domingo, 14 de dezembro de 2014

Acima das Nuvens

Lançado em 2014, o filme “Acima das Nuvens” aparece como um dos melhores lançamentos do ano. A história tem como personagem principal a atriz Maria Enders (Juliette Binoche), no dia em que iria participar de uma premiação para homenagear o diretor que a desvendou para o estrelato, descobre que o sujeito morreu. A partir daí passa a lidar com o passado de sua vida pessoal e da sua carreira, no mesmo momento em que é convidada por um jovem diretor para encenar a peça que a desvendou para o público, só que agora não mais no papel da jovem da história. Atriz experiente e respeitada no teatro e no cinema europeu, Maria Enders passa a dividir a cena com uma jovem atriz problemática e rebelde que trabalha em filmes comerciais norte-americanos. Ao se deparar com a sua personagem favorita da carreira sendo encenada por uma atriz supostamente “inferior” ao seu talento, Maria passa a por em dúvida sua própria relevância nas artes cênicas. O diretor Olivier Assaias não ousa em suas referências, a relação da atriz com a sua assistente (interpretada por Kristen Stewart) lembra em diversos momentos Persona de Ingmar Bergman, a competição da atriz madura com a atriz jovem lembra A Malvada e por fim a metalinguagem do mundo cinematográfico lembra Crepúsculo dos Deuses. Apesar de usar os mesmos clássicos de sempre, o diretor consegue criar uma visão nova e moderna sobre o tema tratado. O filme é inteligente, principalmente por sua ousadia, diversos acontecimentos demonstrados em cena lembram ações semelhantes às vidas dos próprios atores. A atriz interpreta por Chloé Moretz lembra a própria Kristen Stewart, atriz promissora que se viu envolvida em filmes comerciais e escândalos do universo das celebridades. Maria Enders também tem suas similaridades com Juliette Binoche, uma atriz respeitada e conceituada que passa a dividir a cena com atrizes jovens e testando-se nos novos conceitos de atuação. Olivier Assaias mostra algumas pistas para desvendar sua história, todas elas envolvem uma crítica ferrenha ao universo das celebridades que passou a colocar em segundo plano o talento puro e genuíno que era visto até um tempo atrás no cinema. O filme também pode ser trabalhado sob uma visão do diretor sobre a relação conflituosa entre o “cinema de arte” europeu com o “cinema comercial” norte americano.
9.0/10




sábado, 13 de dezembro de 2014

Desvendando Maps To The Stars.

Algumas pessoas podem ter dificuldade para entender o novo filme de David Cronenberg, por essa razão vai algumas dicas para ter uma melhor visão sobre o filme...

Uma das personagens principais da produção passa despercebida em diversos momentos da história, essa personagem atende pelo nome de Carrie Fisher. Para quem não conhece a história dessa personagem, ela na verdade está interpretado-se, Carrie Fisher foi  uma atriz que ficou famosa interpretando a Princesa Leia da série Star Wars. Depois de um período de fama, a atriz entrou em decadência e passou a usar algumas substâncias, da mesma forma que a personagem de Julianne Moore. Além dessa "coincidência", outro fator chama a atenção na história, Havanna (interpretada por Julianne Moore) era filha de uma atriz famosa, da mesma forma que Carrie Fisher também era filha de uma atriz famosa, no caso, da diva Debbie Reynolds.


Carrie tinha uma relação turbulenta com a mãe, da mesma forma que a personagem de Julianne Moore. Depois que viu sua carreira entrar em decadência, retornou contato com Debbie, o que acabou inspirando-a à escrever um livro chamado Postcards To The Edge. O livro fez tanto sucesso que acabou rendendo uma adaptação cinematográfica em 1990 com Meryl Streep interpretando uma atriz decadente e dependente química (assim como a própria Carrie e como a personagem de Julianne Moore em Maps To The Stars) que retorna a ter contato com a mãe que nunca se deu bem.

A partir disso, Carrie acabou tornando-se uma roteirista importante. A escolha de David Cronenberg por sua história não foi mero acaso, alguns momentos de Maps To The Stars apontam que o diretor trabalha seu filme sobre uma visão surrealista sobre a história da própria Carrie Fisher. Em alguns diálogos entre os personagens fica clara esta intenção, principalmente quando eles se referem ao nome de Carrie Fisher, como na cena onde Havanna encontra-a em um restaurante e Carrie à incentiva a lutar pelo papel que foi de sua mãe.

