a Marquesa de Merteuil, mulher poderosa e admirada, ela frequentemente recebe a visita do Visconde de Valmont, entediados em suas vidas com poucos afazeres, eles tem como suas principais diversões, manipular e difamar a vida de outras pessoas. Visconde de Valmont, homem sedutor e mal visto, tem como nova ambição na vida conquistar a Madame de Tourvel, mulher casada, religiosa e correta, enquanto a Marquesa de Merteuil deseja acabar com a reputação da jovem Cécile, que está prometida para um ex amante seu. Nesse jogo de sedução Marquesa de Merteuil e Visconde de Valmont apostam todas suas fichas sem se importar com as consequências que irão surgir através de suas atitudes.

A produção foi indicada a 7 Oscars e foi bastante elogiada pela crítica especializada, hoje em dia é visto como um verdadeiro clássico e admirado como uma das melhores produções feitas pelo cinema nos anos 80. Stephen Frears, que estava fazendo sua estréia no cinema americano, foi admirado pela ousadia e criatividade em filmar um roteiro absolutamente difícil de ser filmado. O figurino é impecável, e a reconstituição de época absolutamente fiel. As atuações são excelentes, Michelle Pfeiffer em início de carreira, apresenta uma atuação dramática acima da média, sua personagem que é trágica e distante no livro, consegue parecer totalmente real no filme, John Malkovich consegue se destacar com uma atuação que tinha tudo para ser caricata, mas que devido a criativade do interprete, consegue transparecer naturalidade, mas nada no filme se compara a Glenn Close. A grande atriz americana consegue uma atuação atemporal, com o uso de poucos gestos e muitos olhares consegue transformar a Marquesa de Merteuil em uma das personagens mais épicas da história do cinema, as cenas finais da atriz no filme são momentos antológicos da história da sétima arte, por esse papel Glenn se consagrou como uma das melhores de sua geração. Um filme grandioso, um verdadeiro épico.


                                           "Why don´t you love me academy?"

quinta-feira, 22 de março de 2012

Os Imorais



Em 1988 o diretor Stephen Frears estourou no mundo do cinema dirigindo o clássico Ligações Perigosas, em que as aventuras sexuais de dois aristocrátas acabavam afetando a vida de várias pessoas que os cercavam. Em 1990 Stephen voltou a lançar outra produção, que assim como Ligações Perigosas, trazia três protagonistas ligados pela ambição, mas que a contrário do filme anterior, não se resumia a jogos sexuais para prazer pessoal.

O filme tem como ponto central no trio a mafiosa Lily, que vive de aplicar golpes. Lily usa o dinheiro do gangster para quem trabalha para apostar em corrida de cavalos. Afastada a anos de seu filho Roy, Lily volta a procurá-lo em busca de algum contato. No seu retorno Lily acaba conhecendo Myra, namorada do seu filho, que acaba virando sua rival, tanto pelo amor de Roy como na vida bandida. A relação, um tanto quanto incestuosa da mãe e do filho acaba provocando a raiva de Myra, que planejava ter Roy como parceiro, provocando uma verdadeira bola de neve que levará os três protagonistas de alguma fora, a um fim trágico.

Do começo ao fim, o filme é uma grande homenagem as produções noir dos anos 30 e 40, o tom de suspense é presente em todos os momentos, seja no desenrolar na história, na trilha sonora e até na fotografia. O filme apresenta um roteiro com muitas variações, e o diretor com seu grande talento consegue se sair muito bem, arrancando ótimas atuações dos três atores principais. Anjelica Huston consegue a melhor atuação de sua carreira como uma heroína sem caráter que faz de tudo para sempre sair por cima, John Cusack cumpre bem seu papel de ator prodígio escalado para uma boa produção e Annette Bening rouba a cena como a trapaceira e perigosa Myra, a atriz consegue tirar humor e drama de sua personagem, e depois desse filme garantiu seu passaporte para ser eleita uma das melhores atrizes de sua geração. Um filme forte e bem feito, não tão bom quanto Ligações Perigosas, mas mesmo assim acima da média.

