Lançado em
2014, o filme “Acima das Nuvens” aparece como um dos melhores lançamentos do
ano. A história tem como personagem principal a atriz Maria Enders (Juliette
Binoche), no dia em que iria participar de uma premiação para homenagear o
diretor que a desvendou para o estrelato, descobre que o sujeito morreu. A
partir daí passa a lidar com o passado de sua vida pessoal e da sua carreira,
no mesmo momento em que é convidada por um jovem diretor para encenar a peça
que a desvendou para o público, só que agora não mais no papel da jovem da
história. Atriz experiente e respeitada no teatro e no cinema europeu, Maria
Enders passa a dividir a cena com uma jovem atriz problemática e rebelde que
trabalha em filmes comerciais norte-americanos. Ao se deparar com a sua
personagem favorita da carreira sendo encenada por uma atriz supostamente “inferior”
ao seu talento, Maria passa a por em dúvida sua própria relevância nas artes
cênicas. O diretor Olivier Assaias não ousa em suas referências, a relação da
atriz com a sua assistente (interpretada por Kristen Stewart) lembra em
diversos momentos Persona de Ingmar Bergman, a competição da atriz madura com a
atriz jovem lembra A Malvada e por fim a metalinguagem do mundo cinematográfico
lembra Crepúsculo dos Deuses. Apesar de usar os mesmos clássicos de sempre, o
diretor consegue criar uma visão nova e moderna sobre o tema tratado. O filme é
inteligente, principalmente por sua ousadia, diversos acontecimentos
demonstrados em cena lembram ações semelhantes às vidas dos próprios atores. A
atriz interpreta por Chloé Moretz lembra a própria Kristen Stewart, atriz
promissora que se viu envolvida em filmes comerciais e escândalos do universo
das celebridades. Maria Enders também tem suas similaridades com Juliette
Binoche, uma atriz respeitada e conceituada que passa a dividir a cena com
atrizes jovens e testando-se nos novos conceitos de atuação. Olivier Assaias
mostra algumas pistas para desvendar sua história, todas elas envolvem uma
crítica ferrenha ao universo das celebridades que passou a colocar em segundo
plano o talento puro e genuíno que era visto até um tempo atrás no cinema. O
filme também pode ser trabalhado sob uma visão do diretor sobre a relação
conflituosa entre o “cinema de arte” europeu com o “cinema comercial” norte
americano.
9.0/10