Em Maps To The Stars Carrie Fisher está tentando escrever um livro contando a história de uma garota queimada, a personagem de Mia Wasikowska tem diversas queimaduras causadas por um incêndio. Carrie Fisher indica a personagem de Mia para o cargo de assistente da personagem de Julianne Moore, mas por qual razão ela indicaria uma garota com características tão próximas a da personagem de seu livro para trabalhar para uma mulher com características tão próximas às suas? Fica subentendido que os personagens do filme de David Cronenberg na verdade são frutos da mente de Carrie Fisher e que tudo gira em torno de sua história. A atriz tornou-se uma das maiores representações dos problemas que a indústria do cinema podem causar na vida de alguma pessoa, o filme de Cronenberg em todos os momentos demonstra críticas a este mesmo universo. A metalinguagem fica clara pois a vida de Carrie Fisher foi representada em livros e no cinema, tornando-se um personagem também na vida real. Seria a personagem de Mia Wasikowska uma revolta de Carrie Fisher ao universo do cinema? uma forma dela "matar" definitivamente seus complexos de inferioridade por ter sido filha de uma grande estrela? Se esta teoria for verdadeira, Maps To The Stars trata-se de um grande filme.


sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Garota Exemplar










O filme “Garota Exemplar” tem diversas características do cinema moderno. A produção é adaptada de um livro best seller, uma parte de sua história centra-se em um condomínio de luxo (assim como Beleza Americana e a série Mad Men) e o casamento dos dois protagonistas é trabalhado sob uma visão infeliz e decadente (assim como em Namorados para Sempre). Mas esqueça de todas essas características, apesar de tudo Garota Exemplar ainda vai te surpreender. O filme, dirigido por David Fincher e produzido por Reese Whiterspoon (que iria interpretar Amy, mas desistiu para fazer “Livre”), é um suspense envolvente e de primeiro nível. A história começa quando o personagem de Ben Affleck (Nick) chega de manhã em sua casa e percebe que sua esposa (Amy) sumiu, deixando rastros de violência pela casa, sendo vítima de um suposto sequestro seguido de morte. A primeira metade do filme centra-se em culpar o marido pelo crime e mostrar a “pseudo vida” sofrida de Amy, até que uma surpresa muda todo o rumo da história, deixando o espectador chocado e vidrado pelas próximas uma hora e meia sem interrupção. Garota Exemplar ás vezes me pareceu um filme que critica o modelo de vida norte americano, ás vezes me pareceu uma critica aos casais modernos, ás vezes me pareceu um filme feminista e ás vezes me pareceu um filme “anti feminista”, uma das razões dele ser tão bom é que ele é isso tudo e um pouco mais. A personagem principal interpreta por Rosamund Pink é com certeza uma das personagens femininas mais icônicas da nova década, impossível esquecer a atuação desenfreada e ousada da atriz. Rosamund poderia vim a vencer todos os prêmios por sua atuação, mas definitivamente, a sua premiação pode atrapalhar a áurea que o filme pode vim a ganhar no futuro, provavelmente daqui a uns vinte anos será tão lembrada quando Geena Rowlands em Uma Mulher Sob Influência. Garota Exemplar é um filme que merece ser visto quantas vezes for necessário, David Fincher deixou de lado seus épicos modernos para se concentrar em um filme com uma história instigante e envolvente, por alguns momentos fez o público lembrar-se do diretor incrível que conquistou o mundo com Clube da Luta e Seven.