                                           Annette: Show de talento

quarta-feira, 21 de março de 2012

Será que Ele É?



Em 1994 Tom Hanks ganhou o Oscar de melhor ator pelo filme Filadélfia, onde vivia um um gay com aids em estado terminal, a ótima atuação de Hanks convenceu todos os votantes e na hora do seu agradecimento, o ator lembrou de um professor gay que tinha no seu ensino médio e o agradeu por ele ser tão inspirador para sua vida em carreira. Essa situação curiosa foi o gerador do filme Será que Ele é? lançado em 1997.

O filme fala sobre Howard, professor de uma cidade do interior que tem uma vida normal, é querido pelos alunos e por todos os moradores, é noivo de uma amável colega de profissão e tem uma família bem estruturada. Um dos seus ex alunos acaba vencendo o Oscar e em seu discurso ele agradece seu professor da época da escola por ter sido uma inspiração e acaba falando em rede nacional que ele é gay. Esse fato acaba colocando a vida do Howard de pernas para o ar, da noite para o dia ele passa a ser perseguido por toda a imprensa e seus amigos, alunos e familiares passam a se perguntar se ele realmente não seria gay, pois ele sempre apresentou características que possivelmente o fariam ser um homossexual, como por exemplo, ele gostar de Barbra Streisand.

O filme é divertido e não usa em nenhum momento algum tipo de humor baixo nível, é inteligente e não força situações engraçadas. O elenco está brilhante, Kevin Kline dá um show de atuação como Howard, nas cenas em que seu personagem passa a ficar cada vez mais confuso e com dúvidas sobre sua sexualidade, ele mostra o quanto é um ator versátil e talentoso, porém é Joan Cusack que rouba a cena. A atriz que já tinha sido indicada ao Oscar em 1989 por Uma Secretária de Futuro mostra ser uma das melhores atrizes cômicas de sua geração, fazendo uma atuação sem afetações e bastante natural. Filme indicado para quem procura uma boa diversão.

                                           Joan Cusack e Kevin Kline


                                                       Joan Cusack: Roubando a cena

As musas de Woody Allen


O diretor Woody Allen é um dos mais respeitados diretores, roteiristas e atores do meio artístico, muitos de seus filmes podem ser considerados clássicos do cinema e revolucionaram a forma de se fazer filmes. Depois do sucesso Annie Hall (Noivo Neurótico, Noiva Nervosa) os conhecidos "anti romances" viraram moda e sua influência pode ser vista até hoje em produções como 500 Dias com Ela e Namorados para Sempre. Porém uma das coisas que mais chamam atenção em Woody Allen é o fato dele sempre ter uma musa favorita em determinados momentos de sua carreira, vejam quais foram elas...

Louise Lasser

A atriz fez com o diretor três produções clássicas dos anos 60 e 70, Um Assaltante bem Trapalhão, Bananas e Tudo o Que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo (Mas Tinha Medo de Perguntar). A parceria não durou muito, pois na época o diretor criava filmes sempre para serem estrelados por ele próprio, sem nenhum personagem feminino marcante ou muito relevante para a história.

Diane Keaton



A atriz e o diretor se conheceram nas filmagens do filme Sonhos de um Sedutor, do diretor Herbert Ross, que tinha os dois como protagonistas da história. Em seguida ela fez seu primeiro filme dirigido por Woody, chamado O Dorminhoco e lançado em 1973, em seguida os dois começaram a ter um relacionamento amoroso. Em 1975 e 1976 fizeram outros filmes em parceria, eles foram A Última Noite de Boris Grushenko e Testa de Ferro por Acaso, que ainda tinham o diretor como protagonista absoluto, apenas em 1977 que Woody criou um papel central para sua musa, o filme em questão se chamada Annie Hall. A produção foi um verdadeiro sucesso de crítica e de público, pela sua boa interpretação no filme Diane ganhou o Oscar de melhor atriz e se consagrou como uma das melhores atrizes de sua geração, fora isso a produção ganhou mais três prêmios importantes na noite, Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original. Em 2005 quando estava no festival de Cannes, o diretor deu créditos a Diane, falando que foi através do relacionamento dos dois que ele passou a escrever personagens femininos importantes em sua história. Depois de Annie Hall os dois trabalharam em mais três produções, Interiores (que contava com a participação da soberba Geraldine Page), Manhatam (que contava também com as presenças das então iniciantes Meryl Streep e Mariel Hemingway) e Um Misterioso Assassinato em Manhantam, última produção que os dois trabalharam junto.

