Um cinéfilo consegue reconhecer a
melhor atriz de todos os tempos quando a maior qualidade dos filmes em que essa
atriz participa é a própria presença dela nos projetos, presença esta que acaba
superando as outras qualidades das produções que participa. Katharine Hepburn
parece ser o tipo de atriz que melhor se aproxima deste perfil descrito a cima,
a atriz parecia ter o dom de aumentar o nível de qualquer projeto em que se
envolvia. Não que “De Repente, No Último Verão” possa ser considerado um mau
filme, muito pelo contrário, trata-se de uma produção de altíssimo nível, um típico
produto da época de ouro de Hollywood, excelentemente bem dirigido por Joseph L. Mankiewicz. Apesar de não ser um profundo conhecedor das obras de Tennesee
Williams, tive contado com as obras desta autora apenas pelas adaptações
cinematográficas de suas obras caso de “Um Bonde Chamado Desejo” e “Gata em
Teto de Zinco Quente”, sinto que o roteiro de “De Repente, No Último Verão”
trata-se de uma excelente adaptação da peça de mesmo nome. O diretor consegue
criar toda uma atmosfera de suspense e tensão em seu filme, desde o momento inicial
fica clara as suas intenções. Mankiewicz consegue usar de diversas câmeras para
registrar todas as ações e todos os gestos dos personagens, levando a história
a outro nível do que tinha sido apresentada nos palcos. O roteiro, cheio de
referências intelectuais e filosóficas, consegue ser acompanhado com maestria
pelos atores, que não fogem do ponto em nenhum momento. Katharine Hepburn rouba
a cena desde o primeiro momento, consegue criar uma personalidade complexa e
misteriosa para sua personagem mesmo quando ela apresenta-se aos
telespectadores de maneira sã e controlada. Os outros dois protagonistas,
Elizabeth Taylor e Montgomery Clift, mostram competência e talento, conseguindo
destacarem-se mesmo contracenando com um monstro sagrado. Mercedes McCambridge,
que interpreta a mãe da personagem de Elizabeth Taylor, passou batida das
premiações da época por esta personagem, porém, sua atuação merece ser notada.
Um dos únicos pontos negativos do filme, isto acaba fugindo totalmente do
contexto da direção e da produção, tem a ver com o final do roteiro. Apresentando
um desfecho absurdo, Tennessee Wiliams demonstra uma visão preconceituosa e
xenofóbica em relação aos nativos representados em cena. Mostrando-os como
selvagens e aculturados, a autora tenta mostrar que na verdade, os personagens
brancos e ricos da história sofreram e foram vitimas de seus próprios atos de bondade,
ao tentarem ajudarem estes nativos e receberem em troca violência por parte
deles. Mesmo com esta gafe, o filme não perde seu brilho, principalmente por
causa de Katharine Hepburn, que desde o momento em que aparece em cena
transforma a sua personagem em um retrato psicológico do espírito da própria
Tennessee Williams.
8,0/10
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