9.5/10

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

O Grande Hotel Budapeste


Louvados sejam os santos abençoados que inventaram às inovações tecnológicas que permitiram a realização de um filme como O Grande Hotel Budapeste. Talvez muitos diretores já tiveram a ideia de filmarem seus filmes como repetidas cenas que se assemelhavam a obras de arte, porém, acho que poucos foram tão felizes quanto Wes Anderson nesta produção. Os primeiros trinta minutos de exibição do seu novo filme são de tirar o fôlego, com repetidas cenas deslumbrantes de cenários filmados por uma câmera panorâmica. Tudo é muito bem sincronizado e cada cena remete a alguma obra de arte do período que os quadros representavam o gosto acadêmico e aburguesado do público. Wes Anderson filmou sua história com uma estética tão perfeita que em determinado momento o espectador se pega distraído em relação ao roteiro. Se não fosse pela presença de Tilda Swinton, que aparece em três cenas como a idosa amante do dono do hotel interpretado por Ralph Fiennes, talvez não tivesse percebido que a história se trata sobre ambição, amor e injustiças. Todo o roteiro se gira em torno da personagem de Tilda Swinton, mesmo ela aparecendo por menos de cinco minutos, e ter uma atriz deste quilate como suporte já é algo grandioso em qualquer filme. A partir da morte da personagem o filme ganha vida e charme, se tornando em um típico épico, onde diversos atores de gabarito aparecerão em cena, alguns de forma esquecível e outros de forma brilhante. Ralph Fiennes e Antonhy Quinonez estão ótimos, já Léa Seydoux e Adrien Brody foram tão mal aproveitados, que muitas pessoas terão dificuldade de lembrarem nos créditos que os dois fizeram parte da produção. Na sua segunda metade, O Grande Hotel Budapeste perde muito de sua força, o diretor parece evitar tocar em temas controversos, as ações não chegam a causar grandes emoções e em alguns momentos a história torna-se piegas. Mesmo com alguns defeitos, O Grande Hotel Budapeste pode ser considerado um bom filme, porém, é incerto se irá se tornar no futuro um clássico.
7.0/10

Sincronia em cena:





Tilda Swinton: inesquecível em qualquer momento ou tempo em cena.


Amnésia/Memento









As décadas de 40 e 50 são lembradas pelos filmes dramáticos com personagens femininas, as décadas de 60 e 70 são lembradas por filmes temáticos sobre a revolução sexual e a inovação que permitiu o surgimento de diversos diretores geniais (Martin Scorsese, Steven Spielberg, Coppola...) e a década de 80 pela fantasia. Já a década de 00 daqui a algumas décadas vai ser lembrada por diversos tipos de filmes, entre eles as produções envolvendo a temática da mente humana e da memória. A primeira metade da primeira década do atual milênio foi rico em roteiro instigantes e desconectados da cronologia história, caso do genial Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, o tenso Camisa de Força, o comercial Efeito Borboleta, o bom Donny Darko e até a comédia Como Se Fosse A Primeira Vez. Um dos melhores filmes dessa safra foi Amnésia, de Christopher Nolan, o primeiro filme do diretor. Amnésia foi lançado de forma independente nos cinemas e fez um considerável barulho nos mercados comerciais. Os críticos elogiaram principalmente a forma engenhosa do diretor gravar o seu roteiro, de trás para a frente, já que seu protagonista sofria de perca de memória precoce, o que o impossibilitava de ter certeza sobre acontecimentos ocorridos a poucos horas passadas. Logo de início o espectador se depara com uma cena chocante, o personagem principal interpretado por Guy Pearce mata outro homem com um tiro a “queimar roupa”. A partir daí a história passa a ser contada ao contrário, mostrando quais as razões do protagonista ter cometido tal crime, o espectador, assim como o personagem, se depara com revelações chocantes que irão por em dúvida a veracidade dos fatos mostrados em cena. Em determinado momento não fica claro quem é o “mocinho”, quem são “vilões” e se a causa do personagem principal é verídica. O filme é bom, mas perde alguns pontos com o desfecho final, ao tentar encaixar todas as peças do seu quebra-cabeça, Nolan tira muito da graça do seu filme. Na verdade é meio complicado julgar o diretor por esta falha, seria mais certo dizer que a culpa foi do estúdio que deve ter cobrado um final mais “entendível” e de fácil assimilação para o público.

 7,5/10

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

“Faça a coisa certa” e as várias formas de preconceito.



Uma vez li em uma edição antiga da revista Veja a seguinte notícia relacionada á edição do Oscar de 1990 “a atriz Kim Besinger protestou no palco do Oscar pelo esquecimento do filme negro, do diretor negro e que produz para os negros, Faça a Coisa Certa, de Spike Lee, na categoria principal da noite”. Esta nota carregada de um tom “bem humorado” demonstra a visão distorcida que algumas pessoas tinham em relação ao filme em questão. Faça a Coisa Certa não é um filme “sobre negros”, tacha-lo dessa forma só diminuía a dimensão de sua importância. O filme de Spike Lee é uma real e chocante encenação que retrata as várias formas que o preconceito pode ser visto. Nenhuma minoria escapa da visão do diretor, todos os personagens são inseridos em causas e efeitos que geram o caos generalizado visto em cena. Um excelente filme sobre a sociedade contemporânea.

10/10