Mia Farrow


Mia Farrow já era uma atriz famosa e respeitada no meio artistico antes de se casar e virar a musa oficial de Woody Allen nos anos 80 e começo da década de 90, ela tinha sido a protagonista do clássico do terror e do suspense O Bebê de Rosemery e tinha sido casada com Frank Sinatra. O primeiro filme que os dois fizeram juntos foi Sonhos Eróticos de Uma Noite de Verão, se seguiram outras produções de sucesso como A Rosa Púrpura do Cairo, Hannah e Suas Irmãs, A Era do Rádio, Alice e Maridos e Esposas. Ao todo o casal fez doze filme juntos. O relacionamento dos dois teve um fim bastante polêmico, Woody Allen se apaixonou pela filha adotiva de Mia e passou a se relacionar com ela. Mia pediu o divórcio e ficou com a guarda do filho dos dois.

Dianne Wiest


Enquanto esteve casado com Mia Farrow, Woody Allen também contou com a ajuda e o talento de Dianne Wiest. Em 1986 a atriz atuou em dois filmes do diretor, A Era do Rádio e Hannah e Suas Irmãs, essa última atuação acabou rendendo a Dianne o Oscar de melhor atriz coadjuvante. Em seguida Dianne fez outro filme com o diretor chamado Setembro, produção considerada pequena na biografia do diretor. Em 1994 voltaram a trabalhar juntos em Tiros Na Brodway, que rendeu a Dianne o seu segundo Oscar de atriz coadjuvante.

Judy Davis


A atriz trabalhou com o diretor pela primeira vez no filme Siplesmente Alice, produção de 1990 que trazia Mia Farrow como protagonista, em seguida fizeram juntos Maridos e Esposas, Judy teve uma atuação super elogiada na produção e concorreu ao Oscar, ao Globo de Ouro e ao BAFTA. Em 1997 fizeram juntos Desconstruindo Harry e esse ano Judy volta a trabalhar com o diretor em To Rome With Love.

Scarlett Johansson


Em 2004 o diretor queria a atriz Kate Winslet para interpretar a personagem feminina principal em Match Point, como a atriz acabou desistindo da produção, o papel acabou caindo nas mãos de Scarlett Johansson, que vinha de uma atuação super elogiada em Encontros e Desencontros. O filme foi super elogiado pela crítica, considerado a grande volta do diretor aos bons filmes, Scarlett se saiu bem no papel da amante inconformada e chegou a ser indicada ao Globo de Ouro. Os dois fizeram mais dois filmes juntos, Scoop e Vicky Cristina Barcelona, porém a parceria parece não ter durado muito.

Penelope Cruz


A espanhola ganhou seu Oscar sobre a direção de Woody Allen, sua atuação em Vicky Cristina Barcelona foi considerada um dos pontos altos do filme, o diretor parece ter gostado tanto de trabalhar com a atriz que a escalou novamente para um papel de destaque em seu novo filme, To Rome With Love.

terça-feira, 20 de março de 2012

Judy Davis volta em novo filme de Woody Allen.

Judy Davis, grande atriz Australiana que foi protagonista do clássico Passagem para a Índia está de volta ao cinema. Depois de anos de dedicação a televisão em telefilmes e minisséries de sucesso, Judy volta a trabalhar com um dos diretores mais aclamados de todos os tempos, o americano Woody Allen, com quem já tinha trabalhado anteriormente em Desconstruindo Harry e Maridos e Esposas (filme que rendeu a ela uma indicação na categoria de melhor atriz coadjuvante do Oscar 1993).Vai ser uma ótima oportunidade para a nova geração descobrir a grande atriz que e Judy Davis.

A Escolha de Sofia



Poucos fatos históricos conseguiram gerar tantos filmes como a segunda guerra mundial, fato que motivou a morte de centenas de judeus e pessoas de raças consideradas não arianas. Algumas produções marcaram época e podem sem consideradas verdadeiras obras primas, como A Lista de Schindler, filme de Steven Speilberg de 1993, já outras são verdadeiras obras caça níqueis, que usam o sofrimento da segunda guerra apenas para lucros, caso de O Menino do Pijama Listrado. Olhando por essa forma o cinema parece ter criado uma verdadeira indústria do holocausto. A produção A Escolha de Sofia não se encaixa em nenhum dos dois casos, não é um filme feito propriamente sobre a segunda guerra mundial e também não é uma obra feita para o entretenimento ou para comover o público, também não é um filme que fala sobre a culpa alemã, caso de O Leitor. É um filme que fala das escolhas que mudaram a vida de apenas uma pessoa, não de uma nação, no caso Sofia, a protagonista do livro A Escolha de Sofia e posteriormente do filme lançado em 1982 e que é considerado uma verdadeira obra prima.

Stingo, um aspirante a escritor do sul dos Estados Unidos parte para Nova York com o sonho de lançar seu primeiro livro, instalado na casa de uma senhora que aluga seus quartos para outros moradores, Stingo conhece Nathan, biólogo de comportamente instavel e sua namorada Sofia, uma polonesa de passado desconhecido que demonstra comportamento sofrido. Na primeira metade da produção o filme se concentra no relacionamento tempestuosa de Nathan e Sofia, tendo Stingo como observador, o casal passa a enfrentar situações de ciumes, dúvidas e desentendimentos. Nathan simplesmente não entende o motivo ou a razão para Sofia ter se libertado do campo de concentração, a partir daí o filme vai para sua segunda parte e começa a concentrar sua atenção para a atormentada e misteriosa história de Sofia, que conta sua experiência como prisioneira no campo de concentração e sobre culpas e arrependimentos que marcaram sua vida para sempre.

Sofia talvez seja de longe uma das personagens mais icônicas e lembradas da história do cinema, sua personalidade complexa e misteriosa não poderia ter sido interpretada por qualquer atriz. O diretor Alan J. Paluka ficou em dúvida sobre quem escolheria para o papel, no fim optou por Meryl Streep, que estava no início da carreira, mas que já tinha vencido o Oscar de melhor atriz coadjuvante e um ano antes tinha tido uma atuação elogiada em A Mulher do Tenente Francês. Assistindo ao filme, chega-se a idéia que talvez não exista outra atriz capaz de interpretar a personagem com tamanho talento. A Sofia vivida por Meryl Streep é pura emoção, a atriz não teve nenhum medo ao dar vida a protagonista. Meryl aprendeu polonês e se entregou de corpo e alma a cabeça da personagem, ficou magra e até raspou a cabeça, fora isso tudo, mostra incrível sintonia emocional e psicológica, em determinados momentos Meryl some em sua interpretação e dá espaço cada vez mais para Sofia mostrar sua história. São épicas as cenas da segunda metade do filme onde a personagem passa a contar sua história para Stingo, é impossível o espectador em algum momento não sentir um nó na garganta, seja no momento que Sofia está no campo de concentração ou até no emocionante e marcante momento onde Sofia faz a escolha que mudará para sempre sua vida.

Fora a presença de Meryl Streep, a produção conta com outras ótimas qualidades. A direção é muito bem apurada, a fotografia é muito bem feita, na parte americana é forte e colorida, porém cinzenta e obscura na parte do campo de concentração, esse truque ajuda a espectador a não se prender apenas ao texto ou as interpretações, mas também na imagem. As outras atuações são muito boas, principalmente a de Kevin Kline, que estava em início de carreira e já mostrada um grande talento dramático. O filme é uma das produções mais marcantes dos anos 80, Meryl Streep ganhou o Oscar de melhor atriz pelo personagem e a produção foi bastante elogiada pelos críticos. Um grande filme que não envelhece nunca.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Um Grito no Escuro

Poucos casos chamaram tanto a atenção na história da Australia como o caso da família Chamberlain. A família Chamberlain era considerada uma família normal, o marido e pai Michael Chamberlain era pastor e tinha feito mestrado e estava partindo para seu doutorado, a esposa e mãe Lindy Chamberlain era dona de casa e cuidava dos filhos, ambos eram queridos pela cidade onde moravam e pelos fiéis da igreja de Michael. Em um final de semana os dois resolvem ir visitar um ponto turistico de seu país e em um intervalo de um churrasco, quando Lindy resolve colocar seu bebê de 1 mês para dormir, ela ouve um choro, volta a barraca e vê uma espécie de animal comum da Austalia, o dimbo, se movimentando perto da criança e depois constata que sua bebê, Azaria, tinha sumido.

Primeiramente Lindy e Michael são considerados inocentes, porém a moral da família já estava totalmente destruída, a fofoca e as teorias rondavam pela Australia, alguns falavam que o casal tinha assassinado a filha em um ritual macabro. Da noite para o dia os dois viram o assunto preferido da imprensa marrom e dos programas sensacionalistas. Um ano depois de serem inocentados o caso é reaberto baseado em um estudo de um suspeito perito inglês, que fala que é impossível um dimbo ter levado uma criança na sua boca, dessa forma o casal é julgado, não apenas pela justiça, mas por toda a população Autraliana, e considerados culpados de assassinato. O caso poderia constar em qualquer livro do escritor Franz Kafka, tamanho os absurdos apresentados no julgamento, todas as testemunhas foram desconsideradas e o júri baseou sua sentença apenas na opinão do tal perito inglês, que já tinha errado em um caso anterior de muita repercussão na Inglaterra.

O caso ganhou repercussão mundial e gerou um filme lançado em 1988 nos Estados Unidos. Para viver Lindy Chamberlain foi escolhida Meryl Streep, que era a atriz favorita de Hollywood na época para viver personagens dramáticos e emocionalmente perturbados, fora isso, Lindy Chamberlain apresentava outro fator que Meryl adorava, a criação de uma personalidade diferente e de um novo sotaque, um dos fatores que diferenciaram a atriz de suas colegas de profissão na época. A produção foi bastante elogiada pela crítica, a atriz chegou a vencer a Palma de Ouro do festival de Cannes e a ser indicada ao Oscar na categoria de melhor atriz.

A produção realmente não faz feio, o diretor Fred Schepisi usa o caso da família Chamberlain para fazer uma grande crítica a imprensa e a opinião pública, que as vezes julga e condena outras pessoas apenas por não seguirem seu modelo de comportamente ideal, em determinado momento Michael se descontrola e passa a duvidar de sua fé, já Lindy passa a demonstrar impaciência nas perguntas feitas pelo promotor. Sam Neil e principalmente Meryl Streep conseguem passar muito bem a personalidade dos dois personagens retratados. Meryl consegue fugir do clichê de personagens femininas sofridas e mostra ao público uma atuação forte e não muito sentimental, a atriz cortou todas as características que fariam o público ter pena de Lindy Chamberlain, as cenas do julgamento em que ela demonstra sua emoção apenas com o olhar são brilhantes.

Um bom filme para passar o tempo, o que poderia se tornar em um filmeco que passa nos Sábados a noite na tv aberta se transforma em um ótimo filme de tribunal e brinda o público com uma grande atuação de sua atriz principal.

Seria Noomi Rapace a nova Sigourney Weaver?

A série Alien é um verdadeiro clássico da história do cinema, o primeiro filme, lançado em 1879 foi um verdadeiro fenômeno da sétima arte por aliar ação, suspense e ficção científica. A produção lançou Sigourney Weaver e a levou ao estrelato, pela atuação como a clássica Tenente Ripley, Sigourney criou a maior heroina do cinema americano por aliar uma ótima forma física com uma atuação dramática perfeita. O primeiro Alien foi dirigido por Ridley Scoot e abriu espaço para três ótimas continuações, a segunda, lançada em 1986, foi dirigida por James Cameron, que transformou a história de Ripley em uma grande produção de Hollywood e a terceira, lançada em 1992, dirigida por David Fincher, que transformou sua protagonista em uma trágica versão de Joana D´Arc.

Quando Ridley Scoot anunciou que iria dirigir uma produção chamada Prometheus, muitos fãs da série Alien ficaram estusiasmados, pois a história seria como uma espécie de prelúdio do que teria acontecido no primeiro Alien de 1979. O Trailer deixou muitos fãs um tanto quanto curiosos, a personagem vivida pela atriz Noomi Rapace (trilogia Millenium) parece ter muitas semelhanças com Ripley, várias cenas do trailer remetem a cenas clássicas de Sigourney no primeiro filme da série.

Acusados

Filme lançado em 1988 com grande polêmica dentro dos EUA, grande parte do público queria ir no cinema para ver a anunciada cena de estupro da personagem Sarah Tobias, vivida pela então jovem Jodie Foster, que estava voltando com tudo a sua carreira mais de 10 anos depois de Taxi Drive, filme que a lançou para o estrelato em 1976. O filme retrata a história de uma jovem, que depois de brigar com o namorado vai a um bar para descontrair e relaxar um pouco a cabeça, a jovem acaba bebendo mais do que devia e começa a flertar com vários homens do bar, os homens entendem de forma errada o comportamento da moça e passam a assediá-la de forma cada vez mais violenta, para dessa forma cometerem o crime e o filme partir para o campo jurídico. Com a ajuda de sua advogada, Sarah processa não só os seus estupradores, mas também todos os que incentivaram o crime, colocando o público no papel de jurado, o que você faria se estivesse no bar na hora que a moça tinha sido estuprada?

Olhando por esse ponto de vista, Acusados poderia se tornar um bom drama de tribunal e causar real polêmica ao tocar em uma ferida dos EUA, no fim do filme surge uma legenda falando que a cada seis minutos no país ocorre um estupro, e em quatro desses seis casos, a vítima é atacada por mais de uma pessoa, porém, Acusados não faz jus a essa estatística e tenta aliar o estupro com o campo do entretenimento, o que torna em determinado momento o filme piegas e sentimental. A exemplo de outras produções como Filadélfia que trazia Tom Hanks no papel de um aidético em estado terminal, mas que tinha como ponto central a relação do protagonista com seu advogado, Acusados também parte para essa linha e passa a concentrar toda a importância da história para a relação de "amizade" que surge entre Sarah Tobias e a sua advogada vivida pela fraca Kelly McGillis, o que em determinado momento ajuda a personagem que deveria ser a central, a ficar um pouco de lado, passando a focalizar apenas os esforços da advogada para condenar os malfeitores.

Por sorte o filme conta a atuação de Jodie Foster como Sarah Tobias, a moça foi aplaudida por toda a indústria cinematográfica por ter tido a coragem de fazer a primeira cena de estupro da sétima arte, mas apenas isso não bastaria para dar o Oscar a ela. A atriz mostra uma grande interpretação, para dar vida a Sarah, Jodie construiu uma personalidade complexa para sua personagem, transformando-a em uma pessoa fria e distante, a impressão que passa é que Jodie quer que a platéia não sinta pena de sua personagem, tentando colocar o público dentro da história. Por Jodie Foster o filme vale ser visto, mas quer for assistir Acusados pensando que se trata de uma produção ousada vai se enganar, o filme é tão sentimental como qualquer outra produção de Hollywood.

Nota: 5/10

OBS. A história de Acusados foi inspirada no caso real da jovem americana Cheryl Araujo, que ficou conhecida como uma das primeiras vítimas a ganhar um processo de estupro, como a identidade da vítima ficou sem segredo durante o julgamento, não existe fotos públicas de Cheryl, que faleceu em um acidente de carro em 1986.